No dicionário português, a palavra alemã wanderlust significa “vontade de viajar”. E foi uma vontade inadiável de ganhar o mundo que tomou conta do casal Maria e Adriano Venâncio, em abril do ano passado, quando decidiram largar o emprego fixo e pegar a estrada usando o termo gringo de sobrenome.
Da cidade de Boa Vista, em Roraima, eles partiram numa Kombi 2007, adaptada para dormir e preparar o pão de mel que financia a trajetória da dupla pelo Brasil.
Pernambuco foi o décimo, entre os 26 estados, mais Distrito Federal, percorridos nessa rota. Eles estiveram por aqui no mês passado, quando a reportagem da Folha encontrou o veículo estacionado em um ponto movimentado do município de Petrolândia, a 450 km do Recife.
Do lado de fora, uma kombi comum pintada de roxo e branco, com o nome Wanderlust adesivado. Por dentro, acomoda fogão, pia, instalação elétrica completa e sofá-cama. Tudo o que eles precisam para descansar à noite e preparar a receita, fornecida por um amigo também viajante, durante o dia.
“O pão de mel leva açúcar demerara orgânico, cacau em pó 100%, mel de abelha, aveia, cravo e canela”, resume Maria Venâncio, destacando o uso prioritário dos produtos naturais.
O resultado é um bolo fofinho e perfumado, vendido por R$ 4 ou R$ 5, de acordo com o tamanho. Quando o interesse do público aumenta, eles aceitam encomenda para bolo de banana sem açúcar, montado como um cupcake. Diferente de qualquer confeitaria convencional, aberta para receber o público, eles vão atrás do cliente batendo na porta literalmente. A prioridade são os lojistas do ramo.
“Quando trabalhávamos de maneira convencional, fazíamos nossas viagens esporádicas nos finais de semana, mas era muito limitado. Hoje, vivendo de Kombi na estrada, a possibilidade de conhecer pessoas e ter experiências é muito maior do que como turista. O dinheiro inicial foi contado. Agora, contamos com fé, determinação e trabalho”, diz ela, enquanto organiza detalhes do transporte. Ao mesmo tempo, Adriano embala o pão de mel que fica enfileirado em um tabuleiro de plástico.
O percurso é cansativo, “mas enriquecedor para ambos”, confessam. Nas redes sociais, eles compartilham desafios, como saudade da família e a tarefa de lavar roupa suja. Mas driblam qualquer perrengue com o apoio das pessoas.
Em Pernambuco, entraram pelo município de Goiana e seguiram via Igarassu, Ilha de Itamaracá e Itapissuma até descerem rumo ao Litoral Sul. O que seriam apenas três dias em Tamandaré, terminou sendo 28. Em Porto de Galinhas, ficaram 15 dias até seguirem por Escada, Bezerros, Brejo da Madre de Deus e municípios do Sertão. Em resumo, Pernambuco foi o território onde mais demoraram. Até o fechamento desta reportagem, Maria e Adriano marcavam check-in no 11º Estado da lista: Alagoas.
*Com informações Folha de Pernambuco