O governo federal está promovendo um programa de desligamento de radares de fiscalização de velocidade nas rodovias federais de todo Brasil sob a justificativa de que há uma “indústria da multa” no país. Em Roraima, segundo informou o coordenador de Engenharia do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes em Roraima (Dnit/RR), Luiz Gustavo, três dos dez radares localizados nos dois sentidos da BR 174 foram desativados e estão em estudos de viabilidade. Estão suspensos os radares instalados nos municípios de Rorainópolis, Caracaraí e Amajarí.
A reportagem quis saber quantos acidentes com mortos e feridos aconteceram nestes locais onde os pardais foram desligados, mas fomos informados que o estudo ainda não foi concluído.
“A suspensão destes radares é devido à mudança proposta pelo presidente Bolsonaro de diminuir o número de radares em rodovias federais. Estamos elaborando estudos sobre o número de acidentes para justificar a necessidade ou não de manter os radares nestes locais”, afirmou.
Ele informou ainda que os outros sete radares não estão em funcionamento por estarem em substituição por novos equipamentos, desde o ano passado. Já foram substituídos dois radares que ficam dentro da reserva Waimiri-Atroari, um no município de Mucajaí, um no Amajarí e quatro em Boa Vista.
A substituição acontece devido à mudança de contrato de empresa e os novos radares são mais modernos, com internet, que transfere dados direto para o sistema de processamento do Dnit, onde é feita uma triagem para emissão de multas.
“A empresa ainda não recebeu autorização para colocar os radares em funcionamento, só depois que instalar todos os radares, passar pela aferição, entregar o laudo de aferição e sinalizar a via corretamente, com placas refletivas para ter boa visualização à noite, assim como os tachões refletivos na via”, afirmou.
PRF – O programa suspendeu, ainda no mês de agosto, o uso de radares portáteis pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). A Folha manteve contato com o superintendente da PRF em Roraima, Jandir Lubenov, para saber se os acidentes nas rodovias federais aumentaram no Estado neste período em que os radares móveis foram proibidos nas rodovias, os três radares do Dnit foram desativados e os outros sete radares estão sem funcionar.
Por telefone, Lubnov disse que só poderia dar informações que envolvessem as normas sobre o uso de radares com permissão da superintendência de Brasília. A reportagem enviou e-mail solicitando a permissão e os números de acidentes nas rodovias federais no Estado, mas até o fechamento desta edição não houve retorno. (R.R)
Perito diz que diminuição de radares é preocupante
Sem radares, aumenta a possibilidade de ocorrências de acidentes (Foto: Arquivo Folha)
À Folha, o perito em segurança de trânsito, Vilmar Florêncio, disse estar preocupado com essa medida e que é contra a retirada de radares fixos, lombadas eletrônicas e até o uso de radares móveis das estradas federais de todo o país.
“Vejo a retirada e diminuição destes dispositivos de fiscalização eletrônica nas estradas com muita preocupação”, disse. “A velocidade é um fator preponderante para ocorrência de acidentes gravíssimos nas estradas de Roraima e de todo Brasil”, afirmou.
Florêncio disse ainda que defende a realização de estudos que possam identificar os locais em que as ocorrências de acidentes sejam maiores, para a colocação dos equipamentos.
“Tem que haver estudos que justifiquem a instalação destes equipamentos, mas os radares não deveriam ser retirados antes de concluído os estudos”, disse.
Como especialista de segurança no trânsito, Florêncio ressalta ainda a viabilidade do uso dos radares móveis nas rodovias.
“É outro erro impedir o uso de radares móveis. O condutor sabe onde está o dispositivo fixo e, ao se aproximar do local, reduz a velocidade e logo após ele desenvolve velocidade maior para tentar recuperar o que, para ele, foi tempo perdido, e acaba burlando ainda mais a velocidade”, afirmou.
Para Florêncio, sem o ouso de radar móvel, o condutor tem a sensação de impunidade.
“Com o radar móvel, o condutor tem a sensação de ser fiscalizado a qualquer momento e de forma aleatória, e ao tirar este tipo fiscalização da via vai causar uma sensação de impunidade”, disse.
Florêncio disse que, por experiência de trabalho, tem verificado que os condutores brasileiros ainda não estão educados para respeitar a legislação de trânsito sem que haja a punição por meio de multas.
“Não concordo com essa ideia de indústria da multa. Se não for assim, o condutor não vai respeitar a legislação e isso vai acabar causando mais acidentes de trânsito e mais gastos com acidentados em hospitais. Se há indústria das multas, a população deve entender que se trata da má gestão de emprego dos recursos que são arrecadados e pode acabar com essa indústria. Basta que os condutores e veículos parem de cometer infração de trânsito. O que acontece é que criaram uma cultura de cometer infração, serem punidas e querer se defender com a indústria das multas. Tem que haver é mais conscientização e não cometer infrações de trânsito”, afirmou. (R.R)