Cotidiano

Sofri racismo, mas não entendi que era por ser negra, diz delegada

"Desde criança até a adolescência, eu sofria com apelidos, por exemplo, mas eu não entendia que era em referência a minha cor, pensava como sendo uma provocação a fim de me diminuir. Eu não percebia maldade nas pessoas”, contou Francilene Vargas

Nesta sexta-feira (20) é celebrado o Dia da Consciência Negra, data que ressalta a importância do povo e da cultura africana na construção da identidade brasileira. A luta, a cultura e o papel dos negros no contexto social brasileiro, também são importantes a serem lembrados neste dia.

Entre tantas pessoas que sofreram racismo por conta da cor, está a delegada Francilene Vargas, 50. Ela relatou que antes de ser delegada havia sido vítima de discriminação, mas não relacionava com racismo.

“Na escola, desde criança até a adolescência, eu sofria com apelidos, por exemplo, mas eu não entendia que era em referência a minha cor e não entendia como racismo, pensava como sendo uma provocação a fim de me diminuir. Eu não percebia maldade nas pessoas”, contou a delegada.

Francilene depois de entender que sofria racismo, pode lidar de uma maneira diferente. “Falavam sobre meu cabelo, meu peso, minha cor e já cheguei a ser impedida de entrar em um elevador. A partir dessas atitudes, pude compreender que as pessoas mesmo me tratando indiferente, eu não aceitaria esse tipo de tratamento”.

A delegada falou também sobre como as pessoas deveriam aprender a ignorar comentários racistas, porque cada um carrega uma força dentro de si. “Não podemos acreditar nos comentários ruins das pessoas, deixando aquilo nos abalar de uma forma tão negativa, precisamos ser indiferentes, não dando importância, pois somos capazes e fortes, não vai ser minha cor que determinará meu sucesso”, disse.

Como delegada, Francilene diz que não sofreu preconceito pela sua cor, e sim por ser mulher. “No cargo que ocupo hoje, sofri preconceito por conta de ser mulher e não negra, as pessoas também não imaginam uma mulher sendo delegada, ainda mais pelo meu tipo físico”, relatou.

“Sofri preconceito pelo fato de ser mulher delegada, pois muitos não acreditam que somos capazes de desempenhar essaa função” (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O dia da consciência negra, para a delegada deveria ser lembrado todos os dias, pois sempre tem que haver o respeito. “O dia é importante, não que os outros não sejam, mas serve como um lembrete para mostrar que ainda não chegamos ao local que deveríamos chegar. Porém acredito que, não ter preconceito de nenhuma forma é uma evolução da sociedade, estamos em busca disso, comentou.

Quanto as pessoas que praticam o racismo, a delegada comentou que, “quem tem esse tipo de prática, demonstra que não é uma pessoa saudável, tem problemas consigo mesmo. Considerando a parte legal, hoje não tem mais nenhum tipo de espaço sem uma responsabilidade penal, podendo responder criminalmente e civilmente, inclusive”.

A DATA – No dia 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data foi instituída oficialmente por meio da Lei nº10.639, de 9 de janeiro de 2003, com objetivo de despertar a sociedade para refletir sobre a presença das pessoas negras dentro dela e sobre a democratização da sua inserção nos setores sociais e econômicos de forma justa e igualitária.

Ela faz referência ao aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo de Palmares, um dos maiores líderes antiescravagistas que lutou para preservar o modo de vida dos africanos que conseguiam fugir da escravidão.

COMO DENUNCIAR – Violação de direitos humanos pode ser denunciada pelo Disque 100; a denúncia contra crime de racismo pode ser feita em delegacias comuns e naquelas especializadas em crimes raciais e delitos de intolerância.

Casos de racismo em páginas da internet ou em redes sociais, o denunciante deve acessar o portal da Safernet (https://new.safernet.org.br/denuncie) e escolher o motivo da denúncia.