Cotidiano

Variante do coronavírus em Manaus é 3 vezes mais contagiosa

Conhecida como P.1., a nova variante foi identificada no início de janeiro pelo Japão em turistas que vieram de Manaus

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse em audiência com senadores nesta quinta-feira (11) que informações obtidas pela pasta, após análises, apontam que a variante do coronavírus encontrada em Manaus é três vezes mais contagiosa.

“Comprovamos em Manaus uma nova variante do vírus que e espalha pelo país, uma variante mais contagiosa. Graças a Deus tivemos a notícia clara de que as vacinas têm validade com essa variante ainda. É um trabalho que estávamos esperando chegar da análise do material colhido, mas ela é mais contagiosa, na nossa análise três vezes mais contagiosa”, afirmou.

Ele não informou, porém, como foi feita essa análise nem quais vacinas teriam validade para a nova variante. A reportagem questionou o Ministério da Saúde, mas ainda não recebeu resposta.

Conhecida como P.1., a nova variante foi identificada no início de janeiro pelo Japão em turistas que vieram de Manaus.

Recentemente, análises feitas pela Fiocruz Amazônia apontam que ela já corresponde por 90% dos casos de Covid no estado.

Além do Amazonas, a variante também já foi encontrada em amostras de pacientes analisadas em São Paulo e no Pará -neste último, a variante também foi encontrada em um paciente que não tinha viajado ao estado, enquanto os outros casos eram de pessoas que tinham voltado de Manaus.

No fim de janeiro, o ministro informou que foram enviadas amostras, por meio da Fiocruz, de casos com a nova variante em Manaus para análise na Universidade de Oxford. O Instituto Butantan também já informou que a vacina Coronavac será testada contra a nova variante, mas os resultados ainda não foram divulgados.

As declarações do ministro sobre a variante ocorreram em sessão do Senado, convocada para que o ministro preste esclarecimentos sobre as ações de combate à pandemia. Pazuello é alvo de um inquérito que investiga se houve omissão da pasta nas ações para evitar o colapso de oxigênio hospitalar em Manaus.

O ministro se defendeu das acusações de omissão, afirmando que o colapso na capital amazonense se deu por má gestão dos hospitais. Pazuello disse também que poderia ser responsabilizado pela situação apenas se tivesse deixado faltar recursos para a compra de oxigênio.

“O Ministério da Saúde não tem qualquer competência para fabricação, transporte e distribuição de oxigênio. O Ministério da Saúde não tem qualquer competência para a gestão e ações de saúde nos estados e municípios, zero competência”, afirmou.

“​Se eu deixasse de ter dinheiro para comprar o oxigênio, se deixasse de ter previsão do oxigênio ou da grana, aí é responsabilidade. Agora, me desculpem, a minha ação é porque era Manaus, está bem? Faço aqui a mea culpa”, completou.

Pazuello disse ter tido conhecimento sobre a piora da situação da Covid no estado ainda no fim de dezembro, embora sem alerta oficial. “A partir de 26 de dezembro, minha observação diária começou a demonstrar que estava subindo, mas ainda não havia curva no sistema. É um telefonema, um primo, um irmão, uma tia”, disse. Segundo ele, a pasta cancelou afastamentos a partir desta data e decidiu enviar uma equipe a Manaus.

Em seguida, o ministro leu um documento com uma linha do tempo para negar ter sido alertado sobre a falta de oxigênio.

Apesar disso, ele mesmo aponta ter recebido uma ligação no dia 7 de janeiro do secretário de Saúde, que pediu apoio para transporte do material. Segundo ele, porém, não houve um alerta oficial. No dia 10, quatro dias antes do colapso, o problema também foi confirmado pelo governador do Amazonas e pelo secretário de Saúde.

“Nessa reunião do dia 10, em Manaus, ficou clara a dificuldade de logística e de grande aumento no consumo, e a White Martins estava abrindo o bico, estava com dificuldade de fazer a plenitude da demanda de oxigênio”, apontou Pazuello, segundo quem a reunião do dia seguinte apontou que “a vinda de oxigênio poderia aumentar com apoio logístico”.

Ao citar as datas, porém, ele evitou citar o colapso em 14 de janeiro. “Nada ficou para trás, nem um dia. Todas as ações foram proativas, e a vacinação será proativa também”, disse ele, citando que a pasta avalia um plano com o Ministério da Defesa de acelerar a vacinação em Manaus.

A ideia, segundo o ministro, é vacinar todos acima de 50 anos no estado. “Nós vamos vacinar todos acima de 50 anos na primeira pernada, acelerando, sem tirar dos estados. É apenas acelerar aqui e devolver na segunda pernada”, disse.

O ministro disse que concorda que o aumento na quantidade de casos era previsível, mas que a intensidade surpreendeu a todos. Pazuello acrescentou que será “drástico” se essa situação ocorrer em alguma outra localidade do país.

“Quando se fala de aumento previsível, eu concordo. Havia um aumento previsível, mas não na velocidade da curva que nós vimos. O aumento previsível vinha também pela sazonalidade do ano: nós estamos no meio do inverno do Norte, que é a chuva, e o momento da chuva no Norte aumenta as doenças pulmonares”, afirmou.

Entretanto, o próprio Ministério da Saúde diz que o tempo seco traz mais problemas respiratórios.

“Então, esperava-se que houvesse um novo aumento dessa contaminação neste momento, e nós estávamos preparados para isso, mas não para o tamanho do impacto e da curva que aconteceu. Ninguém estava. E não adianta eu querer dizer que estava, que eu deveria estar, que todos têm que estar. Se essa curva acontecer em qualquer lugar do Brasil, vai ser drástico. Se nós tivermos, em três semanas, 150%, 150%, 120% e 90% de aumento, não há estrutura que aguente.”

*Fonte: Folhapress