Cotidiano

Aumenta fiscalização na fronteira após ataque à base militar na Venezuela

Foram solicitados reforços para evitar que os fuzis roubados entrem no Brasil por Pacaraima, segundo o secretário Estadual de Segurança Pública, Olivan Junior 

Por Vanessa Fernandes e Cyneida Correia

Editoria de Cidades

A fiscalização de veículos e de pessoas aumentou em Pacaraima, município de Roraima que faz fronteira com a Venezuela, após uma unidade militar venezuelana ter sido atacada neste domingo (22/12) na fronteira. 

Policiais militares e civis estão nas ruas da cidade vistoriando carros e pessoas após os militares venezuelanos informaram que os rebeldes teriam feito uma base na cidade fronteiriça e estariam tentando passar as armas pelo Brasil. 

Ricardo Delgado, ex-prefeito de Gran Sabana, disse que os oficiais tomaram o comandante do batalhão como refém, roubaram armas e depois fugiram para a fronteira. Os rebeldes teriam roubaram rifles e munições, além de armas e granadas. Ao longo do caminho, o grupo encontrou um posto de controle militar, onde um confronto se originou, e teria fugido para as trilhas clandestinas existentes na fronteira tentando entrar no Brasil. 

Segundo um comunicado a que a Folha teve acesso, teria acontecido um enfrentamento nessas trilhas onde foi preso Darwin Malaguera Ruiz, ex-membro da Guarda Nacional Bolivariana, que teria ficado ferido, além de um soldado morto. Os militares venezuelanos teriam recuperado 82 fuzis Ak103, 60 granadas e seis caixas de munição 7,76, o que seria apenas a metade do armamento roubado.

“Houve uma reunião entre a inteligência do Exército Brasileiro em Roraima e os militares do Forte Escamoto onde foi confirmado o levante, porém eles não têm ainda relação do total de armamentos roubados. Sabe-se que há fuzis ak47, RPG, Carl Gustav, mas não sabem tudo o que foi levado. Os militares não confirmaram envolvimento de indígenas Pemón e solicitaram apoio do Exército Brasileiro para patrulhar as áreas da fronteira e recuperar os armamentos”, informou a fonte do alto escalão da Segurança Pública em Roraima que não quis ser identificada com receio de represálias.

A Assessoria de Comunicação do Exército confirmou que a situação está sendo acompanhada na fronteira, mas que até o momento não há nenhuma evidência que corrobore a informação de que os participantes do ataque estiveram em Pacaraima. “Apesar do ataque na Venezuela, as medidas do Exército na fronteira continuam as mesmas. Não houve influência até momento no cotidiano da fronteira”, disse a assessoria.

Conforme o Tenente Coronel Everton Gimenes, o procedimento do exército continua o mesmo. “Não conseguimos nenhuma evidência que comprove isso como realidade. Pra nós não há diferença nenhuma. O nosso patrulhamento lá já é eficaz. É registrado todo mundo que entra. Um procedimento normal, já de muito tempo. Não tem nenhuma evidência que nos leve a acreditar que essa situação venha para o Brasil. Pelo menos aqui, que tenhamos conhecimento, não há nenhuma evidência que isso seja real”, pontuou.

O Capitão Igo Maiko, da Polícia Militar de Pacaraima, explicou que eles não podem confirmar que os rebeldes tenham se organizado do lado brasileiro. “Muitas coisas que acontecem na Venezuela, a gente não consegue acompanhar, só o que aconteceu no lado do Brasil. Nos dias que antecederam esse ataque, nenhuma anormalidade ocorreu dentro do município de Pacaraima em relação a movimentação de traficantes ou movimentação criminosa. Para os venezuelanos é mais fácil jogarem essa responsabilidade do que aconteceu do lado deles pro Brasil. O que eu posso ter certeza, é que não teve nenhuma movimentação estranha anterior a esse fato que ocorreu.

O Hotel Funchal é no centro de Pacaraima, mas agora eu não sei como eles sabiam dessas informações, que os rebeldes estavam aqui e não compartilharam essas informações com a gente. Deixaram acontecer essa fatalidade no país vizinho e ficaram assistindo, sem dividir a informação conosco. De qualquer forma, a gente aumentou a nossa capacidade de abordagem. Nós temos feito abordagens mais específicas. Antes a gente estava fazendo abordagens aqui em Pacaraima com o objetivo de encontrar foragidos, criminosos, faca e arma. Agora a gente acaba tendo que fazer uma diversificação no nosso policiamento, procurando veículos e armamento em mochilas. Quer queira, quer não, a gente tem que fazer o policiamento porque foi aqui do lado. São 16 quilômetros de distância. É muito mais fácil essas armas virem pro lado de cá. Mas a polícia militar está empenhada para não deixar esse armamento entrar no nosso país”, concluiu. 

A Polícia Federal em Roraima também foi procurada, mas não quis se manifestar sobre o assunto, pedindo que fosse feito contato com Brasília. A Polícia Civil também não se manifestou informando que a “situação envolve a segurança nacional, que foge da sua atribuição”.

Foram solicitados reforços para evitar que os fuzis entrem no Brasil por Pacaraima, segundo o secretário Estadual de Segurança Pública, Olivan Junior. “Tanto o Exército quanto a Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal receberam, através do canal de comunicação de inteligência, os relatos, e cabe a cada órgão que tem relação com a segurança de fronteira reagir nesse sentido. No nosso lado daqui, estamos tomando as medidas necessárias para que isso não aconteça, mas a gente sabe que a nossa fronteira é aberta. Eles não cruzam só pelo lado oficial, mas por todos os pontos”, finalizou.