Cotidiano

Cesáreas são suspensas por falta de material esterilizado

ANA GABRIELA GOMES

Editoria de Cidade

Familiares de gestantes internadas no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazaré denunciaram que, nesta quinta-feira, 6, os partos cesarianos foram suspensos devido à quebra da máquina de esterilização. Conforme a denúncia, todo o material a ser esterilizado foi levado ao Hospital Geral de Roraima (HGR), deixando dezenas de mães, e bebês, em situação de risco.

Na manhã desta sexta-feira, 7, na Maternidade, a reportagem conseguiu conversar com familiares de duas gestantes e ambos confirmaram a situação. Conforme os relatos, nenhuma explicação concreta foi dada aos familiares em relação ao problema. No entanto, um dos familiares soube pelos corredores da unidade que os partos devem ocorrer até o domingo, 9, apesar de não ter recebido confirmação por parte da Maternidade.

O denunciante contou que, por estar sentindo dores, a esposa se dirigiu à Maternidade na quinta-feira de manhã, acompanhada pela mãe. A cesárea, entretanto, deveria acontecer na sexta-feira. Ao chegar à Maternidade, no final do expediente, ele soube pela própria esposa que a cesárea não ia ocorrer devido à falta do material esterilizado. “Foi quando eu fui atrás de saber o motivo e alguns servidores disseram que a máquina estava quebrada”, disse.

Após o ocorrido, o familiar esclareceu que a esposa recebeu medicação para aliviar as dores e, por isso, conseguiu dormir por algumas horas durante a madrugada. Até o final da manhã, nenhuma informação sobre a realização da cesárea foi repassada ao casal. A gestante segue internada em observação, apesar de não apresentar risco de saúde. A preocupação, entretanto, é com a saúde do bebê. “Eles dizem que ele está bem, mas não tem como relaxar”, desabafou.

O outro familiar que conversou com a reportagem se identificou como irmão de uma gestante internada. Segundo relato, a cesárea da irmã deveria ter ocorrido ainda na quinta-feira à noite. “Minha mãe chegou a passar mal quando soube que o parto não ia acontecer, tanto que meu pai a levou pra casa e eu fiquei aqui. Minha irmã chorou com medo que algo acontecesse com a filha dela”, disse.

Ambos os familiares informaram à reportagem que, ao procurar a direção da Maternidade, não tiveram esclarecimentos sobre a quebra da máquina de esterilização. “Os próprios servidores não sabiam explicar. Ouvi de uma enfermeira que a situação nesse lugar está cada vez pior, que mulheres e crianças morrem por falta de insumo e ninguém faz nada. Quem devemos procurar?”, indagou o esposo.

OUTROS PROBLEMAS – Ainda na denúncia feita por familiares, foi informado que o equipamento de Ar Medicinal, responsável por garantir a vida de recém-nascidos, parou de funcionar no último final de semana, deixando vários bebês sem respirar. Não se sabe, no entanto, quantos recém-nascidos estão com sequelas. Nesta sexta-feira, na Maternidade, uma mulher com uma criança recém-nascida contou à reportagem que também passou por problemas. “Minha filha nasceu com a clavícula fraturada e ninguém percebeu”, declarou. Foi quando chegou em casa, ao notar um pequeno nó na região, que a mãe percebeu que alguma coisa estava errada. De volta à Maternidade, ela descobriu que não foram realizados todos os exames necessários, incluindo o de coração. “O médico que me atendeu disse que minha filha estava com sopro no coração. Tudo por negligência dos profissionais. Graças a Deus agora ela está bem. Mas o que poderia ter acontecido se eu não tivesse notado?”, disse.

MORTES – A Folha conversou com uma médica, que preferiu não se identificar, que confirmou a morte de mães e bebês na Maternidade. Conforme relato, os médicos não sabem mais a quem recorrer, uma vez que a direção da unidade não se posiciona a respeito das mortes. A médica afirmou que, só na semana passada, duas mães faleceram por falta de insumos.

Máquina de esterilização está passando por manutenção, esclarece Maternidade

Em nota, a Direção Geral do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth esclareceu que a máquina que realiza a esterilização de materiais cirúrgicos apresentou a necessidade de manutenção corretiva, e que a equipe técnica já está realizando os ajustes necessários. Informou ainda que os procedimentos considerados de emergência estão sendo realizados, uma vez que todos os itens utilizados nas cirurgias estão sendo esterilizados no HGR. “Apenas as cirurgias eletivas foram readequadas, conforme o plano de atendimento da unidade”, esclareceu a nota. Em relação ao equipamento de Gases [Ar] Medicinal, a direção informou que o equipamento está funcionando normalmente e que informações relacionadas a eventuais problemas técnicos não procedem no presente momento. A nota esclareceu ainda que a Maternidade é referência pelo projeto Rede Cegonha, do Ministério da Saúde, “nas melhores práticas de atenção obstétrica e neonatal, garantindo uma rede de cuidados que asseguram às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e pós-parto”, finalizou a nota.