Nos últimos dias, algo chamou a atenção de pequenos e grandes investidores: um grupo no fórum Reddit, chamado de Wallstreet Bets (apostas de Wall Street), começou uma discussão sobre a possibilidade de movimentar o mercado de algumas ações que não vinham muito bem e com preço baixo. Essa conversa deu início a um estouro de forte altas em ações como Nokia, Blackberry e, a principal que tomou a frente das movimentações de alta, Gamestop.
Como se fosse um tipo de ataque às grandes instituições, o varejo se rebelou contra fundos e bancos que tinham posições vendidas (apostavam na baixa), de maneira que o fluxo de compras que entrou por meio de pessoas físicas como eu e você, foi grande o suficiente para fazer com que empresas quase quebradas, que não geravam lucros e vinham em queda livre por meses, iniciassem uma correria de alta que assustou a todos.
As ações da Gamestop (GME) chegaram a subir aproximadamente 1.642% em menos de três semanas, e quem comprou no começo da movimentação ficou milionário literalmente, enquanto grandes investidores renomados, como Steve Cohen e Dun Sundheim, sofreram perdas de mais de bilhão de dólares. O fundo Gabe Plotkins Melvin Capital chegou a perder 30% nos últimos dias por causa das movimentações que os investidores amadores inflaram.
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Mas por que o motivador dessas compras de ações sem fundamento para alta foi o fato de grandes bancos terem posições contrárias? Por que o objetivo principal de tudo aquilo, além de ganhar dinheiro, era prejudicar os grandes? A resposta é muito simples: os ganhos de quem comprou aumentam quando os fundos vendidos encerram suas operações com prejuízo. Isso se chama “Short Squeeze” (espremendo os vendidos).
A Bolsa de Valores é movimentada por oferta e demanda pura – se muitas pessoas querem comprar, o preço sobe naturalmente, e o contrário também acontece para as quedas. Logo, as ações da Gamestop vinham caindo por muito tempo, porque o sentimento geral de mercado era de que a ação deveria continuar caindo. Com isso, mais pessoas realizaram vendas esperando que ela continuasse caindo. Agora, imagine que um grande fundo de investimentos tenha uma posição bilionária vendida nesta ação acreditando que ela vá continuar caindo, mas por algum motivo ela alcança patamares de preço estratosféricos, indo contra a sua posição. Neste caso, o time de gerenciamento de risco da instituição alerta para estancar as perdas, evitando que o prejuízo aumente. Ou seja, se o fundo estava vendido em bilhões e agora, para encerrar sua operação, ele tem que comprar para fechar sua posição. Logo, é esperado que entre mais fluxo comprador ainda, além dos demais que deram início à forte alta. É aí que acontece o “squeeze”, e quem já vinha ganhando surfa uma onda de ganhos ainda mais incrível.
Após tudo isso acontecer nos EUA, tentaram replicar a mesma situação com uma ação do Brasil muito famosa entre os investidores amadores – IRBR3 –, que nesta quinta-feira subiu quase 18% em um único dia, mas logo foi reprimido por medidas protetivas da B3, evitando que testemunhássemos manipulações de preço absurdas como vimos acontecer nos Estados Unidos. Na sexta-feira as ações da IRBR3 já caíam mais de 5%.
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PERFIL – Matheus Lima, 26 anos, pós-graduando em Gestão Financeira pelo INSPER, analista CNPI-T, investidor na Bolsa de Valores e encarregado geral das análises gráficas e recomendações de ações da empresa Top Gain, que oferece diferentes treinamentos para quem quer aprender a investir no mercado financeiro.