Cotidiano

Comércio faz promoção para zerar estoque

Com as vendas fracas este ano, o comércio agora tenta se livrar do produto encalhado e compensar perdas

Diante da crise financeira e da alta do preço dos ovos de chocolate praticado pelo mercado, o produto encalhou nas prateleiras e nos estandes montados nos supermercados da Capital. Cinco dias após o domingo de Páscoa, já é possível perceber a diferença nos valores dos produtos. Os estabelecimentos comerciais oferecem promoções para tentar zerar o estoque e aliviar o faturamento com as vendas fracas.
A maioria dos consumidores justificou como motivo os preços caros para não manter a tradição de comprar chocolate. A estudante Ariana Barbosa afirmou que há alguns anos já não compra ovos de Páscoa. “O preço é alto e preferimos fazer outra coisa para comemorar em família. Algo mais simples. Imagino que não sou a única que pensa assim. Não é à toa que a gente vê tanto ovo ainda à venda”, disse.
O contador Robson Pereira aproveitou a oportunidade para comprar alguns ovos de chocolate para seus filhos. Explicou que os preços dos produtos, já em baixa, tendem a diminuir ainda mais. “Meus filhos fazem um pouco mais de questão por causa dos brindes. Eu pergunto a eles se não podem esperar uns três ou quatro dias, assim posso até chegar em casa com um ovo extra. Tem funcionado”, disse.
Atento ao mercado, ele conseguiu encontrar ovos com 40% de desconto. “Este aqui, no sábado, por exemplo, estava custando R$ 27,00. Hoje, custa R$ 8,00. Então, você percebe que pode economizar muito nesses tempos difíceis”, destacou.
O gerente de supermercado na zona Norte, Humberto Carvalho, relatou que os estabelecimentos reduzem os valores dos ovos de Páscoa de forma gradativa para tentar minimizar as perdas com as poucas vendas. Segundo ele, neste ano as empresas locais fizeram venda combinada com os distribuidores. “Eles [distribuidores] deixam o produto aqui. Não é o caso de todos, mas se não pudermos vendê-los, nós os devolvemos”, afirmou.
A gerente comercial Dila Duarte explicou que as vendas de ovos diminuíram em relação ao ano passado. Por isso, já começaram as promoções desde o começo da semana. “Acredito que a queda se deve ao aumento dos preços, que foi de quase 20% superior ao do ano passado. É realmente alto”, afirmou. Ela apontou ainda que o aumento veio das fábricas. “Os fabricantes alegam ter gastado mais este ano com matéria-prima e insumos”.
Dila lembrou que apesar do aumento, o roraimense agora tem mais opções de compra. Ela acredita que a chegada de shoppings e de lojas especializadas tenha impactado o mercado local. “As lojas grandes de shoppings, em geral, têm um preço mais barato e mais opções”, frisou, acrescentando que o preço oferecido atualmente pelos supermercados de setor são mais maleáveis devido à quantidade de produtos trazidos pelas empresas maiores.
DÓLAR – O economista Dorcílio Erik explicou que sempre quando chega a Páscoa, quando o dólar está mais em conta, o mercado brasileiro tende a importar chocolate de países vizinhos. “Com o dólar elevado, não se pôde fazer isso”, afirmou.
Segundo ele, quando o mercado interno pode importar, acaba obrigando os produtores nacionais a baixar os preços. “Seria mais vantajoso comprar de fora. Como agora não se pode fazer isso, os produtores nacionais elevaram o preço para a quantidade que queriam”, complementou. O reajuste foi para aumentar as margens de lucro das fábricas, que este ano não tiveram a concorrência de produtos estrangeiros. “O tiro saiu pela culatra. Os consumidores não compraram tanto quanto nos anos anteriores. Por isso a sobra de produtos”, destacou.
OPÇÕES – A caixa e a barra de chocolate vendem muito durante todo o ano. Como alternativa na Páscoa, muitos consumidores optaram pelos sortidos, driblando os tradicionais ovos. “Nessa época, as vendas destes produtos atingem até 50% a mais do que a gente vende regularmente”, explicou a gerente Dila Duarte. “Os adultos, em geral, presenteiam-se nessa época com caixas de chocolate. É um fenômeno comum de uns tempos para cá”, observou.
O economista Dorcílio Erik de Souza explica a relação destes produtos substitutos. “O consumidor está mais atento, analisando mais as opções”, disse ao frisar que a produção do ovo e da barra de chocolate, por exemplo, tem preços distintos desde a fabricação, mesmo que tenham o mesmo sabor. “A fábrica contrata outros funcionários. É entendível que haja um aumento no preço, mas essa justificativa já não é aceita pelo consumidor”, observou.
Segundo ele, o consumidor entende que o ovo de Páscoa é mais caro que a barra e tende a optar pela economia. “O consumidor encontrou uma maneira de esquivar-se dos preços altos nessa época. A barra e a caixa de sortidos são apenas outras versões do chocolate”. (JPP)