Um programa de interiorização de imigrantes vem fazendo um trabalho silencioso e sem grandes alardes em Boa Vista, mas com grande alcance social: o ‘Brasil do Bem’ já ajudou mais de cinco mil imigrantes que viviam nas ruas de Boa Vista, os enviando para vários estados do Brasil, sendo a maioria para as regiões Sul e Sudeste.
A Folha falou com o idealizador do programa, Carlos Wizard Martins, que é empresário e escritor. Ele citou que chegou há um ano em Roraima e desde então tem participado do processo de interiorização.
“Neste período, mais de cinco mil pessoas já passaram pelo programa ‘Brasil do Bem’ que conduzo com minha esposa Vânia Martins, e fazemos isso através das igrejas, independe da denominação, e a maioria foi para as regiões Sul e Sudeste, onde existe mais possibilidade de empregos. Todos são acolhidos pelas igrejas e ganham a oportunidade de recomeçar uma vida nova”, afirmou.
Ele disse que o objetivo desse tipo de interiorização é tirar o imigrante da condição de dependência para a independência.
“Aqui (em Roraima) o imigrante fica dependente do Estado, da Operação Acolhida, das agências de apoio ao imigrante, ao passo que quando ele é acolhido em uma cidade pelo nosso programa exista possibilidade de trabalho e geração de renda. Ele passa a ser autônomo. Ou seja, esse programa não é assistencialista, mas uma forma de recomeçar de vida”, disse. “Por outro lado, a cada imigrante interiorizado, estamos ajudando o Estado de Roraima que desafoga as escolas, as unidades de saúde e a segurança” afirmou.
Para esse processo de interiorização, Wizard disse que desde o ano passado firmou parceria com as companhias áreas Azul, Gol e Latam, que disponibilizaram passagens gratuitas aos imigrantes.
“Estas cinco mil pessoas que interiorizamos foi a custo zero de transporte. A Operação Acolhida tem seus meios e recursos para o transporte e já interiorizaram mais de 12 mil pessoas”, disse.
Ele explicou que como os voos diários saindo de Boa Vista são apenas três, em alguns casos transportam os imigrantes de ônibus até Manaus-AM, que tem 30 voos diários, e de lá embarcam para seus destinos.
“Nosso sonho é esvaziar os abrigos de Roraima e oferecer oportunidades a estas pessoas de recomeçar a vida”, afirmou.
PARCERIA – Uma nova parceria com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, surge para aumentar o número de famílias interiorizadas. Sobre essa parceria, Carlos Wizard disse que a iniciativa partiu do deputado federal Haroldo Cathedral, que levou o assunto ao presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Silas Câmara, e juntos foram a até a ministra Damares Alves, que abraçou a causa do acolhimento das famílias venezuelanas.
“Foi produzido um documento que dá amparo legal às igrejas e na semana passada houve um encontro em Brasília, com os dez principais líderes religiosos do Brasil, entre eles da igreja Católica, Batista, Adventista, Assembleia de Deus, Quadrangular e a Universal do Reino de Deus”, afirmou.
Entre os principais critérios para participar da interiorização, Carlos Wizard informou que foram priorizadas às famílias. “Entendemos que a união familiar é importante na interiorização, pelo vínculo familiar, por ter mais maturidade e responsabilidade e chance de dar certo”, disse. (R.R)
Ministério articula com organizações religiosas para acelerar interiorização
Ministra Damares Alves disse que vai apoiar o programa das igrejas para ajudar crianças (Foto: Arquivo Folha)
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, anunciou, durante sua visita a Roraima, que vai intensificar o apoio de instituições religiosas na interiorização dos refugiados. Ela visitou as instalações da Operação Acolhida e abrigos destinados aos imigrantes na região, que há dois anos vive calamidade humanitária com o aumento do fluxo de pessoas que fogem da crise econômica no país vizinho.
A ministra conversou com membros de organizações nacionais e internacionais que atuam na área e aprovou o atendimento humanizado. Ouviu, também, alguns dos refugiados que haviam acabado de cruzar a fronteira, todos elogiosos à acolhida dos brasileiros.
“É um trabalho maravilhoso. Mas Roraima sozinho não vai conseguir absorver tantas demandas sociais que se iniciam com tamanho fluxo de pessoas para cá. Nem o governo federal. Por isso, convoquei as instituições religiosas do país. Para que recebam, acolham e encontrem trabalho para essas pessoas em outros estados. Precisamos desse apoio da sociedade civil e é nisso que estamos trabalhando”, afirmou.
Damares Alves explicou que havia um entrave jurídico a essa medida, pois as organizações religiosas tinham receio de tornarem-se eternas tutoras dos refugiados, situação que foi resolvida a partir de um acordo entre a Operação Acolhida e membros da sociedade civil.
Ao todo, aproximadamente 12 mil venezuelanos foram transferidos para outros estados. Mas a intenção é acelerar o processo, pois cerca de 600 novos refugiados, em média, cruzam a fronteira todos os dias.
Após a visita institucional, a ministra conheceu o abrigo para órfãos venezuelanos mantido pela Associação Internacional Canarinhos Embaixadores da Paz. O Ministério vai estudar medidas de apoio às instituições que cuidam das crianças e adolescentes visando melhorar a situação daqueles que estão sem qualquer contato com os parentes venezuelanos.
ACORDO – A ministra anunciou que havia feito parceria com o Ministério Público Federal (MPF) para a nova fase de interiorização com as igrejas. À Folha, por e-mail, a assessoria do MPF/RR disse desconhecer qualquer tipo de acordo para interiorização. “Não existe acordo nesta semana sobre interiorização com o MPF/RR”, afirmou.
GOVERNO – Já o Governo do Estado, por meio da Setrabes (Secretaria de Trabalho e Bem-Estar Social) informou que os diálogos para a formulação da parceria do processo de interiorização estão ocorrendo entre o Governo Federal e as demais instituições envolvidas nesta questão.
A articulação envolvendo o Governo de Roraima será efetivada com a instalação do Gabinete Institucional nos próximos meses. (R.R)