A reviravolta no recente caso de duplo homicídio em Roraima deixou grande parte da população surpresa, na revelação dos culpados do crime. Porém, para a Polícia Civil do Estado (PCRR), é preciso ter cuidado antes de fazer qualquer julgamento precipitado.
Em entrevista ao programa Agenda da Semana na Rádio Folha 100.3 FM neste domingo, 30, o delegado-geral da Polícia Civil, Herbert Amorim, abordou o caso policial que resultou na morte da empresária Joseane Gomes e do policial militar Uirandê Mesquita, considerando que a hipótese inicial era de um suposto feminicídio, mas resultou em um crime motivado por uma dívida de R$ 4,5 mil.
“As pessoas fazem um pré-julgamento com relação aos fatos, antes de concluir as investigações. É por isso que muitas vezes a gente evita de fornecer informações. Alguns ficam chateados por achar que nós estamos omitindo, mas isso é justamente para não prejudicar o andamento das investigações”, afirmou Amorim.
O delegado explicou ainda que o apontamento de um único culpado em caso de investigações pode inclusive atrapalhar o serviço policial e beneficiar outros, além de causar sofrimento às famílias das vítimas. “Os autores dos crimes poderiam fugir, arranjar novos argumentos para os fatos e atrapalhar o trabalho da polícia. Muitas vezes a gente percebe que alguns amadores se sentem na vontade de falar e às vezes politizar a situação, fazendo toda uma teoria da conspiração frente à esse fato lamentável. A família acaba sofrendo duas vezes”, disse.
Segundo o delegado-geral, a Polícia Civil só pode apontar algum culpado quando há uma convicção muito forte ou quando há muitos elementos de que aquela pessoa é a autora do delito. Reiterou ainda que não se trata de influência familiar nas investigações.
“Antes de indiciar nós temos que verificar todos os pontos. A Polícia Civil e Polícia Militar têm cuidado em dizer ‘suspeito’, ‘indícios’, ‘verificando’. Não tinha corporativismo, não tinha pressão de ninguém. A polícia não estava omissa”, declarou.
FLAGRANTE – Outro ponto sustentado pelo delegado-geral é a convicção incerta de que o suspeito só pode ser preso em flagrante durante o período de 24h. No caso de duplo homicídio, por exemplo, as testemunhas já tinham prestado depoimento livremente e quando retornaram à delegacia, depois de dois/três dias, foram presas em flagrante.
“Uma coisa que a sociedade tem que entender que o flagrante não tem hora, não dura 24h. Esse período é para que a autoridade policial comunique o juiz a expedir a nota de culpa. Mas o flagrante pode durar cinco dias ou mais. Enquanto durar as investigações, a perseguição e em momento nenhum nós paramos. Por isso conseguimos dar uma resposta à sociedade em tempo recorde”, reforçou.
ENTENDA – A sociedade roraimense foi surpreendida com a morte da empresária Joseane Gomes da Silva, de 29 anos, no dia 23 de agosto. Inicialmente tratado como feminicídio, o desfecho do caso revelou um duplo homicídio. Antes considerado o principal suspeito pelo assassinato da namorada, o policial militar Uirandê da Costa Mesquita, de 29 anos, foi encontrado carbonizado após seu sócio confessar o crime por conta de uma dívida de R$ 4,5 mil que tinha com a vítima.