Mesmo com a estrutura pronta desde o fim de abril, o Hospital de Campanha em Roraima ainda não tem uma data definida para ser inaugurado. Porém, segundo o Sindicato dos Médicos do Estado de Roraima (Simed-RR), não há falta de profissionais da saúde aptos para trabalhar na Área de Proteção e Cuidados (APC), mas sim uma falta de diálogo com a Operação Acolhida, responsável pela unidade hospitalar.
Em entrevista à Folha nesta terça-feira, 09, o presidente do Simed-RR, Antônio Delmiro, informou que tentou se reunir com o general Antônio Barros, coordenador da Operação Acolhida e do Hospital de Campanha, porém, não obteve retorno.
“Tentamos nos reunir informalmente por várias vezes, mas sem sucesso. Então resolvemos oficializar e levei um ofício às 19h do sábado, 06 de junho, com uma lista dos 94 médicos com registro no Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM), e solicitando uma reunião para tratar sobre os médicos aptos a trabalhar no local. Até agora estamos esperando um retorno do general”, declarou Delmiro.
O sindicalista informou ainda que protocolou a mesma lista dos profissionais disponíveis na noite de segunda (8), com o secretário de Saúde, Marcelo Lopes, e que uma hora depois recebeu uma resposta. “O secretário ficou de se reunir nesta terça com o general Antônio Barros e dar um retorno para a categoria”, disse.
Segundo Delmiro, outro ponto que pretende ser discutido com a Operação Acolhida é a situação da jornada de trabalho dos médicos de 12h/36h. O presidente do sindicato afirmou que a medida é impraticável no Brasil, pois os profissionais brasileiros têm outros vínculos de serviço.
“É inviável porque os médicos que atuam no país já têm outros vínculos, trabalham dias fixos, cumprem horário em outro local. Então esses profissionais trabalhariam no Hospital de Campanha no dia que não estariam em outro local. Se coloco 12h/36 tem semana que vai cair na segunda, na terça na quarta, na quinta e assim vai sobrepor a carga horaria. Estamos disponíveis pra trabalhar no dia que a gente pode trabalhar. Não temos como seguir essa norma militar 12h/36”, ressaltou Delmiro.
O sindicalista afirmou ainda que a execução do plantão não altera o valor que seria pago aos médicos. “Quem fizer dois plantões de 12h vai receber pelos dois. Não vai mudar nada. É uma exigência militar que não se aplica à classe médica. Não tem como. É impossível. É ser exclusivo do Hospital de Campanha”, acrescentou.
“Somos a favor de abrir urgentemente o Hospital de Campanha, independentemente da quantidade de leitos. Que seja aberto com 10, 20, 30 ou mais leitos. Cada leito aberto é uma vida salva. Não se pode retardar mais essa abertura dessa unidade, pois as pessoas estão morrendo sem local para serem atendidas”, comentou Delmiro.
DECISÃO JUDICIAL – O presidente do Simed ressaltou ainda que a decisão judicial favorável que impede a contratação de profissionais médicos sem registro do CRM e sem revalidação do diploma, de forma alguma é relacionada com a nacionalidade dos profissionais, sendo estrangeiros ou não, mas é de acordo com a lei.
“A norma é essa: só pode exercer a medicina quem tiver o CRM. Se for no Brasil, automaticamente adquire o CRM ao término da faculdade. Se for fora do Brasil é preciso comprovar que realmente aquele documento é autêntico e avaliar a capacidade do médico, tanto prático quanto teórico. O seletivo abriu vaga para médicos com apenas documento, sem nenhuma validação, para atender pacientes de alta complexidade que são os diagnosticados com covid. Então, somos contra. Estamos preocupados com a sociedade”, finalizou presidente do Simed-RR.
OUTRO LADO – A Coordenação da Operação Acolhida informou, por meio de nota, que “Esta questão foi amplamente discutida com profissionais de saúde na concepção do funcionamento da Área de Proteção e Cuidados, considerando os aspectos técnicos necessários e de acordo com os princípios éticos e legais, tudo com o objetivo de proporcionar o tratamento digno, efetivo e seguro para o paciente”.