Cotidiano

Pais de alunos protestam em Rorainópolis

Estudantes não estão conseguindo chegar à escola porque serviço de transporte escolar foi suspenso por falta de pagamento

Pais de estudantes que moram nas vicinais do Município de Rorainópolis, Sul do Estado, estão enfrentando problemas na hora de mandar os filhos para a escola devido à falta de transporte escolar. O serviço, prestado por empresas contratadas pelo Estado, está suspendo desde o início do ano letivo, em fevereiro. A situação motivou um grupo de pais a realizar um protesto em frente às escolas da região nesta segunda-feira, 20.
Para que os filhos não percam aulas e não tenham o rendimento prejudicado, alguns pais acabam percorrendo longas distâncias para que eles não deixem de frequentar às aulas. O agricultor Juarez Souza mora a 25 quilômetros da sede do município, na vicinal 9. Os filhos, um de 12 e outro de 17 anos, intercalam o dia de ir à escola: quando um vai o outro fica. “O único transporte que tenho é uma motocicleta. Como não posso levar os dois de uma vez, tenho que escolher quem vai”, relatou.
Conforme o agricultor, ele e alguns amigos com filhos em idade escolar, que também residem em vicinais, decidiram organizar um protesto para cobrar posicionamento em relação à falta de transporte. “Estamos cansados desta situação, não podemos mais tolerar isso. Queremos pelo menos uma declaração oficial e saber se o problema será resolvido”, protestou.
Souza afirmou que já entrou em contato com a direção da escola e até mesmo com os motoristas que conduzem os veículos utilizados no transporte escolar. “A escola informa que não pode fazer nada, pois quem administra este setor é a Secretaria de Educação. Já os motoristas alegam que não irão voltar a trabalhar sem antes receber pelo serviço que prestaram no ano passado”, disse.
O estudante Willian Diniz, 18 anos, também morador da Vicinal 9, vai para a escola de carona com o pai, mas nem sempre isso é possível. Para não deixar de frequentar as aulas, o rapaz pilota a motocicleta do pai, apesar de não possuir uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH). “Sei que isso é perigoso, porém preciso terminar os meus estudos. Se depender do transporte escolar, isso não vai acontecer nunca”, desabafou.
Situação semelhante enfrenta o agricultor Célio Silva. Ele mora na Vicinal 12, localizada a 22 km da sede do município. O filho de 18 anos estuda na Escola Estadual José de Alencar e o mais novo, de 12, na Escola Estadual Antônia Tavares. “Às vezes, o meu filho mais velho vai para a escola pilotando a moto, pois, desta maneira, ele e o irmão podem ir para a aula. Quando suspeito de alguma fiscalização, acabo levando somente um dos dois”, declarou.
O proprietário de uma das frotas de veículos do transporte escolar, que preferiu não se identificar, relatou que o serviço foi paralisado devido à falta de pagamento. “Trabalhamos por cerca de seis meses sem receber nenhum centavo. Tirávamos dinheiro de empréstimos e penhor de bens para manter os carros rodando, na esperança de que seriamos pagos, mas até agora nada”, disse.
GOVERNO – A Secretaria de Comunicação do Governo do Estado informou que estão sendo adotadas as medidas necessárias para melhorar o serviço prestado em todos os municípios, inclusive em Rorainópolis. Informou que, no mês de fevereiro, o Instituto de Pesos e Medidas de Roraima (Ipem) realizou vistoria nos veículos utilizados no transporte escolar dos alunos da rede estadual de ensino. 
Durante a vistoria, os agentes fiscalizaram se os veículos estavam cumprindo todas as normas de segurança e se deveria ser feito algum reparo. Dos 421 automóveis vistoriados, 69 foram reprovados e tiveram que passar por adequações.
Conforme o governo, uma auditoria sobre os gastos com transporte escolar entre 2008 e 2014 detectou irregularidades. “O pagamento pelo serviço prestado triplicou, enquanto o número de alunos diminuiu. A Secretaria Estadual de Educação e Desportos (Seed) irá corrigir essa distorção e o resultado da auditoria será enviado para análise do Ministério Público e ao Tribunal de Contas’, frisou.
Afirmou ainda, que o Estado possui 25 micro-ônibus do programa federal Caminho da Escola, os quais o governo irá empregá-los em rotas no Sul do Estado, “garantindo segurança e qualidade ao transporte dos estudantes e contribuindo para a redução da evasão escolar, ampliando o acesso e a permanência na escola dos estudantes matriculados na educação básica da zona rural das redes estaduais”.
“A Seed esclarece ainda que não há débitos no ano corrente, no entanto, pois os empresários reivindicam o pagamento do serviço prestado no ano passado, uma dívida de R$ 5 milhões deixada pelo governo anterior sem dinheiro em caixa para saldá-la. Por entender a importância do serviço para a Educação, a gestão avalia a possibilidade de fazer o reconhecimento da dívida para que o pagamento seja efetuado de forma parcelada”, destacou.