Cotidiano

Desabafo de quem perdeu um ente querido para a Covid-19

A viúva relata em sua carta-desabafo que um mesmo respirador era retirado de um paciente quase em coma, para ser colocado em outro na mesma situação

A coluna Parabólica desta terça-feira (23) destaca a carta-desabafo da viúva do auditor-fiscal da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz), Jose Carlos Gonçalves da Costa (Zé Carlos). Ela narra com sofrimento e indignação as 52 horas de angústia que passou no Hospital Geral de Roraima (HGR), tentando salvar a vida do marido, que lutava contra a morte por conta da Covid-19. 

A viúva relata em sua carta-desabafo que um mesmo respirador era retirado de um paciente quase em coma, para ser colocado em outro na mesma situação. 

Confira a Parabólica desta terça-feira clicando AQUI.

Confira a carta-desabafo na íntegra:

Desabafo da Socorro, esposa do José Carlos.

“11 dias sem você meu amor. Só Deus e eu somos testemunhas do que foram as 52 horas que passamos dentro do HGR, lutando e correndo contra o tempo por um leito de UTI. 

Estávamos no bloco A, onde só tinha um respirador mecânico para todos os pacientes internados nesse bloco, o que já é inaceitável Além de não ter UTI, ainda há a falta desses benditos respiradores. 

O uso desse equipamento é dividido no bloco A. Enquanto um paciente utilizava o respirador, outro desaturava, foi o caso do meu marido, com o respirador a saturação melhorava pra 96/97, quando a fisioterapeuta retirava para ser levado pra outro paciente, a saturação do meu marido baixava rapidamente pra 84/88. 

E foi assim que eu presenciei o quanto somos vulneráveis, o quanto esse governo está sendo omisso, irresponsável, desastroso, e desumano com as pessoas que estão ali, na esperança de saírem com vida, e voltar para suas casas sã e salvo. 

Lutamos arduamente por um leito de UTI. Ficamos sabendo no dia 13 que tinha um leito disponível (na vermelha), mas podiam colocar meu marido porque estava infectado. Mas eu pergunto: “e se fosse um parente seu governador, um filho seu? rapidinho iam disponibilizar esse leito, não é? 

Pra quê tanta propaganda linda, recheada de milhões para a Saúde do Estado, se nem respirador que é tão essencial tem o suficiente para os pacientes? Na sua campanha toda, a frase mais usada era: “Dinheiro tem, não tem é gestão”. Sua gestão é desumana e egoísta. 

Infelizmente, quando conseguimos um leito de UTI no Loty Iris, o médico do trauma nos disse que não era possível a transferência pro Loty Iris, só se ele estabilizasse, e às 16h30 deu uma parada cardíaca e meu marido não resistiu. 

Quero agradecer ao Dr. Joel, que foi incansável, tentando conseguir um leito de UTI, e que acompanhou nossa luta, e aos amigos Leila e Júnior que ficaram o tempo todo ao nosso lado. 

Meu amor, vamos continuar seu legado. Obrigado meu Deus pelos 29 anos, 6 meses e 12 dias que o Senhor permitiu que meu marido ficasse ao meu lado”.