Os índices apontando um aumento nos casos e óbitos de covid em Roraima ganharam repercussão em todo país durante a semana. No entanto, a Prefeitura de Boa Vista (PMBV), onde se concentra o maior índice populacional e registros da doença, alega que as informações não são reflexo da reabertura do comércio.
Em live nesta quinta-feira (30), a prefeita Teresa Surita (MDB) apresentou dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), de casos confirmados e óbitos por covid, mas ressaltou que não houve aumento recente na Capital, supostamente influenciado pela abertura das lojas.
“Esse aumento aconteceu lá atrás e agora está se manifestando. Digo isso em razão das decisões tomadas pelo município da reabertura do comércio”, declarou a prefeita. “A média de óbito que sai toda noite mostra as mortes do dia e as que ocorreram em outras datas, mas foram confirmadas só agora. Por isso, a confusão. Mas, a verdade é que os óbitos reduziram. Só nestas duas semanas foram confirmadas 56 mortes de datas anteriores”, acrescentou Teresa.
A administração municipal também ressaltou que o pico de mortes ocorreu em junho, quando foram registradas 65 mortes em uma semana. “Hoje temos um número menor. Os óbitos que foram informados aconteceram antes do dia 20 de julho, antes do inicio da retomada do comércio. Eram pessoas internadas há muito tempo, não são ocorridos recentemente”, disse Roberta Calandrini, diretora da Vigilância Epidemiológica da PMBV.
Gráfico apresentado pela Prefeitura (Imagem: Semuc PMBV)
Alan Freitas, superintendente da Atenção Especializada da SMSA, afirmou que também houve redução nos números de casos novos de covid desde o dia da reabertura. “O maior índice foi no mês de junho. Os novos casos não estão acontecendo e não são referentes à reabertura do comércio. As UBS estão abertas. Temos feito um trabalho muito forte para ter teste rápido e medicação. A procura para esse atendimento tem diminuído e consequentemente os casos positivos”, afirmou.
LEITOS – Teresa também informou que não vai dar prosseguimento à reabertura do comércio por conta da falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O limite para ocupação é de 70% dos leitos disponíveis, mas atualmente, segundo a PMBV, o índice é de 71,7%.
A gestora também criticou a gestão estadual sobre a falta de leitos. Teresa informou que o Estado reduziu o número de vagas para manutenção, mas que não houve retorno dos leitos para a população, além de frisar que falta clareza no repasse de dados do Governo.
“O Governo do Estado recebeu mais de R$ 200 milhões para investir no covid. O município não tem como fazer esse trabalho. Tenho que obedecer os índices mesmo que os dados não sejam passados com clareza. A partir do momento que o HGR tomar medidas com mais transparência, vamos tomar medidas com mais certeza”, declarou.
OUTRO LADO – A reportagem entrou em contato com o Governo do Estado sobre a suposta retirada de leitos UTI-Covid e aguarda retorno.
Número de óbitos não vem diminuindo drasticamente, diz pesquisador
Segundo o pesquisador de Economia e Dinâmica de Sistemas da Embrapa Roraima, George Amaro, o aumento de casos e óbitos que tiveram repercussão nacional estão corretos e são um reflexo de registros novos e antigos que só agora foram contabilizados. A avaliação é que isso acontece por conta do sistema de verificação dos dados.
“Há uma demora entre uma pessoa sentir os sintomas e procurar o sistema de saúde, entre quatro e sete dias. Depois, temos o tempo necessário para que o caso seja confirmado e registrado nas bases de dados. Ainda mais agora, com exames sendo enviados para a Fiocruz. Também temos o atraso para os dados serem oficialmente divulgados. Isso cria um atraso especialmente grande entre a data de diagnóstico provável e a data de entrada no sistema. E fica pior ainda quando os dados vem de testes rápidos feitos pelas unidades básicas dos municípios, pois demoram outros dois a três dias para aparecerem nos cards do Governo de Roraima”, afirma.
Conforme análise dos valores com base nos cards divulgados pelo Governo do Estado, ele explica que na 30ª semana foram 66% mais resultados de testes do que na 29ª semana, o que explicaria o aumento dos casos confirmados de covid. Quanto ao número de óbitos, Amaro acredita que seja por duas causas: óbitos novos e óbitos que estavam em investigação e que foram confirmados posteriormente como sendo de covid-19. O especialista alega ainda que, desta forma, não se pode acreditar na informação repassada há cerca de duas semanas de que o número de óbitos no Estado estaria diminuindo drasticamente.
Segundo o pesquisador, quando se analisa os dados de óbitos como estão nos cards, somando os dias e computando o total na semana epidemiológica, sem considerar os óbitos que estavam em investigação, podem ocorrer conclusões erradas. “Dessa forma, seguindo o que está sendo feito, o gráfico de óbitos está certo e mostra um aumento de 33% entre a semana 30 e a 29 e de 57% entre a semana 30 e a 28”, declarou.
Evolução de casos e óbitos por semana (Gráfico: George Amaro)