A Terra tem “girado” estranhamente depressa ultimamente. Por isso, pode ser que a gente precise adiantar nossos relógios, mas você nem vai perceber. No ano passado, foi registrado o dia mais curto da história, desde que foram iniciadas as medições, há 50 anos. Em 19 de julho de 2020, o planeta completou sua rotação 1,4602 milésimo de segundo mais rápido que os costumeiros 86.400 segundos (24 horas).
O dia mais curto que até então se tinha registro aconteceu em 2005, e foi superado 28 vezes em 2020. Mas em 2021 isso ficará mais acentuado, já que os dias deste ano deverão ser, em média, 0,5 milissegundo mais curtos que o normal.
Desde a década de 1970, foi necessário “adicionar” 27 segundos no tempo atômico internacional, para manter nossa contagem de tempo sincronizada com o planeta mais lento. É o chamado “leap second” ou “inserção de segundo intercalado”. Como seria inviável ajustar nossos relógios milissegundos diariamente, essas correções acontecem quando se acumula ao menos um segundo de atraso.
É um processo parecido ao que acontece com os anos bissextos, a cada quatro anos, para sincronizar a maneira como contamos o ano em relação à translação, o movimento da Terra ao redor do Sol —uma volta completa leva aproximadamente 365 dias e seis horas, somando um dia a cada quatro anos.
Já os ajustes da duração do dia acontecem sempre ao final de um semestre, em 31 de dezembro ou 30 de junho.
A última vez que ocorreu foi no Ano Novo de 2016, quando relógios no mundo todo pausaram por um segundo para “esperar” a Terra.
Mas recentemente, está acontecendo o oposto: a rotação está acelerando. E pode ser que a gente precise “saltar” o tempo para “alcançar” o movimento do planeta. Seria a primeira vez na história que um segundo seria deletado dos relógios internacionais. Há um debate internacional sobre a necessidade deste ajuste e o futuro do cálculo do tempo.
Cientistas acreditam que, ao longo de 2021, os relógios atômicos acumularão um atraso de 19 milésimos de segundos. Se os ajustes não forem feitos, levaria centenas de anos para uma pessoa comum notar a diferença. Mas sistemas de navegação e de comunicação por satélite — que usam a posição da Terra, do Sol e das estrelas para funcionar — podem ser impactados mais brevemente.
Nossos “guardiões do tempo” são os oficiais do Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra (Iers), em Paris, França. São eles que monitoram a rotação da Terra e os 260 relógios atômicos espalhados pelo mundo e avisam quando é necessário adicionar —ou eventualmente deletar— algum segundo. Manipular o tempo pode ter consequências.
Quando foi adicionado um “leap second” em 2012, gigantes tecnológicos da época, como Linux, Mozilla, Java, Reddit, Foursquare, Yelp e LinkedIn reportaram falhas. A velocidade de rotação da Terra varia constantemente, dependendo de diversos fatores, como o complexo movimento de seu núcleo derretido, dos oceanos e da atmosfera, além das interações gravitacionais com outros corpos celestes, como a Lua. O aquecimento global, e consequente derretimento das calotas polares e gelo das montanhas também tem acelerado a movimentação.
Por isso, os dias nunca têm duração exatamente igual. O último domingo, 3, teve “apenas” 23 horas, 59 minutos e 59,9998927 segundos. Já a segunda-feira, 4, foi mais preguiçosa, com pouco mais de 24 horas.
Vale lembrar que estamos falando apenas da rotação, que regula os dias. O movimento de translação da Terra, que define um ano, não sofreu alterações significativas.
Com informações do Portal UOL.