Para muitos povos indígenas, receber o auxílio emergencial durante a pandemia do novo coronavírus tornou-se um problema de saúde coletiva. Em aldeias de todo o país, os R$ 600 pagos pelo governo federal estão sendo chamados de “R$ 600 da morte”. Na ausência de uma logística de pagamento específica que atenda a população indígena, o deslocamento necessário para receber o benefício está expondo as comunidades à contaminação.
Para Mário Nicacio, membro do Conselho Indígena de Roraima (CIR), o risco a que estão sendo submetidas essas populações durante a pandemia apenas demonstra a fragilidade das políticas públicas para os indígenas no Brasil.
“Na verdade, o problema é da própria estrutura do governo federal, começando pelo presidente da república que não tem um plano de contingência para os povos indígenas. É assim com todos os auxílios, não só o auxílio emergencial, mas o atendimento de saúde em geral.”
Segundo Nicacio, os riscos envolvendo o acesso ao auxílio emergencial tem sido relatados ao Ministério Público Federal e a representantes da Caixa Econômica Federal, banco responsável pelo pagamento.
“É preciso estruturar espaços em municípios mais próximos das comunidades ou fazer rodízio de pagamentos específicos para indígenas. Mas existe mesmo essas contaminações ocorrendo por causa da ida de indígenas para a cidade, porque não é só entrar na fila, cadastrar e pegar o dinheiro. O negócio é depois. Às vezes você encontra supermercado que não tem orientação nenhuma de prevenção ao consumidor e o indígena vai entrar no meio da contaminação dos espaços que têm na cidade”, pontua.
Na aldeia Pium, onde mora Nicacio, em Roraima, há 800 indígenas do povo Wapichana. A comunidade integra a Terra Indígena Manoá-Pium. Ele conta que apesar da má logística do governo federal, na sua aldeia, duas criança indígenas foram contaminadas, um bebê e uma criança de dois anos.
A suspeita é de que elas tenham contraído covid-19 na Casa de Saúde Indígena (Casai) de Roraima. Atualmente, ambas realizam tratamento no Hospital da Criança, na capital de Roraima, Boa Vista.
O indígena diz ainda que a língua tem sido uma barreira no que diz respeito a levar informação aos povos indígenas. No Pará, mulheres da etnia Munduruku chegaram a traduzir um guia de prevenção do novo coronavírus para a sua língua nativa, porque a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não o tinha feito.
Nicacio conta que seu povo foi orientado por organizações, que têm o acompanhamento de médicos e especialistas em saúde indígenas quanto ao uso de máscaras.
Fonte: Brasil de Fato