Cotidiano

Seca em RR é a mais severa desde 1998

Previsão é de inverno com poucas chuvas, o que deve agravar ainda mais a situação dos municípios atingidos pela seca

O quadro crítico em que vários municípios de Roraima enfrentam devido à forte estiagem já é comparado por autoridades e especialistas como a maior seca da história do Estado, que aconteceu no ano de 1998 e ganhou repercussão nacional com a situação caótica de queimadas descontroladas e falta de água em inúmeras localidades.
Para o professor de Geologia da UFRR (Universidade Federal de Roraima), Vladimir de Souza, a seca este ano é muito mais severa que a daquela época. “Em 1998, enfrentamos um período bem triste quando, infelizmente, ganhamos notoriedade com a maior queimada do século, que destruiu boa parte da área de lavrado. Entretanto, a grave situação enfrentada pelos municípios em estado de emergência torna a seca deste ano mais rigorosa”, destacou.
Segundo ele, a perspectiva de poucas chuvas para o inverno é o diferencial entre os dois períodos. “Em 1998 choveu bastante na mesma época do ano em que estamos hoje, mas esse ano não vai chover, não há perspectivas de chuvas fortes para agora, talvez só para o meio do ano. Além disso, naquela época, apesar de a seca ter sido forte, o inverno também foi, o que difere da atual realidade”, explicou.
Conforme o especialista, a falta de cuidados com os mananciais de Roraima pode fazer com que o Estado passe por um período de racionamento, caso a previsão de poucas chuvas no inverno se concretize. “A estiagem é muito forte e não tivemos os cuidados necessários com os mananciais. Por isso, vemos os igarapés que não secavam, secando, assim como os rios e lagos. Então, a canalização, principalmente dos igarapés, como aconteceu em São Paulo, faz com que os rios acabem secando e o risco de racionamento aumente”.
Como consequência, em uma análise feita pelo professor, ao percorrer alguns municípios em situação de emergência, o fato de toda a bacia hidrográfica das localidades terem sido atingidas pela estiagem tornou a fauna e a flora da região mais vulneráveis. “Muitas plantas secaram e falta alimento para a fauna. Os rios praticamente secos, com volumes de fluxos muito baixos, formaram poções, o que matou muitos peixes. Além disso, as árvores que ficam na beira dos rios estão ressecadas, deixando a produção de frutas prejudicadas”, frisou.
O especialista disse que a falta d’água em alguns municípios, que estão sendo abastecidos com caminhões-pipa, torna o quadro ainda mais desolador. “Tem muita gente que está passando sede, pois a água não está mais chegando nesses lugares. Com os pastos secos, até os animais estão morrendo sem comida. É um quadro bem desolador, a seca é realmente muito severa”, lamentou.
NÚMEROS – Com oito dos 15 municípios de Roraima em situação de emergência devido à forte estiagem, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil estima um custo da operação de resposta em torno de R$7,5 milhões. Somente para os municípios de Bonfim, Cantá, Caracaraí e Normandia, que decretaram situação de emergência na semana passada, foram destinados R$ 3,5 milhões. Para os municípios de Alto Alegre, Amajari, Mucajaí e Iracema, que também já tiveram os seus pedidos de situação de emergência reconhecidos, foram destinados R$ 4 milhões. (L.G.C)