Cotidiano

UFRR dá início a novos cursos de extensão para reeducandos

Cursos de redação e bio-joias começam hoje e o de resenha começa na próxima semana; aulas serão ministradas na Cadeia Feminina

A Universidade Federal de Roraima (UFRR) desenvolve e promove ações voltadas aos reeducandos do sistema prisional de Roraima. São cursos coordenados pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Extensão (Prae). As atividades dos cursos de extensão fazem parte do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).
O Programa de Qualificação Profissional tem o objetivo de diminuir os índices de reincidência criminal, oferecendo capacitação, treinamento técnico e apoio estratégico como forma de propiciar aos presos um leque maior de alternativas para a obtenção de trabalho, dentro do sistema prisional e também fora, possibilitando a reinserção no mercado de trabalho.
De acordo com a pró-reitora da Prae, Maria das Graças Santos Dias, uma nova etapa de cursos de extensão para os reeducandos tem início nesta semana. Hoje, 11, começa o curso de Redação, que será realizado até o dia 22 de maio. No dia 18, terá início a o curso de Resenha, realizado até o dia 25 de maio. Ainda haverá o curso de bio-joias, que começa hoje e acontecerá até o dia 15.
Os cursos foram pedidos pelos próprios reeducandos da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc) e da Cadeia Pública Feminina (CPF), localizados na zona rural de Boa Vista. A Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania (Sejuc) foi a intermediadora dos reeducandos com a universidade. As aulas também são ministradas em convênio com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
O programa já havia realizado dois cursos anteriormente, que atenderam a reeducandos do regime semiaberto e fechado. Um de Inclusão Digital e outro de Horticultura Orgânica atenderam aos reeducandos em regime fechado na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo.
Neste ano, o curso de bio-joias foi pensado nas mulheres que cumprem pena em regime fechado na Cadeia Feminina. As aulas serão ministradas dentro da própria unidade prisional.
A pró-reitora ressaltou que os cursos são voltados para a remissão de penas. “Isto é, permitem que os dias de frequência e aproveitamento das aulas sejam revertidos para o desconto dos dias de cumprimento da pena”, explicou Maria das Graças.
Ela explicou que o projeto se trata de uma ação social. “A UFRR preza pela transformação social. É a oportunidade de qualificarmos estas pessoas pela capacitação, além da possibilidade de ressocialização e inclusão na sociedade”, relatou.
Para o segundo semestre, Maria das Graças adiantou que a instituição ministrará um curso para os reeducandos voltado à jardinagem. Para as reeducandas, o curso será de manicure. “Quando pensamos no projeto, visamos atingir uma população diferenciada. É disso que realmente se trata a ‘extensão’, levando em conta as ações de caráter social”, explicou.
Ela destacou ainda que a UFRR é a pioneira no Estado em realizar ações junto a pessoas no sistema prisional do Estado. “Estive recentemente na Universidade Federal do Acre para relatar as experiências do projeto. É gratificante quando o assunto toma repercussão nacional. Ainda mais quando isso estimula outros setores a fazerem o mesmo. Estas pessoas precisam de uma chance de reinserção na sociedade e no mercado de trabalho”, concluiu.
CADEIA FEMININA – A reeducanda P.M.S., de 32 anos, inscreveu-se para o curso bio-joias. Cumpre pena pela segunda vez e já está há um ano na Cadeia Feminina, em regime fechado. “Já fiz os outros cursos. No começo, fiz porque o tempo acaba passando mais rápido. Fica menos pesado. Mas vi que a gente aprende coisas novas e decidi me dedicar ainda mais”, disse.
P. conta que ainda não tem previsão para sair da cadeia. “Sei que os cursos contam na remissão da pena”, lembrou. “Mas ainda assim a gente tem que ter os pés no chão. Podemos ter uma sentença, ser absolvidas, sair com alvará… Nunca se sabe”, explicou.
A reeducanda relatou que da primeira vez que esteve na Cadeia, por seis meses, não fez nenhum curso. “Agora penso em sair daqui e mudar. Quem sabe fazer uma faculdade. Eu voltei para cá porque antes não tinha muito ânimo e me vi desamparada, sem emprego nem oportunidade”, lamentou.
Mas agora ela acredita que a realidade está aos poucos mudando com as experiências. “Os cursos me dão uma chance de aplicar lá fora o que eu aprendo aqui dentro”, disse. “Espero mudar de vida. Quem sabe fazer uma faculdade. Meus filhos, minha mãe e minha família estão lá fora, só esperando por mim”, concluiu. (J.P.P)
João de Barro já atendeu cerca de 370 reeducandos
Criado em agosto de 2004, num convênio formado entre a Universidade Federal de Roraima e o Governo do Estado, o Projeto João de Barro tem o objetivo de ressocializar reeducandos dos regimes aberto e semiaberto do sistema penitenciário roraimense.
Já estiveram nele, entre homens e mulheres, cerca de 370 reeducandos. O Prefeito da UFRR e coordenador do João de Barro, Raimundo Nonato Lopes dos Santos, explicou que hoje a universidade trabalha com um número de até 37 pessoas no projeto.
“Cada um recebe uma bolsa-trabalho da UFRR, no valor de R$ 600. Eles podem desenvolver várias atividades na instituição, como serviço administrativo, portaria, limpeza, roçagem e manutenção do campus”, relatou.
O prefeito universitário frisou que o intuito do programa é a reinserção laboral do reeducando. “Inclusive, muitos já estão na iniciativa privada. Acumulam uma ótima experiência num ambiente muito sadio. Por exemplo: quando atuam ajudando a equipe de refrigeração, já estão aprendendo”, disse. Conforme Dos Santos, muitos profissionais já estão atuando no mercado de trabalho.
O projeto também abrange cursos que a UFRR mantém com outras entidades. Algumas delas são do Sistema S, como é o caso do Senac. “A Universidade Federal é pioneira em qualificar estas pessoas. Muitas vezes elas saem do sistema prisional perdidas, sem rumo ou perspectiva. Vendo por este lado, eu ainda me arriscaria a dizer que evitamos a reincidência de crimes”, finalizou. (J.P.P)