Um bebê indígena de seis meses morreu durante o voo entre a Aldeia Parima, em Alto Alegre ao hangar da empresa Voare Táxi Aéreo no município do Cantá, na segunda-feira (5). Ela seria transportada até o Hospital da Criança Santo Antônio, em Boa Vista. A informação foi enviada à FolhaBV de forma anônima por uma técnica de enfermagem que atua na Terra Yanomami. Segundo ela, houve demora na remoção da paciente, o que a empresa nega. Confira a nota no fim na matéria.
À FolhaBV, o sócio da Voare Táxi Aéreo, Renildo Lima, explicou que a empresa atendeu de imediato a solicitação até o base no Surucucu, no entanto, a paciente estava numa área onde o acesso é feito somente por meio de helicóptero.
“Do Surucucu foi um helicóptero buscar o bebê, que chegou em estado gravíssimo. De volta ao avião, a criança foi colocada na UTI aérea neonatal da Voare, acompanhado por uma médica e uma enfermeira. Após uns 40 minutos, a menina infelizmente não resistiu e veio a óbito. A informação de que a Voare demorou no atendimento não procede, pois só fazemos a remoção quando o Dsei Yanomami nos autoriza. Hoje, temos 14 aeronaves a disposição dos indígenas. Dessas, oito são aeromédicas. Nossas equipes são capacitadas em urgência e emergências em UTI aérea”, disse Lima.
CASO
A reportagem teve acesso ao chamado da radiofonia de remoção, onde mostra que a criança estava internada desde o domingo (4) e foi diagnosticada com anemia profunda, além de não evacuar há três dias.
O documento ainda diz que o acionamento pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) ocorreu por volta das 8h44 da segunda. A criança morreu antes do pouso no hangar, por volta das 15h45 daquele dia. “A remoção que seria prioridade, ficou por último e chegou muito tarde. A criança foi a óbito”, comentou a servidora.
Segundo a técnica de enfermagem, a empresa Piquiatuba também presta serviços à área do Dsei-Y e possui aeronaves grandes equipadas com UTI, porém a Voare, que tem aviões de pequeno porte, estaria sendo ‘beneficiada’ por questões financeiras.
“A Voare ganhou apenas a licitação de aviões pequenos, enquanto a Piquiatuba tem a legitimidade de transporte de pacientes graves, pois tem todo o suporte e sai do aeroporto direto para resgatar esses pacientes. Mesmo sabendo disso, o Dsei Yanomami está deixando o avião que tem todo suporte de UTI parado no aeroporto para beneficiar esta empresa dos aviões pequenos. Colocam em primeiro lugar questões financeiras e não a vida dos indígenas. É muito triste”.
A FolhaBV entrou em contato com o Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi-Y), ligado ao Dsei-Y e aguarda retorno. A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde não enviou resposta até o fechamento da matéria.
A empresa Voare Táxi Aéreo Ltda, vem por meio de nota esclarecer que detém contratos com diversas repartições públicas federais, o DSEI YANOMAMI é um deles. No decorrer da nossa história já contribuímos muito com o Estado, no que tange a salvar vidas pela via aérea. Lamentamos profundamente o óbito de um membro da comunidade/aldeia Parima, o qual nós fazíamos o translado na intenção de salvar a vida de um lactente em estado gravíssimo.
Enfatizamos que ao recebermos a ordem de serviço, imediatamente encaminhamos uma aeronave, homologada junto a ANAC para o serviço de aeromédico, com todo o aparato contemplado em uma UTI aérea, mas infelizmente a lactente em estado gravíssimo do ponto de vista clínico atual (o qual foi encontrado), que já vinha recebendo cuidados iniciais pela equipe da região indígena desde o dia 04.10.2020, não resistiu o translado.
O nosso objetivo é sempre salvar vidas, nos solidarizamos com os familiares e toda a comunidade. Em vista do ocorrido, repudiamos com veemência as inconsistências levianas, pontuadas por um denunciante anônimo a imprensa, pois tais fatos não condizem com a realidade fática de nossas operações.