Cotidiano

Cruz Vermelha apresenta balanço humanitário de ações em Roraima

Com escritório em Boa Vista (RR), Comitê Internacional da Cruz Vermelha observa que pandemia representa desafio adicional a populações impactadas pela migração

A pandemia de Covid-19 representa fardo extra para as populações mais vulneráveis, como migrantes e populações que os recebem, comunidades impactadas pela violência armada, famílias de desaparecidos e privados de liberdade.

Esse desafio é identificado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Brasil e países do Cone Sul em seu Balanço Humanitário 2020, lançado às vésperas do aniversário de um ano da declaração da pandemia.

“As condições sociais e econômicas já dificultam o cumprimento de medidas de prevenção e algumas dinâmicas agravam a situação. Um exemplo são os migrantes que têm acesso reduzido a serviços essenciais”, explica o chefe do escritório do CICV em Boa Vista, Michael Pfister.

Em um ano em que a importância de medidas preventivas como lavar as mãos foram destaque, o CICV identificou carência no fornecimento de água para a comunidade local, migrantes e detidos.

Por isso, em uma das duas frentes de ação trabalhou com atividades de água e saneamento. A essas atividades, foram somadas doações de itens de higiene e limpeza além de equipamentos de proteção individual.

Um dos principais serviços prestados pelo CICV aos migrantes é do programa Restabelecimento de Laços Familiares, que facilitou mais de 120 mil oportunidades de contato direto entre migrantes e suas famílias, por meio de telefonemas, recarga de aparelhos e oferta de acesso à internet.

“Seguindo todas as medidas de proteção para evitar contaminação pelo novo coronavírus, retomamos nossas atividades em campo aqui em Roraima”, conta Pfister sobre o segundo semestre.

“Entendemos que precisávamos retomar algumas atividades porque as necessidades daqueles quem ajudamos não desaparecem com a pandemia. O trabalho precisa continuar.”

Para 2021, o CICV identificou como prioridades operacionais no Brasil o trabalho de mitigação da violência sobre os serviços públicos essenciais, ainda mais pressionados em um contexto de pandemia. O trabalho da organização também seguirá priorizando a população migrante por meio de ação direta e coordenada com outros atores em Roraima; as famílias de pessoas desaparecidas, com apoio direto e assessoria técnica a autoridades; e ainda com pessoas privadas de liberdade, especialmente vulneráveis a doenças infecciosas nos centros de detenção.

Apesar dos desafios, a chefe da Delegação do CICV no Brasil, Simone Casabianca-Aeschlimann vê com otimismo as possibilidades de resposta, sobretudo com coordenação e colaboração.

“Temos certeza de que a solidariedade e a empatia são fundamentais para superar as adversidades. É por isso que contamos com nossos parceiros, apoiadores e aliados para realizar nosso trabalho e também com a confiança depositada pelas famílias de pessoas desaparecidas, migrantes, profissionais de serviços essenciais e outras populações e comunidades com as quais trabalhamos”, conclui.

Prestação de contas

No Balanço Humanitário 2020, o CICV, além de indicar os desafios deste ano, apresenta um panorama do trabalho desenvolvido na região que compreende Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai ao longo do ano passado. Por meio de ação direta ou parcerias, foram beneficiadas equipes dos serviços essenciais e a comunidade atendida em seis cidades brasileiras por meio do Acesso Mais Seguro (AMS), que busca prevenir e mitigar os impactos da violência sobre os serviços essenciais.

O CICV também trabalhou diretamente com migrantes e comunidade receptora em Roraima, por meio de doações, oferta de água encanada e serviço de restabelecimento de contato entre familiares distanciados, com respostas para a população carcerária e com familiares de pessoas desaparecidas e autoridades para respostas a esta problemática.

Oscar, de 17 anos, é um dos beneficiados pelo programa de conectividade do CICV no abrigo juvenil masculino em Roraima. Na primeira vez que ligou para casa, estava há um ano sem falar com a família na Venezuela. “Minha mãe achava que eu tinha morrido e ficou emocionada”, conta. Ele atualmente mantém contato semanal tanto com a mãe como com o irmão, que está no Peru. “Ajudou a aliviar a saudade.”