Cotidiano

Entidades se unem no combate ao suicídio

Criação de cartilha ajuda a quebrar um tabu sobre o tema e serve para orientar como agir diante do problema

Assunto dos mais polêmicos, o suicídio deixou de ser um tema reservado para ganhar as rodas de conversa das famílias brasileiras. Os casos cresceram em proporções tão assustadoras que o fato se tornou um problema crônico de saúde em todo o mundo. De acordo com dados de 2014 da Organização Mundial de Saúde, cerca de 800 mil pessoas se suicidam por ano no mundo. No Brasil, esse índice registrou um crescimento de 10,4% entre os anos 2000 e 2012. Em percentuais mais específicos, 17,8% das vítimas foram mulheres e de 8,2% homens.
Preocupados com essa escalada, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) decidiram unir forças contra altos índices de suicídio no país. Em uma ação inédita, as duas entidades criaram, no ano passado, durante as comemorações alusivas ao Dia Mundial de Combate ao Suicídio, celebrado todo o dia 14 de setembro, uma cartilha informativa sobre a importância de se combater esse mal tão silencioso.
“É importante que entidades se unam contra esse mal por se tratar de uma doença de caráter multidisciplinar na forma do seu tratamento, ou seja, envolvendo profissionais de diferentes áreas, como psicólogos, psiquiatras, entre outros. Falar de uma rede de saúde para prevenção de suicídio é reforçar a importância de se ter uma rede bem integrada. Além disso, pode-se destacar a melhoria na capacidade dos profissionais de saúde em detectar e lidar com essas pessoas, sendo esta mais uma forma de prevenção”, explicou a psicóloga roraimense Carime Lima.
Batizada de “Suicídio – Informando para prevenir”, a cartilha repassa uma série de informações importantes que ajudam a melhor compreensão acerca do tema, podendo ser útil tanto para a população quanto para a sociedade de uma forma geral. Para a profissional, a falta de uma política de atenção à doença, com infraestrutura e recursos humanos suficientes para ajudar quem sofre dos transtornos relacionados à mente, é o principal obstáculo a ser enfrentado pelos profissionais de saúde no país, ressaltando ainda o tabu diante do tema.   “Essa cartilha pode ajudar a conscientizar as pessoas sobre os riscos e sinais que são dados pelas vítimas e ainda que desmistificar o suicídio seja fundamental para quebrar o preconceito que cerca o tema, ajudando a preveni-lo. A propagação de informações relacionadas à ocorrência desse ato deve ser conduzida com cuidado e responsabilidade, inclusive considerando o respeito devido aos familiares e sua perda”, disse.
“O reconhecimento dos fatores de riscos e dos fatores protetores são fundamentais e pode ajudar o profissional de saúde a determinar clinicamente o risco e, a partir desta determinação, estabelecer estratégias para reduzi-lo. A prevenção não deve se iniciar apenas nos centros com foco em saúde mental, mas deve ser observada em todos os âmbitos do sistema de saúde”, complementou.
Ainda segundo a profissional, o comportamento do suicida é frequentemente cercado por um véu de silêncio, o que acaba dificultando uma série de fatores como a comunicação direta, o que acaba impossibilitando o paciente de pedir ajuda social. “Suicídio é um ato complexo, não sendo resultante de um evento ou fator único, portanto, sendo impossível atribuir uma causa ou um motivo específico para a sua ocorrência. Envolve diversos fatores, entre eles a presença de sofrimento psicológico intenso, o que torna a detecção precoce do comportamento suicida, bem como o seu tratamento adequado, grandes aliados na prevenção”, frisou. (M.L)