Abordar temas complexos e de difícil aprendizagem, e ainda manter a atenção dos alunos nas salas de aulas, esse tem sido um desafio rotineiro para professores. E, como alternativa para suprir essa lacuna, foi desenvolvido o projeto “Composições musicais para fins didáticos”.
O projeto envolve alunos da unidade de ensino, em especial oriundos de comunidades indígenas, e da Escola Estadual Ovídio Dias no Campus Amajari do Instituto Federal de Roraima.
Como parte do Programa Institucional Bolsa Acadêmica de Extensão (Pbaex) do IFRR, com a participação da aluna bolsista Geiziane Ferreira, e teve como resultado a composição de sete músicas, sendo três paródias e quatro autorais.
As composições abordam assuntos do currículo escolar do estudante, como matemática e biologia, e temas importantes que requerem a atenção da escola e da família, como suicídio, relacionamento afetivo entre jovens e automutilação.
De acordo com o professor e coordenador do projeto, Diego Cruz, inicialmente foram levantados assuntos que os professores consideravam importantes de serem trabalhados e, depois, temas relevantes e/ou difíceis de serem compreendidos pelos alunos. A intenção foi elaborar composições musicais sobre assuntos abordados no currículo escolar para facilitar o aprendizado dos estudantes e servir como ferramenta didática para os professores.
Entre os temas resultantes de um produto final estão o da matemática, com a música “Adivinha por quê”, versando sobre a regra de três simples, e o da biologia, com o “Xote do Reino Plantae”. Há ainda a abordagem de temas existenciais como “Não pare de estudar”, sobre o abandono dos estudos, “Frio cobertor”, sobre suicídio e automutilação, e “Jaz”, sobre saudade.
Conforme Cruz, outra composição é a música “Anedota do IFRR”, espécie de relato do dia a dia de um estudante residente no
Campus
Amajari. E, para fechar as sete composições, tem a música “Bom”, composta integralmente por dois alunos do CAM, que fala sobre relacionamentos afetivos entre os jovens. As letras estão disponíveis
aqui.
O professor lembra que o desenvolvimento das atividades ocorreu durante seis meses, de abril a novembro deste ano, com atividades semanais no campus. O resultado final foi apresentado durante o 8º Fórum de Integração: Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação Tecnológica (Forint), realizado no fim de novembro, no Campus Boa Vista Zona Oeste.
Desenvolver essa ação, para o professor, foi uma forma de contribuir para o processo do ensino-aprendizagem, visto existir uma forte discussão no ambiente escolar, especialmente no ensino médio, sobre a falta de interesse dos alunos nos componentes curriculares abordados na escola.
“Existem várias hipóteses sobre esse desinteresse, sendo uma delas a linguagem abordada pelo professor ou pelo livro didático, que por vezes é muito formal e descontextualizada com a realidade do estudante. Esse é um dos motivos pelos quais cursos preparatórios de pré-vestibular utilizam a música como recurso didático. Daí, pensamos: ‘Por que não utilizar aqui [CAM] também?’ E deu muito certo”, avaliou o docente.
Segundo Cruz, o processo de aprendizagem envolve ler, ouvir, falar e praticar, e o de criação musical, obrigatoriamente, todos eles.
“Para compor uma música sobre um tema de biologia, por exemplo, o aluno precisará primeiramente ler para entender o que ele está falando. Depois, ele assimila e transforma esse seu conhecimento em versos que podem ser poéticos e facilmente compreendidos por outras pessoas. Esse processo por si só já constitui uma excelente ferramenta de aprendizado para o aluno-compositor”, explicou.