Polícia

Da morte ao desfecho: saiba os detalhes do caso Josy e Uirandê

Inicialmente tratado como feminicídio, o desfecho dramático do caso revelou um duplo homicídio por conta de uma dívida de R$ 4,5 mil

Nesta semana a sociedade roraimense foi surpreendida com a morte da empresária Joseane Gomes da Silva, de 29 anos, no domingo (23), o que provocou revolta em amigos e familiares. Inicialmente tratado como feminicídio, o desfecho dramático e quase cinematográfico do caso revelou um duplo homicídio. Antes considerado o principal suspeito pelo assassinato da namorada, o policial militar Uirandê da Costa Mesquita, de 29 anos, foi encontrado carbonizado nesta quinta-feira (27), após seu sócio confessar o crime por conta de uma dívida de R$ 4,5 mil que ele tinha com o soldado.

A FolhaBV acompanhou o passo a passo deste caso e separou os detalhes da investigação criminal que resultou na prisão de dois homens, em Boa Vista.

Corpo abandonado

O corpo da empresária estava caído de bruços em meio a uma poça de sangue, com um tiro nas costas e o rosto machucado, na rua Sebastião Barros, bairro Mecejana. Era por volta das 22h do domingo (23), quando a Polícia Militar foi acionada menos de 10 minutos depois e apurou a informação de que Joseane tinha sido vista pela última vez acompanhada do namorado, Uirandê.

Ao lado do corpo, foram deixados para trás uma sandália tamanho 45/46 e um celular, que supostamente seriam do soldado, inclusive, com direito a uma ligação para o aparelho onde um ‘amigo’ afirmava isso.

Uma testemunha que passou de carro pela rua e viu Joseane, não a socorreu porque foi ameaçada por um ‘homem alto com arma em punho’. A cena inicial indicava que a mulher tinha sido morta em mais um caso de feminicídio. O policial militar passou a ser procurado.

No local do crime ainda é possível ver a mancha de sangue no asfalto e algumas mechas de cabelo da empresária (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Hipótese de feminicídio

Na segunda-feira (24) a Polícia Civil descobriu a identidade do proprietário do carro visto pelas testemunhas na região. O sócio de Uirandê em uma oficina mecânica e um segundo amigo, que até então eram considerados as principais testemunhas, reforçaram a hipótese de feminicídio.

Na primeira versão, Uirandê teria chegado na casa de um dos envolvidos bastante nervoso com Joseane, por conta de uma suposta insistência do ex-marido da empresária em manter contato.

Pouco tempo depois, o policial teria convidado todos para jantar fora, mas, no meio do caminho, teria se descontrolado e agredido a empresária. As duas testemunhas disseram que decidiram parar na rua Sebastião Barros na tentativa de retirar Uirandê de dentro do carro.

Ainda no relato deles, o policial teria sacado a arma, dito para os dois entrarem no veículo e continuado com as agressões na rua. Quando um segundo carro surgiu e viu a movimentação, o militar teria ameaçado os desconhecidos que fugiram e matado a companheira logo em seguida.

Após o suposto crime, o policial teria feito mais ameaças aos amigos para que retornassem a casa onde ele pegaria o próprio carro para fugir. Os dois disseram que entraram no carro com o militar, porém, foram abandonados próximo à RR-205, no sentido Alto Alegre. 

Mandado de prisão

Como o relato das testemunhas oculares reforçou a linha de investigação que apontava Uirandê como o principal suspeito pela morte de Joseane Gomes, na quarta-feira (26) foi feita a representação do mandado de prisão preventiva contra o policial militar.

Uma força-tarefa havia sido montada para procurá-lo tanto na Capital, quanto no interior.

Testemunha ameaçada

Na coletiva de imprensa nesta quinta-feira (27), a delegada Simone Arruda, que preside as investigações, revelou que foi procurada pelo sócio de Uirandê que disse ter sido ameaçado por um policial militar para que contasse os detalhes da noite do crime.

O sócio, no entanto, não contava que a polícia tivesse em mãos as imagens das câmeras de segurança que flagraram a movimentação daquela noite. Com estas novas provas, o homem confessou a autoria e levou as equipes até o local onde o corpo e carro de Uirandê foram queimados. Ele também entregou o segundo envolvido, que nega participação, mas para a delegada, não há dúvidas.

“Ontem conseguimos localizar imagens que trariam para nós elementos suficientes para demonstrar que as duas testemunhas presenciais do fato, que levaram a polícia ao erro, fazendo com que se tratava de um feminicídio, realmente eles que teriam cometido o crime”, disse Simone.

Envenenamento, morte e ocultação de cadáver

O desfecho surpreendente deste caso veio a tona no final da tarde de ontem (27), quando a Polícia Civil esclareceu que o alvo principal dos dois presos era Uirandê, que foi envenenado e estrangulado. A empresária morreu por estar no lugar errado e na hora errada.

O soldado foi atraído até a casa de um deles com a justificativa de que fariam a manutenção em um carro antigo. Na casa, Uirandê ingeriu uma bebida batizada com veneno de rato e começou a passar mal. Joseane quis levar o namorado ao Hospital Geral de Roraima (HGR), mas os dois envolvidos pararam o carro em uma rua escura a 750 metros da unidade de saúde.

“Eles foram para o HGR e resolveram parar nessa rua onde foi encontrado o corpo de Joseane, que teria se revoltado por parar o veículo ali. O flagranteado [sócio] desceu do veículo, pegou uma corda e estrangulou Joseane. Segundo ele, não a agrediu, mas pelas fotos e imagens a gente percebe várias lesões”, relatou a delegada Simone.

A dinâmica do crime realmente existiu, mas os envolvidos trocaram as personagens. O sócio do soldado foi quem ameaçou a testemunha do segundo carro e efetuou o disparo contra a mulher. A arma foi retirada da cintura de Uirandê, que estava desacordado no banco.

Após abandonarem o corpo da empresária, os dois envolvidos retornaram a casa e estrangularam Uirandê até a morte. O corpo do soldado foi levado até a área de lavrado, na RR-205, sentido Alto Alegre, onde foi encontrado carbonizado dentro do próprio carro.

A arma do policial foi jogada em um rio. Até o momento não foi localizada, segundo a delegada. Os dois foram flagranteados por homicídio triplamente qualificado, emboscada, motivo fútil, asfixia ou fogo, e ocultação de cadáver.