ANA GABRIELA GOMES
Editoria de Cidade
Filipe Gustavo, de 20 anos, é acadêmico do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR) desde o início de 2019, quando foi aprovado por meio do sistema de cotas. Atualmente, Filipe faz parte dos 71,89% de estudantes negros e pardos matriculados na UFRR.
“A gente já vive em uma sociedade onde a igualdade não existe na prática, só na teoria. Pra mim, eles agora percebem a questão da equidade, de haver de fato um equilíbrio e não ter só brancos ocupando os espaços. Na minha turma, que tem pouco mais de 30 alunos, metade das pessoas são negras e/ou indígenas. Eu, enquanto negro, analiso a nossa presença nos ambientes em que eu estou e percebo a importância de valorizar as oportunidades de forma igual, de se ocupar os lugares”, avaliou.
Dados da Pró-Reitoria de Ensino e Graduação (Proeg) da UFRR mostram uma evolução no número de estudantes negros e pardos na instituição. Em 2017, o índice foi de 68,19%. No ano seguinte, 70,33%. Em 2019 já são 71,89% matriculados. Entre os cursos que mais registram estudantes negros, os registros apontam Engenharia Civil, Agronomia e Medicina. Na Universidade Estadual de Roraima (UERR), no entanto, houve uma redução do público em específico entre 2017 e 2018. Dados de 2019 não foram informados.
Conforme nota enviada pela assessoria de comunicação da UERR, dos 2.166 alunos matriculados em 2017, 160 eram negros e 1.256 eram pardos. Em 2018, os números caíram para 141 e 1.162, respectivamente. Não há, contudo, uma explicação para a queda dos números. “Acho que as cotas vêm para dar o equilíbrio que não existe, mas que as pessoas insistem em acreditar quando falam que cota é esmola”, pontuou Filipe.
No Brasil, a proporção de alunos negros e pardos matriculados em universidades públicas foi de 50,3% em 2018. Apesar desta parcela da população representar 55,8% dos brasileiros, o índice é histórico.
É a primeira vez que negros e pardos ultrapassam a metade das matrículas em universidades e faculdades públicas. Os dados foram divulgados na última semana no informativo ‘Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil’, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Filipe, a porcentagem reflete a valorização que os negros estão recebendo devido às cotas.
OUTROS DADOS – A pesquisa mostra ainda que a proporção de jovens de 18 a 24 anos, pretos ou pardos, no ensino superior, passou de 50,5% em 2016 para 55,6% em 2018. Entre os brancos, a proporção é de 78,8%. Na mesma faixa etária, o número de pretos e pardos com menos de 11 anos de estudo e que não estavam frequentando a escola caiu de 30,8% em 2016 para 28,8% em 2018, enquanto o indicador para a população branca é de 17,4%.
Na representação política, os pretos e pardos também ficam muito atrás dos brancos, com apenas 24,4% dos deputados federais eleitos em 2018 tendo se declarado negros. Entre os deputados estaduais, o número sobe para 28,9% e, entre os vereadores eleitos em 2016, o índice sobe, com 42,1% tendo se declarado preto ou pardo.