AYAN ARIEL
Editoria de Cidades
Projeto substituto do antigo Crédito do Povo, extinto no dia 13 de setembro por meio de decreto publicado no Diário Oficial (DOERR), o programa Renda Cidadã ainda está em fase de elaboração e deve ser enviado para a Assembleia Legislativa de Roraima (Alerr) após aprovação do governador Antonio Denarium (PSL) ainda nos primeiros meses de atividade da casa, atrelado a um pacote de medidas que contemplam a área social.
Esse pacote de medidas garante o pagamento de R$ 180 da Renda Cidadã para o beneficiário, segundo o governo de Roraima.
A secretária do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), Tânia Soares, explicou que a decisão de substituir o programa ocorreu antes por meio de decreto e não por decreto de lei, como será feito agora. Essa situação comprometia no mínimo 50% do orçamento da pasta e inviabilizava outras atividades realizadas.
Outro fator apontado pela titular para o encerramento do programa, foram as supostas irregularidades que teriam sido detectadas com o Crédito do Povo. “Por exemplo, havia beneficiados que também era atendido por outros programas, como o Bolsa Família, o BPC (Benefício de Prestação Continuada), Seguro Defesa, entre outros. A gente identificou mais de 12 mil beneficiários nessa situação”, pontuou.
A Renda Cidadã segue a mesma lógica de distribuição de renda do antigo projeto, destinado a melhoria da alimentação das famílias beneficiadas e terá capacitações e monitoramento. “Isso é necessário para que o programa se cumpra da forma a que foi criado”, acrescentou.
Para que o projeto de lei sobre a Política de Segurança Alimentar e Nutricional seja formulado, um grupo de trabalho, composto pelas secretarias de Saúde (Sesau), Educação e Desporto (Seed), Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e pela própria Setrabes, foi criado, com o intuito de detalhar os pontos mais essenciais do texto, para que ele seja aprovado.
“A partir daí, se constrói o documento orientador do programa Renda Cidadã, com todos os critérios e a forma como ele será implantado, quais serão as atividades realizadas, qual o percentual de pessoas que serão beneficiadas, qual será o sistema de monitoramento, como será mensurada a efetividade do programa, qual atividade é de responsabilidade de determinada secretaria”, declarou Tânia.
A secretária afirmou que o programa busca fazer uma transferência de renda temporária ao usuário, ou seja, um benefício transitório. “Quem receber a Renda Cidadã precisa ter autonomia para poder ter a sua renda própria e uma alimentação de qualidade, de uma forma não-exclusiva pelo programa”, completou.
O programa será destinado a pessoas que estejam em situação de vulnerabilidade pessoal ou social. Essas pessoas ficam aptas à inclusão no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), o que as habilita para projetos na área social. Esse é o critério citado pela titular da Setrabes para o beneficiário ser acompanhado pela Renda Cidadã.
Porém, ao ser questionada sobre um percentual de pessoas que serão beneficiadas, Tânia disse que essa questão ainda estava sendo conversada e provavelmente será definida a partir da disponibilidade orçamentária do Estado. Por fim, ela pontuou que o Estado está trabalhando para que as medidas contidas no projeto de lei onde se inclui o novo programa sejam implantadas ainda no primeiro semestre de 2020, após aprovação na Alerr.
ATRASO – Segundo informações repassadas pela Setrabes em janeiro de 2019, o programa “Crédito do Povo” contava com 34.645 mil beneficiários, com um valor mensal repassado de R$ 120 pelo Governo do Estado, resultando em um custo de R$ 4,1 milhões por mês.
Como o pagamento do benefício ficou atrasado por 12 meses em 2019 e multiplicando o número pelo valor gasto mensalmente com o programa, acredita-se que as parcelas em atraso cheguem à casa dos R$ 49,2 milhões.
AÇÃO POPULAR – A ex-senadora Ângela Portela (PDT), uma das autoras do benefício, entrou com uma ação popular em agosto em desfavor dos agentes públicos. A respectiva ação tramita na 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Boa Vista sob os autos nº 0823329-98.2019.8.23.0010.
O texto alega que os gestores descumpriram, desde o fim de 2018 até o presente momento, a execução das metas estabelecidas na Lei n° 1.027/2016 que dispõe sobre o Plano Plurianual (PPA), alusivo ao quadriênio 2016-2019 e que contempla obrigações constitucionais ao Programa Estadual de Transferência Condicionada de Renda (PTCR), atualmente denominado “Crédito do Povo”.
O programa foi instituído inicialmente em 2002 pelo então governador Flamarion e Ângela Portela, como titular da Setrabes, com o nome de “Vale Alimentação”. A ex-senadora afirma que na época o benefício foi implantado em todos os municípios, vilas e comunidades indígenas do Estado e se manteve em andamento mesmo após a mudança de gestão.
Porém, segundo a ação, o atual governo teria “ignorado as suas obrigações legais” quanto ao repasse do crédito social alusivos aos exercícios de 2018 e 2019, deixando de pagar o benefício há pelo menos oito meses para mais de 34 mil famílias.