RODRIGO SANTANA
Editoria de cidades
O corte de 5.613 bolsas de pós-graduação no País, anunciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vai atingir 16 incentivos no Estado de Roraima. O número foi repassado pelo Capes. No geral, a tesourada nessas bolsas roraimenses ativas vai gerar uma economia para o governo federal de R$ 131,2 mil.
Esse é o 4º maior volume de congelamento dentre os estados do Norte. Além das 16 bolsas roraimenses, os cortes nos estados nortistas atingem 38 incentivos em Rondônia (R$ 207,9 mil), 24 no Amazonas (R$ 165 mil), 20 em Tocantins (R$ 98,5 mil), 89 no Pará (R$ 500 mil), 11 no Acre (R$ 80,6 mil) e seis no Amapá (R$ 46,9 mil).
A Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Geysa Pimentel, disse que os programas de pesquisa deixaram de receber incentivo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) desde o início deste ano.
“Hoje, os pesquisadores e professores da universidade estão tirando do próprio bolso o recurso para dar continuidade às pesquisas. Conhecemos casos em que muitos orientadores compram insumos para os seus orientandos, para que o aluno termine sua dissertação ou sua tese de doutorado”, explicou.
Ela lembrou que, na última semana, a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação recebeu um ofício do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) comunicando que as pesquisas que forem encerradas não poderão ser renovadas.
“Ao acessar o sistema, constatamos que não podemos realizar a substituição para novos projetos de pesquisa. Agora, automaticamente, as bolsas não estão sendo renovadas e, com isso, os projetos deixam de existir”, relatou.
A pró-reitora informou que a universidade possuía 57 bolsas de pesquisa no total e agora possui 41 bolsas. Os investimentos para a aquisição de equipamentos que são utilizados para desenvolver as pesquisas também tiveram uma redução.
“As universidades conseguiram, nos últimos 15 anos, ampliar a aquisição dos equipamentos através de editais da FINEP [Financiadora de Estudos e Projeto]. Agora, sem esses investimentos, os equipamentos que apresentarem algum problema correm o risco de ficar parados, comprometendo as pesquisas”, ressaltou.
Geysa disse que há muitos questionamentos sobre o fato das universidades oferecerem bolsas de pesquisa aos estudantes. Ela lembra que os valores das bolsas repassados aos alunos variam de R$ 1,5 mil para mestrado e R$ 2 mil para doutorado, e são indispensáveis para uma dedicação exclusiva.
“Ficamos sabendo que o ministério de ciências e tecnologia pretende diminuir os valores, mas ainda não recebemos um documento com o percentual de redução. O estudante passa pelo menos oito horas dentro da universidade desenvolvendo seus estudos. Quando ele está em laboratório, passa de 12 a 14 horas acompanhando os experimentos que não podem ser parados”, explicou.
Até hoje, o programa de mestrado da universidade sobrevive com os resultados das pesquisas dos alunos e professores, que passam por avaliação. Mas a tendência é que os projetos voltem a ser pagos pelas pessoas que querem fazer um mestrado, por exemplo.
“A gente vai ter muitos programas que serão fechados, com isso as pessoas terão que procurar as faculdades particulares para se qualificar. Teremos que nos reinventar para ver de que maneira conseguiremos manter o aluno dentro da universidade desenvolvendo sua pesquisa”, concluiu.
Aluno faz um desabafo sobre o prejuízo causado às bolsas
Os estudantes não conseguem mais cadastrar as bolsas nas plataformas (Foto: Diane Sampaio/FolhaBV)
Ignácio Lund é da área de Agronomia e participou da seleção da bolsa de estudos 2019.2, na UFRR, para fazer um doutorado. Mas ele será impedido de dar continuidade aos procedimentos de cadastro devido à não renovação das pós-graduações que serão concluídas por outros alunos.
“Eu me preparei bastante para ser um dos selecionados. Dentro do seletivo, eu fiquei na primeira colocação. O tema que escolhi trata sobre o inibidor de ureia na cultura do milho.”
Lund lembrou que o contingenciamento não afetou apenas estudantes de Roraima, mas do todo o Brasil. Ele afirmou que a medida do Governo Federal pode provocar a perda de muitos programas de pós-graduação.
“Várias áreas foram afetadas, inclusive a de Medicina. O governo deveria mexer em outros recursos, não o da educação superior, como foi feito. Agora, eu terei que ver de que maneira terei que fazer meu doutorado”, relatou.