As venezuelanas indígenas warao Marcelina e Hermínia, abrigadas em Roraima, fizeram sua primeira viagem de avião e chegaram a São Paulo, onde expuseram o artesanato que produzem a partir da palha do buriti.
“Nunca imaginei que estaria em São Paulo, mostrando nossa arte e cultura. Estamos muito felizes de estar aqui”, disse Hermínia, durante a abertura da exposição “Odiju – Árvore da Vida Warao”, no museu A CASA do Objeto Brasileiro.
Matéria-prima para produção de moradia, alimentos, medicamentos e madeira para as canoas, o buriti é transformado em arte pelas mãos de artesãs warao que saíram da Venezuela e vivem atualmente nos abrigos Janokoida e Pintolândia, em Roraima.
A exposição, que ficou em cartaz até 20 de dezembro, faz parte do projeto de artesanato realizado pelas mulheres do grupo Nona Anonamo, composto por indígenas warao refugiadas no Brasil e abrigadas em Roraima. Além de estabelecer uma cadeia de valor justa para as artesãs, o projeto busca abrir mercados para seus produtos fora de Roraima.
Por meio do artesanato, as mulheres warao têm preservado sua cultura milenar, compartilhando com outras gerações as técnicas de produção de cestos, vasos, chapéus, bolsas, bandejas e outras peças com a palha do buriti.
“Ojidu é buriti em Warao. Significa avó, está ligado à fonte da vida”, revela Marcelina, ressaltando a relação do seu povo com esta árvore — abundante na Amazônia brasileira e venezuelana.
Fonte de renda
Com apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), da ONG Fraternidade — Federação Humanitária Internacional (FFHI) e da União Europeia, o artesanato com palha de buriti tem se tornado uma fonte de renda para essa população.
As peças que compõem a exposição viajaram cerca de 4 mil quilômetros em aviões da Força Aérea Brasileira, em coordenação com a Operação Acolhida — resposta humanitária do governo federal aos refugiados e migrantes venezuelanos que chegam ao Brasil apoiada por agências da ONU e entidades da sociedade civil. Muitas foram vendidas no dia da abertura da mostra, e novos lotes estão a caminho.
A diretora do museu, Renata Mellão, entrou em contato com o artesanato warao a partir de reuniões com a equipe do ACNUR em São Paulo. Ela se impressionou com a beleza e qualidade dos objetos e se encantou com a história de vida de mulheres como Marcelina e Hermínia.
“Já queríamos trabalhar com a população refugiada e reconhecer suas contribuições culturais para nosso país. Foi quando o ACNUR sugeriu que o projeto focasse na população indígena e nessa belíssima produção. Viajamos para Roraima e, de imediato, nos apaixonamos”, afirma a diretora.
“Existe um trabalho de proteção muito profundo neste projeto, que é o de conciliar a preservação de uma cultura milenar com a proteção e auto sustentabilidade de uma população tão vulnerável quanto a dos warao venezuelanos”, afirma o representante do ACNUR no Brasil, Jose Egas. “Estamos muito orgulhosos e animados para que o projeto ganhe força e beneficie essa população”, completa Egas.
Além de apreciar o artesanato warao, os visitantes da exposição podem comprar as peças expostas e contribuir para que seja desenvolvida uma cadeia de produção do artesanato com geração de renda para as artesãs e suas famílias.
“Minha conta deu 900 reais”, afirma a empresária Flávia Moré, que levou para casa uma rede e diversos cestos. “As peças são maravilhosas, e o mais incrível é o impacto artístico que elas têm”, afirma a empresária.