Representantes de ministérios do Governo Federal, que lidam com a questão da imigração em Roraima, irão se reunir ainda esta semana com a bancada de parlamentares federais do estado, para apresentar uma proposta no sentido de que o processo de interiorização de imigrantes venezuelanos para outras regiões do Brasil seja intensificado. A informação é do deputado federal Hiran Gonçalves (PP). Ele afirmou à Folha que em um primeiro encontro no Palácio do Planalto tiveram a oportunidade de mostrar que o modelo adotado pela Operação Acolhida não é ideal para Roraima. “Apesar de todo o empenho e organização do Exército, essa forma de acolher os imigrantes tem sido uma faca de dois gumes, porque a construção de 11 abrigos aqui no estado estimulou a vinda de mais pessoas para o estado”, ressaltou.
“Nos reunimos com a Casa Civil, Secretaria de Governo, representantes de todos os ministérios envolvidos na Operação Acolhida, além do Ministério da Defesa. Todos ficaram sensibilizados com o que apresentamos. Falamos que fazer os abrigos foi um erro e temos que intensificar a interiorização para outros lugares onde os imigrantes tenham mais condições de conseguir um trabalho, mais perspectivas de vida, porque Roraima não tem condições de atender tanta gente assim”, ressaltou o parlamentar progressista.
O deputado federal esclareceu que a Operação Acolhida já está começando a intensificar a saída de venezuelanos de Roraima para o HUB de Manaus, que é um ponto de conexão para transferir passageiros aos destinos pretendidos. “Lógico que de alguma maneira já está sendo implementando um processo de interiorização o máximo possível via rodoviária para Manaus. Está sendo levado muita gente daqui, de ônibus, mas estamos com dificuldades porque o contrato de fretamento do avião 767 da Força Aérea Brasileira não foi renovado até agora e a FAB está sem avião de grande porte para interiorizar”, afirmou Hiran Gonçalves.
“É preciso fazer uma interiorização maciça desses venezuelanos e desmobilizar os abrigos, que são caríssimos e terminam estimulando a vinda de mais imigrantes para o estado. O imigrante entra aqui em Roraima, é tratado como deve ser, com cuidado, com oportunidade de fazer vacinação, cartão do SUS, mas que se faça os abrigos fora do estado”, ressaltou o parlamentar. Segundo ele, já foram gastos quase R$ 500 milhões. “E o que é pior é que cerca de 80 a 90% desses recursos foram gastos fora de Roraima, com compra de insumos, alimentos, com treinamento, combustível. Eu digo isso porque fui relator dessa matéria na Comissão de Indústria e Orçamento, então tenho toda uma planilha de gastos”, comentou Hiran Gonçalves.
Ele afirmou ainda que o orçamento de quase R$ 500 milhões repassados à Operação Acolhida foi dividido em duas etapas. A primeira aconteceu no ano passado e para este ano a União autorizou mais R$ 223 milhões, quando cerca de 70% já foram gastos, o que representa quase R$ 177 milhões. “Nós acolhemos os imigrantes, o governo mandou o dinheiro, a gente gastou esse dinheiro e o estado ficou só com o ônus. Qual foi o ônus? Violência, aumento da demanda na saúde, na educação, degradação social e o mais grave é que nossa economia, que é basicamente de serviços, está quase toda ocupada pelos imigrantes. As domésticas são venezuelanas, se você andar nos restaurantes, trabalhadores da construção civil, nos supermercados e postos de gasolina são todos venezuelanos, que tiram esse dinheiro flutuante daqui e enviam para a Venezuela. Nós estamos sendo penalizados de todas as formas”, comentou.
CASA CIVIL – A Casa Civil informou que o que está sendo desenvolvido é a construção de uma unidade em Manaus que aumentará a capacidade de execução, pelo Governo Federal e pelos demais agentes envolvidos, do processo de interiorização de venezuelanos (pois o acesso a outros estados a partir de Manaus é mais fácil que a partir de Boa Vista). “Adicionalmente à estratégia do HUB, há o acordo com a Confederação Nacional dos Municípios e com companhias aéreas para permitir tal ampliação de interiorização em todas as pontas do processo”, diz a nota enviada à redação da Folha.