Cotidiano

Cinco pessoas mortas em 24 horas após dois aviões caírem em RR

ANA GABRIELA GOMES

Editoria de Cidade

Mais um acidente envolvendo uma aeronave de pequeno porte foi confirmado em Roraima. Dessa vez, em uma serra, próxima à pista do Rangel, região do município de Mucajaí. Segundo informações colhidas pela Folha junto à Polícia Militar do Estado de Roraima (PMRR), a aeronave que caiu na manhã desta quarta-feira, 5, teria levantado voo em uma pista da Vicinal 9 da Vila Nova, a cerca de 40 quilômetros da Vila Samaúma, e caiu logo em seguida. Não houve sobreviventes.

Apesar da queda ter ocorrido na quarta-feira, a aeronave só foi encontrada na manhã desta quinta-feira, 6. O comandante-geral da PMRR, coronel Elias Santana, esclareceu que o local do acidente é de difícil acesso, o que dificulta às equipes envolvidas chegarem até os destroços. Na tarde desta quinta-feira, aviões e helicópteros estavam realizando buscas, na tentativa de encontrar o local do acidente.

“A PMRR está efetuando diligências na região com efetivo de ambos os municípios próximos, Mucajaí e Alto Alegre, colhendo informações junto aos moradores para tentar confirmar as informações recebidas”, relatou o comandante Santana. 

Em conversa com a Folha, um piloto que preferiu não se identificar informou que as aeronaves de pequeno porte operam na clandestinidade e, por isso, não realizam as manutenções necessárias. Ele também contou que muitas dessas aeronaves estariam utilizando gasolina comum, e não de avião, por conta do preço, além de transportarem combustível, o que também é bastante perigoso.

Analisando as imagens cedidas pela Folha, ele explicou que o local onde a aeronave supostamente teria caído é de mata fechada, onde foi aberta uma picada recentemente.

Até o início da noite, dos três tripulantes, apenas o piloto havia sido identificado. Lucas Lira, que é natural de Itaituba (PA) e filho de uma família tradicional da aviação na cidade, a família Truth, estava residindo em Boa Vista e realizando voos na região. Segundo informações extra oficiais, o piloto teria ido realizar um frete na Vicinal 9. O pai, Luiz Henrique Macêdo, chegou a fazer uma publicação em uma rede social a respeito do luto.

Este é o segundo acidente de aeronave em um intervalo de 24 horas. O primeiro, também divulgado pela Folha, aconteceu na terça-feira, 4, em uma pista supostamente clandestina, localizada em uma vicinal no município de Amajari. Conforme apuração da Folha, o avião pegou fogo no momento da decolagem, vitimando as jovens Leiliane Oliveira da Silva, de 20 anos, e Jéssica Carina Melo de Mendonça, de 19 anos. O piloto segue internado na capital.

EXÉRCITO – A Folha entrou em contato com a 1ª Brigada de Infantaria de Selva para ter mais informações sobre o acidente, mas o Exército ainda não havia recebido demanda sobre o ocorrido.

FAB – O mesmo contato foi feito junto à Força Aérea Brasileira, que informou que também não havia sido notificada pelos órgãos de aeronáutica até o início da noite, e com o Cenipa, que monitora os acidentes aéreos. Até o fechamento da matéria, o Cenipa não havia respondido à reportagem

POLÍCIA FEDERAL – A Polícia Federal também foi procurada pela reportagem, e informou que, em princípio, não é de sua competência a apuração de acidentes aéreos, mas que as informações eventualmente recebidas acerca dos ocorridos estão sob análise.

MPF ajuíza Ação Civil Pública para combate ao garimpo ilegal

Por conta da queda das aeronaves e da possibilidade de elas estarem a caminho de garimpos localizados em áreas indígenas, a reportagem da Folha também procurou o Ministério Público Federal de Roraima (MPF/RR) que informou que ajuizou Ação Civil Pública (ACP) 1000551-12.2017.4.01.4200, julgada procedente em novembro de 2018, para que fossem tomadas as medidas necessárias ao pronto restabelecimento das atividades permanentes nas Bases de Proteção Etnoambiental (BAPEs) das terras indígenas Yanomami. 

“Estas Bases, localizadas nas regiões da Serra da Estrutura, Korekorema e Demarcação, consistem em pontos estratégicos para o estrangulamento logístico da máquina garimpeira e a proteção de comunidades isoladas. No inquérito que antecedeu o ajuizamento da ACP, foi constatado que as BAPEs, quando ativas, foram efetivas na redução dos registros de crimes ambientais na TI Yanomami”.

 Atualmente, o MPF esclareceu que tem atuado ativamente na fase de cumprimento de sentença, inclusive com a promoção extrajudicial de reuniões com representantes da Funai, Exército, PF e Casa Civil da Presidência da República, a fim de assegurar a efetiva reimplantação das BAPEs. 

“Além disso, o órgão informou ter atuado em diversas operações (Xawara, Curaretinga, Ágata e Tori, a exemplo) em parceria com o Exército, PF, Funai e o Ibama, com o intuito de coibir os ilícitos ambientais e garimpo ilegal praticado em áreas indígenas. Em ações de patrulhamento pelas vias fluvial, aérea e terrestre são realizadas apreensões de barcos e de ferramentas utilizadas no garimpo, destruição de balsas, além prisões dos envolvidos nas atividades ilícitas”. O MPF destacou que centenas de pessoas já foram denunciadas, acusadas de crimes relacionados à prática, fomento e apoio ao garimpo ilegal nas terras indígenas