O câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres, depois do câncer de pele não melanoma. Os tumores nas mamas são cerca de 28% de todos os novos diagnósticos nesse público. Apesar da doença apresentar incidência progressiva a partir dos 35 anos e o principal grupo de risco ter mais de 50, existe uma predisposição genética que faz com que tumores se desenvolvam em pessoas ainda mais jovens: a mutação BRCA, que é responsável por cerca de 10% do total de casos da neoplasia.
“Falar sobre a predisposição genética durante uma época que todos os olhares estão no câncer de mama, como o outubro rosa, é fundamental. É importante que as mulheres, mesmo que novas, fiquem atentas, principalmente aquelas que descendem de pessoas que têm ou tiveram a doença”, comenta o dr. Felipe Ades, oncologista do Hospital Oswaldo Cruz.
Pesquisa realizada pelo Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), mostrou que aproximadamente 17% das mulheres jovens diagnosticadas herdaram a característica. Segundo a especialista, é necessário que o assunto seja disseminado para que mais pessoas conheçam a possibilidade do teste genético. “O exame que verifica a predisposição não é invasivo, podendo ser feito por sangue ou urina. O ideal seria toda pessoa que tem casos de câncer de mama, ovário ou pâncreas na família consultasse um oncologista ou oncogeneticista para avaliar o risco de ser uma doença de caráter genético”, completa.
Em um organismo saudável, esses genes são responsáveis pela proteção contra o desenvolvimento de cânceres. Mas, ao sofrer a mutação, perde essa capacidade, tornando-se mais suscetíveis à manifestação de tumores malignos, como câncer de mama, ovário, próstata e até mesmo câncer de pâncreas.
Por isso, é importante que a paciente esteja, realmente, atenta aos riscos, uma vez que cerca de 55% a 65% das mulheres com a mutação no BRCA1 e 45% das mulheres com a mutação no BRCA2 desenvolverão a doença até os 70 anos de idade. Nas mulheres com menos de 40 anos e mutação no BRCA1, é comum a associação a um câncer triplo negativo (receptores de estrógeno e progesterona negativos e baixa expressão da proteína HER2), o que indica, em princípio, pior prognóstico5.
“O aconselhamento genético, com certeza, é um grande aliado para identificar as mutações BRCA e traçar a melhor estratégia de prevenção e tratamento destes tumores. Contudo, não é a realidade de muitos brasileiros, por isso, indicamos que aquelas que têm casos de câncer na família notifiquem seus médicos da necessidade de avaliar a possibilidade de ser uma doença hereditária e fazer testes genéticos”, finaliza o especialista.
Mutação BRCA
A mutação nos genes BRCA ganhou a atenção do mundo todo quando a atriz Angelina Jolie anunciou que era portadora da mutação genética, e retirou suas mamas e ovários de forma preventiva, em 2013. “Ambos os sexos possuem a possibilidade de ter mutações nos genes BRCA1 e 2, o que aumenta significativamente a incidência para o desenvolvimento de tumores na mama e ovário, e discretamente para câncer de pâncreas e próstata. Nós temos que estabelecer um contato próximo entre médico e paciente, para o quanto antes, para traçar a melhor estratégia de prevenção e diagnóstico precoce” explica Felipe.