Política

Quartiero anuncia racha com o grupo, mas permanece vice

Conforme o vice-governador, racha foi motivo pelo não cumprimento de promessas de campanha e falta de mudanças administrativas

O vice-governador Paulo César Quartiero (DEM) anunciou sua ruptura com o governo Suely Campos (PP). O anúncio foi feito na manhã de ontem em entrevista coletiva. “Estamos nos desvinculando do Governo do Estado e vamos ter uma postura mais crítica a partir de agora. Não renunciei ao cargo, pois tenho um mandato assim como a governadora, e só quem pode tirar esse mandato é o eleitor”, afirmou.
Em sua fala, o vice-governador lembrou-se da campanha política do ano passado, quando o grupo adversário se considerava invencível. “Era um cenário em que não tínhamos perspectivas de vitória, era uma relação de força desproporcional. Foi quando procurei Neudo Campos e propus a ele que fosse candidato para vencer o grupo hegemônico”, afirmou. “Conseguimos mostrar para o povo que éramos uma alternativa e o povo, cansado da administração passada, confiou na nossa proposta, que era uma mudança de método de governo”.
Porém, Quartiero disse que não viu mudança alguma. “Cadê a mudança? Só o que mudou foram os personagens, mas o método de administração é o mesmo de antes. Só botamos outra oligarquia familiar. Essa atuação do governo configura o descumprimento das promessas, dos compromissos de campanha”, criticou.
O vice-governador afirmou que o DEM não participou da fase de transição do governo, não indicou secretários nem qualquer outro integrante da gestão. “Não fui consultado nesse governo. Fizeram promessas na campanha e não as estão cumprindo. Isso o que estão fazendo é estelionato eleitoral, e não é com a nossa participação”, enfatizou.
Outras justificativas apresentadas por Quartiero para romper com o governo foram os casos de nepotismo e a nomeação do ex-deputado por Santa Catarina João Pizzolatti para o cargo de secretário estadual de Articulação Institucional e Promoção de Investimentos. “Fomos achincalhados nacionalmente e o Governo do Estado deu a desculpa de que o nepotismo era uma prática comum em Roraima”, comentou, referindo-se ao fato de o nomeado ser citado no caso do Petrolão. Quanto a Pizzolatti, o vice-governador questionou: “Como que importamos para Roraima um problema nacional? Ele veio aqui só pegar o foro privilegiado de secretário de Estado”.
Questionado se estava preocupado com a opinião de Suely Campos e seus apoiadores, o vice-governador foi contundente: “O que eles acham de mim não me interessa nem um minuto, segundo, centímetro. O que me interessa é o que o eleitor, que confiou em mim, acha”.
CEM DIAS – Durante os primeiros 100 dias como vice-governador, Paulo César Quartiero disse que conseguiu fazer “muita coisa”. “Estive com o ministro [do Supremo Tribunal Federal] Marco Aurélio Mello para defender os interesses de Pacaraima, e na Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] para resolver o problema da energia. Conversei também com pessoas ligadas ao setor do agronegócio brasileiro, com a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, para difundir o único projeto viável de Roraima, que é o de recuperação do lavrado”, disse. “Todo esse tempo trabalhei em prol de Roraima. Trabalhei 24 horas por dia nesses 100 dias e vou continuar fazendo esse trabalho até a minha última gota de suor, de sangue”.
Sobre os 100 dias da gestão de Suely Campos, o vice-governador reconheceu que em pouco tempo não dá para resolver nada, mas que o governo tem que dar sinais de que vai mudar e que ainda pode reverter e melhorar a situação de Roraima. (V.V)
Governo do Estado diz que Quartiero está sem coragem para enfrentar desafios do cargo
Também em entrevista coletiva, a Secretaria de Comunicação do Governo do Estado rebateu as afirmações feitas pelo vice-governador Paulo César Quartiero (DEM). A governadora Suely Campos (PP) não participou da entrevista porque estava em Brasília para se reunir com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias.
O secretário de Comunicação, Ivo Gallindo, foi o porta-voz. Ele disse que o Governo do Estado ficou surpreso com a decisão de Quartiero, “uma vez que a governadora Suely Campos sempre esteve de portas abertas para receber o vice-governador”. Conforme Gallindo, Quartiero não está tendo coragem de superar as dificuldades que o governo está enfrentando, mas que a governadora está disposta a aceitar as opiniões dele. “Nesses 100 dias, ele não apresentou nenhuma proposta ou plano de ações”, afirmou.
