Por Cecília Veloso – Estagiária FolhaBV
É inegável que a pandemia trouxe profundas transformações para a sociedade. Dentre elas, é importante lembrar que as máscaras sociais foram arrancadas nesta fase de mudanças. O período difícil trouxe à tona a natureza primitiva de cada ser, detalha a neuropsicóloga Leninha Wagner.
Que a pandemia tem provocado uma série de transformações em toda a sociedade, isso não é segredo para ninguém. Sejam isoladas fisicamente umas das outras, ou adotando medidas rigorosas de distanciamento físico, fato é que estas não são as únicas mudanças que as pessoas vão passar após este período pandêmico.
Além de toda as mudanças profissionais, educacionais, trabalhistas, uma que é pouco falada, mas de tamanha importância é que neste período de pandemia “as máscaras sociais foram arrancadas. E neste longo tempo cronológico deste estado pandêmico, os personagens não resistiram”. Esta é a visão da neuropsicóloga Leninha Wagner, que explica em detalhes esta definição.
Já são 10 meses em que a pandemia obrigou a esta mudança profunda de hábitos, tempo suficiente para que as pessoas possam revelar sua verdadeira identidade, reforça a terapeuta: “Quem é altruísta teve excelentes oportunidades de exercitar a solidariedade e a compaixão. E quem é egoísta e egocêntrico teve muitas possibilidades de transparecer isso em ações, com a legalidade da pandemia para usar como desculpa”, explica.
Leninha destaca que “a máscara social é naturalmente usada como um artifício, necessário para que o sujeito se lance em sua cena desejante, sendo ela o resultado mais aparente da trama de sustentação composta pela tessitura mítica do sujeito”.
Superando a antiga dialética, em que a máscara era prostrada à noção de dissimulação, “na verdade ela está em ininterrupta articulação com os significantes que correspondem, tanto às origens, como às verdades subjetivas, organizadas no mito individual do neurótico, o que é uma narrativa que desvenda sua estrutura de ficção frente as possibilidades do real”, explica Leninha Wagner.
Diante disso, ela completa, “os mitos se agenciam como tessituras significantes essenciais que conferem à verdade e às origens do sujeito suas estruturas elementares; as máscaras só encontram sustento se tecidas às narrativas míticas, apontamos, na sequência, a paradoxal constatação de que o personagem tangencie a sua verdade essencial”.
No campo psicanalítico, Leninha lembra que “elas operam para o sujeito sempre estabelecendo certa ‘hiância’, cuja suspensão implicaria na eclosão da angústia. O ‘semblante’ como máscara é sustentado pelo lugar da verdade, conforme as microexpressões da verdades secretas e muitas vezes ocultas e não sustentáveis, na camada do ‘verniz social’, que todos nós usamos”, detalha a neuropsicóloga.
Quando se fala em máscaras, Leninha pondera os conceitos fundamentais que devem ser lembrados ao se falar desta palavra: “Excetuando-se os meios artísticos predominantemente cênicos, em que se evidenciam as máscaras em sua função estética e expressiva, elas servem aos falantes como metáforas de desqualificação. As máscaras aparecem recorrentemente para indicar falsidade, vinculadas à mentira e suas dissimulações, ou como indicadoras dos esconderijos e inautenticidades que se podem armar na tentativa de velar algo que estaria por trás, como uma verdade que se emudeceria em defesa de pequenas encenações perversas”.
Mas, com a pandemia, ela é taxativa: “As máscaras caíram. Deixando à mostra quem é quem e sem o disfarce que ocultava no cenário social, pela escolha da máscara. O tempo destrói a cola e desmancha as fantasias. O tempo dá e tira como senhor soberano da verdade”, diz. “Em tempo de pandemia a essência ultrapassou as camadas dos filtros, mostrando no espelho a realidade bela ou deformada dessa nossa condição tão finita e delicada: Ser Humano!”, finaliza.