ANA GABRIELA GOMES
Editoria de Cidade
O Brasil está no topo do ranking de meninas que se tornam mães precocemente na América Latina. A taxa brasileira de gravidez na adolescência é de 68,4 nascimentos para cada mil estudantes. O índice foi divulgado em 2018, por meio de um relatório desenvolvido pela Organização Pan-Americana da Saúde, Fundo das Nações Unidas para a Infância e Fundo de População das Nações Unidas.
Foi em busca de reduzir este índice que o Governo Federal incluiu, no novo Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei 13.798/2019, que prevê a realização da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Este ano, assim como no ano passado, a semana está prevista para iniciar no dia 1º de fevereiro. A menos de quatro dias para a data, a Folha coletou os números de Roraima.
Entre 2017 e 2019, foram realizados 6.306 partos de pacientes com idades entre 10 a 19 anos no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth. Os registros aplicam-se tanto em casos de partos normais quanto os procedimentos de cesariana realizados na unidade. De forma mais detalhada, há também os registros do Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico (Same).
Em 2017, foram contabilizados 1.962 partos de pacientes da faixa etária citada, sendo 1.483 normais e 479 cesáreas. Em 2018, segundo o Same, o número de partos subiu para 2.164 (1.676 normais e 488 cesarianas). No ano passado, em relação a 2017, o índice aumentou em 11%. Foram 2.180 partos realizados na Maternidade. No período, foi constatado ainda que a maioria dos partos ocorre em jovens com idades entre 17 e 19 anos.
Na capital, dados do Observatório de Boa Vista revelaram que, somente entre janeiro e agosto do ano passado, 1.256 meninas entre 10 a 19 anos foram atendidas pela Prefeitura Municipal de Boa Vista por meio do programa Família Que Acolhe (FQA). Em 2018, foram acompanhadas gestações precoces de outras 1.523 garotas e, no ano anterior, foram 1.366 gestantes acompanhadas.
PROGRAMA – Durante as reuniões das grávidas no FQA, também são abordados temas relacionados à amamentação, parto e planejamento familiar, no intuito de não haver uma segunda gravidez precoce. Além do enxoval antes do nascimento e da entrega do leite, quando a criança completa dois anos é feita também a distribuição de anticoncepcional, tanto na sede do programa quanto nos postos de saúde.
Quantitativo não representa a realidade total da capital, afirma psicóloga
Frente aos dados do Observatório de Boa Vista, a psicóloga do FQA, Elane Florêncio, avaliou que os números podem dobrar se forem incluídas as adolescentes que não são acompanhadas pelo programa por diversos motivos, como vergonha, falta de interesse e, às vezes, até por questão de classe social. “Nós temos uma parceria forte com os postos de saúde, porque muitas delas realizam o teste de gravidez e iniciam o pré-natal lá. As enfermeiras que dão início no pré-natal identificam se são menores de idade e automaticamente já encaminham para o FQA”, explicou.
Como, na maioria dos casos, gerar uma criança não fazia parte dos planos das adolescentes e a aceitação passa a ser um dos maiores desafios para a nova mãe, Elane destacou que é diante desta possibilidade que o FQA trabalha com o fortalecimento do vínculo, principalmente nos casos onde a garota deseja abortar ou encaminhar para a adoção. “Quando essas situações são identificadas durante o cadastro, automaticamente a ela é encaminhada para o setor de saúde do programa para receber acompanhamento psicológico. Normalmente, acontece de terem uma aceitação maior da gravidez em nossas reuniões”, disse. Algumas adolescentes ainda optam por engravidar devido a problemas familiares ou por serem vítimas de violência dentro de casa, apesar de os casos serem minoria. “São minoria, mas acontecem. Como uma forma de refúgio, elas acabam engravidando de o namorado pra poder sair de casa. Não é comum, mas acontece por conta de alguma situação de trauma sendo vivenciada”, pontuou.
Especialista faz alerta para riscos de gravidez na adolescência
Vários são os riscos de uma gravidez precoce, seja para a mãe como para o bebê. Além das complicações físicas, há também a questão psicológica que, muitas vezes, envolve a falta de apoio e a mudança no estilo de vida. A médica da Estratégia da Saúde da Família, Maria Vauliam, apontou alguns dos riscos. Para começar, pelo fato de ainda estar com o corpo em formação, o hormônio que prepara a mulher para a gestação não está totalmente preparado. Por isso, é comum que a gestante possa vir a ter pré-eclâmpsia, caracterizada por pressão arterial elevada, e prematuridade, tendo em vista as infecções vaginais e urinárias. Em relação ao parto, a tendência é que seja realizada a cesárea, uma vez que o corpo não está preparado, apesar das complicações que o tipo de parto traz. “O bebê, por sua vez, tende a nascer com baixo peso, subnutrido, com possíveis malformações e anemias”, explicou.
Além das complicações físicas, há ainda as psicológicas que, normalmente, começam com a falta de apoio em casa. “Acontece também que nem todas são responsáveis e acabam não realizando o acompanhamento pré natal, o que acaba atrapalhando o processo durante a gestação”, disse. Na opinião da médica, a melhor forma de prevenir a gestação é levando informação ao público.
Em Boa Vista, todas as unidades básicas de saúde distribuem camisinha e pílula anticoncepcional gratuitamente. “O que falta são informações. A primeira é que eles (jovens) podem vir ao posto sozinhos. O importante é vir ao médico e solicitar uma consulta de planejamento familiar. Nessa consulta vamos poder falar não só da camisinha, como também do DIU, que para evitar a gravidez é essencial, já que ela fica 10 anos sem engravidar, além de outras informações que fazem diferença”, disse.