Citou também alguns pedidos do vice-governador, que foram negados, como o aluguel de dois carros por R$ 140 mil e nomeação de duas pessoas com o mesmo sobrenome para o gabinete da Vice-Governadoria, que já tinha outro membro da mesma família nomeado. “A governadora Suely Campos não compactua com o nepotismo, por isso o pedido foi negado”, justificou Gallindo.
Outro motivo seria a retirada de 15 cargos da Vice-Governadoria para a Casa Civil, que transferiu os servidores para atuarem no Hospital de Rorainópolis, no Sul do Estado. “Esses 15 servidores estão sendo melhor utilizados no Sul do Estado, atendendo os pacientes”, frisou o secretário.
Quanto a João Pizzolatti, o secretário de Comunicação afirmou que a escolha e as ações do secretário de Articulação Institucional e Promoção de Investimentos já foram esclarecidas. “Tanto que ele trouxe investidores de Santa Catarina para conhecer Roraima”, disse.
Afirmou que, diferente do que disse Quartiero, os compromissos de campanha estão sendo cumpridos, citando a permanência do programa Ronda no Bairro, a reativação de obras do Hospital Geral de Roraima e do Hospital das Clínicas, além da recuperação de escolas.
Mesmo se declarando oposição à gestão de Suely Campos, Paulo César Quartiero poderá responder pelo Governo do Estado quando a governadora viajar por longos períodos. “Em algumas ocasiões, os próprios secretários poderão responder pelos atos administrativos”, esclareceu. (V.V)
Deputados comentam decisão do Vice
Os deputados estaduais comentaram a mudança de posição do vice-governador Paulo César Quartiero (DEM). Citando que o País é democrático, os parlamentares reconheceram que a decisão é uma opinião individual do presidente do DEM em Roraima.
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Jalser Renier (PSDC), afirmou que o vice-governador tem todo o direito de apresentar os esclarecimentos que quiser para a sociedade. “Ele representa uma sigla partidária e está fazendo o seu papel. Se ele se sente incomodado e as coisas não estão do jeito que ele gostaria ou concorda, ele tem o direito de fazer as suas colocações. Mas é bem verdade que o Governo do Estado precisa avaliar muitas questões o mais rapidamente possível para que o Estado não caia num colapso”, disse.
Líder da base do Governo do Estado na Assembleia Legislativa, o deputado Brito Bezerra (PP) afirmou que não gostaria que o racha tivesse acontecido. “Até porque, os compromissos são de todo o grupo. Eu iria mais longe: se eu fosse vice-governador e não concordasse com a maneira com a que o Estado está sendo gerido, eu renunciaria ao cargo e não ficaria de crítico”, disse.
Brito afirmou que nem ele nem os demais membros da base do governo esperavam esse posicionamento de Quartiero. “Não esperávamos essa atitude na hora em que nós precisamos do apoio, do trabalho, da experiência dele. Nós o elegemos vice-governador para que ele enfrentasse conosco todas as demandas, os problemas na reconstrução do Estado. Agora ele abdicou desse desafio, pulou fora do barco porque sabe que os desafios são imensos, tremendos. E nós, os corajosos, vamos continuar no barco”, comentou.
O deputado pepista afirmou que desde o início da gestão, Quartiero não quis participar dos programas de governo. “Ele não esteve presente em momento algum. A partir do segundo turno, quando recebemos apoio de algumas siglas, ele se distanciou. E a política é agregadora, você tem que conviver com as diferenças”, frisou.
O líder do blocão, deputado George Melo (PSDC), afirmou que respeita a decisão do vice-governador. “A gente entende o processo democrático. A gente tem liberdade de se posicionar. Entendo que Paulo César Quartiero é um político contundente, que teria um mandato de deputado federal e abriu mão disso para ir atrás de um sonho. Infelizmente, as coisas não estão acontecendo como ele imaginava. Mas acredito que ele, tendo a independência que tem, tomou a decisão que achava certa”, afirmou.
O deputado Gabriel Picanço (PRB), da base do governo, externou a tristeza pelo que chamou de “desistência do vice-governador”. “O povo está vendo que ele fugiu do barco. Mas não vamos nos preocupar com isso. Estamos no caminho certo, fazendo o básico, o necessário”, disse. (V.V)