A ação do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), de compartilhar vídeo sobre manifestação contra o Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF), para o dia 15 de março, ganhou repercussão negativa entre os parlamentares do país. Entre os de Roraima, houve quem apoiasse o presidente e quem achou que a medida era um ataque à democracia.
À Folha, os senadores Chico Rodrigues (DEM) e Telmário Mota (PROS) divergiram sobre o ato do presidente. Para Rodrigues, há diferença entre apoio ao movimento e convocação por parte do presidente.
“Não vejo mal nenhum. Não acredito que isso prejudicaria o Congresso. Acho que é preciso uma compreensão por parte do Congresso Nacional. É preciso haver harmonia entre os poderes”, destacou o senador. O parlamentar disse ainda que acredita que a questão tenha um viés econômico.
“Acredito que o ponto de discórdia total foi exatamente com relação ao orçamento. É isso onde o Governo está reagindo contrário e acho que até certo ponto o Governo tem razão. Então, entendo que há uma necessidade enorme de haver uma conversa do presidente [Bolsonaro] com os presidentes da Câmara, do Senado e do STF para que a Constituição seja rigidamente cumprida. Política é convivência dos contrários. Há necessidade dessas convivências para que não haja conflitos”, completou.
Por sua vez, o senador Telmário Mota (PROS) afirmou que Bolsonaro ainda não conseguiu ‘governar com a estatura de presidente’, respeitando e dialogando com os outros poderes e fazendo um plano de governo para tirar o Brasil da crise.
“Ele ganhou a eleição nas redes sociais e ele gostou disso. Ele não saiu ainda das eleições. O presidente não desceu do palanque. Ele não quer perder essa popularidade. O presidente se acha um ‘popstar’. Quer nem saber se ele está colocando em xeque as instituições, ferindo a democracia, ele faz em busca da popularidade e o povo continua seguindo as suas propostas”, declarou Telmário.
Mota destacou ainda a importância das ações dos parlamentares em atender aos questionamentos do povo. “Os parlamentares estão lá para resolver as demandas da população na área da saúde, educação, segurança, infraestrutura. Se esse dinheiro ficar na mão do poder central, ele vai para o superavit primário, para pagar as despesas da dívida, vai ser concentrado em grandes empresários. Na mão da população atende muito mais”, acrescentou o senador.
O senador disse ainda que o presidente tem a chance de realizar uma grande transformação no país, pois acredita que o Congresso Nacional tem vontade de ajudar em fazer uma reforma administrativa e tributária no Brasil. Apesar disso, o parlamentar afirma que Bolsonaro tem pessoas dentro da sua equipe de gestão que têm compromisso com a democracia e que vão saber orientar melhor o presidente.
DEPUTADOS – O coordenador da bancada federal, deputado Hiran Gonçalves (Progressistas), entende que qualquer manifestação contra o estado democrático de direito é algo muito grave, porém avalia que o presidente fez uma manifestação privada.
“Ou seja, não convocou ninguém para manifestar contra o Supremo e o Congresso e, inclusive, ele recomendou que seus assessores diretos façam o mesmo e não criem esse tipo de problema, porque isso é crime. Se manifestar dessa maneira é crime, porque isso gera uma insegurança jurídica no nosso país”, disse Hiran.
O parlamentar avaliou ainda que o cenário político atual demonstra a falta de união entre os representantes e que é preciso harmonia entre os poderes, com foco no bem-estar da população.
“A quebra da segurança constitucional leva ao sofrimento, principalmente dos menos favorecidos. Acho que o nosso país está vivendo uma situação extremamente polarizada, que não é nosso costume. O nosso país é harmônico, são de pessoas que têm um compromisso com a paz social. Eu espero que a manifestação [do dia 15 de março] seja sem agressão, sem violência. Acho que nada ajuda o nosso país se tivermos um confronto e insegurança para as pessoas”, completou.
Participando de um encontro com congressistas nos Estados Unidos, para tratar sobre a defesa dos direitos humanos no Brasil, a deputada Joênia Wapichana (Rede) abordou as mudanças climáticas, defesa dos direitos indígenas, da Amazônia e também comentou o ato de Bolsonaro, onde disse que a ação do presidente evidencia um ataque à democracia.
“Hoje nós estamos vivendo em um momento muito perigoso no Brasil. O presidente Bolsonaro está atacando a democracia, estabelecida pela Constituição de 1988. O Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal também estão em risco. Estamos pedindo apoio do Congresso Americano e do povo norte-americano, um suporte à democracia. A Constituição impõe direitos importantes para o povo indígena, aos povos que trabalham nas terras, mas estamos sendo constantemente atacados pelo presidente Bolsonaro. Quem defende os direitos dos povos indígenas na Amazônia, apoia o planeta”, declarou Joênia.
A Folha também entrou em contato com o senador Mecias de Jesus (Republicanos) e os deputados Jhonatan de Jesus (Republicanos), Édio Lopes (PL), Shéridan (PSDB), Nicoletti (PSL), Haroldo Cathedral (PSD) e Ottaci (SD), porém não obteve retorno até o fechamento da matéria. (P.C.)