AYAN ARIEL
Editoria de Cidades
Um grupo de 184 imigrantes venezuelanos, divididos em 47 famílias, deve ser retirado nesta quinta-feira (30) do antigo prédio do Boa Vista Shopping, localizado na Avenida Capitão Júlio Bezerra, bairro 31 de março, que não é utilizado pelo poder público desde 2015, quando lojistas saíram do local.
A Folha visitou o prédio abandonado, que sofre com a ação do tempo, e conversou com alguns desses venezuelanos que estão morando ali. Liderança da ocupação, Estefany Piñeda, de 22 anos, contou que receberam a ordem de saída do Exército Brasileiro no mês de dezembro do ano passado, porém não sabem onde serão alojados.
“O que queremos saber é se seremos mandados para outro lugar ou se ficaremos na rua. Todo mundo está esperando por essa resposta sobre essa retirada”, acrescentou a mulher.
De acordo com a venezuelana que iniciou a ocupação há cinco meses, as famílias que ocupam o Boa Vista Shopping já são cadastradas na Operação Acolhida e já houve interiorização de 15 pessoas para outros estados, como Mato Grosso e Amazonas. Porém, a falta de respostas em relação a essa retirada tem causado incertezas a quem vive lá.
“Eu tenho medo, principalmente por conta das crianças, que podem ir para a rua. Eu não gostaria de ver crianças na rua passando frio e fome, esperando chegar a noite para dormir”, declarou.
O prédio histórico é ocupado por 92 adultos, o mesmo quantitativo de crianças e atualmente há três venezuelanas grávidas vivendo ali. A organização dos 47 dormitórios é feita pela liderança da ocupação.
Um desses dormitórios é preenchido pela família do pedreiro Miguel Marques, de 42 anos, composta pela esposa, a irmã, o sobrinho e cinco filhos. Eles chegaram a quatro meses na capital e há dois moram no Boa Vista Shopping.
Miguel, que no momento está desempregado, afirma que a família está aguardando pela interiorização para o estado de Mato Grosso, por conta da atual situação em que vive.
“Aqui em Boa Vista não temos conseguido oportunidades, como trabalho, então esperamos o processo para viajar e encontrar meus sogros lá em Mato Grosso, tentar conseguir um emprego e tentar mudar a situação em que estamos vivendo”, contou o pedreiro.
Porém, enquanto a interiorização não ocorre, eles permanecem morando no prédio. “Seguimos sobrevivendo aqui, mas a situação na Venezuela era bastante complicada, porque não tem emprego, nem como comprar comida, falta muita coisa por lá, por isso que viemos para o Brasil. Aqui a situação ainda é um pouco melhor”, concluiu o homem.
Exército diz que não tem previsão de retirada
A reportagem entrou em contato com o Governo de Roraima, que informou que, apesar do prédio do Boa Vista Shopping ser de responsabilidade estadual, a ação de retirada será coordenada e realizada pelo Exército Brasileiro, por meio do processo de abrigamento das famílias nos locais coordenados pela Força Tarefa Logística Humanitária.
Porém não obtivemos resposta em relação ao que será feito com o prédio estadual.
A reportagem também pediu posicionamento da Operação Acolhida, que afirmou não haver previsão de nenhuma ação de retirada das famílias do local.