Cotidiano

Vacinação contra aftosa inicia em comunidades indígenas

Cerca de 50 mil animais devem ser vacinados

A equipe de vacinação da Aderr (Agência de Defesa Agropecuária), responsável pela Agulha Oficial, já está preparada para, na manhã da próxima segunda-feira, 12, sair em direção aos municípios de Pacaraima, Uiramutã e Normandia, onde farão a vacinação nas comunidades indígenas das reservas Raposa Serra do Sol e São Marcos. Serão 45 dias de trabalho para imunizar cerca de 50 mil animais, cumprindo mais uma etapa para deixar, no futuro próximo, Roraima livre de febre aftosa sem vacinação.

São 16 pessoas envolvidas em equipes divididas por duplas e cada uma segue para um local pré-determinado para realizar a vacinação. Na base, que fica na comunidade Placas (entroncamento dos três Municípios), estarão quatro servidores para dar suporte na distribuição de gelo, conservação das vacinas, organização de rotas e recebimento de documentos.

Toda logística foi preparada para atender a cada 15 dias um município diferente, visando um desempenho eficiente, a fim de cumprir as metas de vacinação. As ações que envolvem os cuidados e prevenção contra o coronavírus também foram tomadas para evitar risco de contaminação dos vacinadores e dos indígenas.

Segundo o presidente da Aderr, Kelton Lopes, o Governo de Roraima, vai custear combustível, diárias e carros para o trabalho da Agulha Oficial. Nas edições passadas, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) ficava responsável por essa parte.

Para localidades longínquas, onde não há acesso nenhum, mesmo por meio de carros com tração nas quatro rodas, o Mapa destinou recursos para vacinação nessas áreas. “Um avião levará as equipes para realizarem esse trabalho”, disse a coordenadora da Região Norte e supervisora durante a Agulha Oficial, Ingryd Mota.

O Fundepec (Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado de Roraima), que é um fundo privado formado pelo setor produtivo da agropecuária local, fez também doação com recursos próprios de materiais de apoio para os serviços de vacinação da Agulha Oficial.

A 41ª Campanha de Vacinação contra Febre Aftosa terá a participação da SEI (Secretaria do Índio), que foi convidada para integrar os trabalhos de vacinação nas comunidades indígenas de Roraima, aumentando a parceria que já é composta pela Aderr, Mapa/SFA-RR, e Funai (Fundação Nacional do Índio).

Agulha Oficial completa 11 anos em Roraima (Foto: Divulgação) 

A Agulha Oficial é um serviço de vacinação contra a febre aftosa realizado no rebanho bovino que está localizado nas terras indígenas do Estado, que em 2021 completa 11 anos em Roraima.

De acordo com os fiscais agropecuários que fizeram parte da vacinação da primeira Agulha Oficial, muitas dificuldades foram enfrentadas para conseguir realizar o serviço. Não existia cadastro georreferenciado para chegar às comunidades, vias de acesso e meios de comunicação que facilitassem o trabalho dos técnicos. “Lugares onde outros serviços públicos não chegaram, a Aderr esteve presente”, ressaltou o médico veterinário Marcos Duarte.

Para descobrir onde tinha gado, eles foram perguntando aos indígenas. A informação foi de boca a boca para achar a última rês criada em lugares inacessíveis, atravessando igarapés, matas e atoleiros até chegar ao local onde estavam os animais a serem vacinados. Essa dedicação dos fiscais despertou nos indígenas a vontade de colaborar, mesmo com a desconfiança inicial.

Havia resistência por parte das comunidades, como recorda o médico veterinário e fiscal agropecuário Sylvio Botelho. “Os indígenas tinham desconfiança, pois não conheciam direito a importância de vacinar os rebanhos. Depois que eles entenderam a necessidade de imunizar o gado para livrar os animais da doença, eles se tornaram parceiros”, lembrou.
A organização das comunidades facilitou o trabalho da Agulha Oficial. Foram feitas inúmeras reuniões com entidades e associações responsáveis pela organização dos povos indígenas. Segundo Botelho, isso ajudou muito na implantação dos primeiros trabalhos, tornando mais efetiva a vacinação pela Agulha Oficial.

Os raposeiros

Carinhosamente chamados de ‘raposeiros’, os técnicos atuam nos municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã, dentro das reservas Raposa Serra do Sol e São Marcos. Lá, eles montam barracas e bases de apoio, organizam todo material que vai subsidiar os trabalhos, além de definir os agendamentos de vacinação.

Das bases, eles partem para os locais definidos para vacinação. Andam a cavalo, a pé, trator, moto, barco e carro (quando o acesso é possível), atravessam rios, igarapés, pontes, pinguelas, matas e varadouros para chegar aos locais previamente escolhidos para vacinar. “É um trabalho árduo, duro e requer da gente muito comprometimento para deixar Roraima livre da febre aftosa sem vacinação”, disse o técnico em fiscalização agropecuária Gedeon Costa, que integra a equipe de vacinação.

 Hoje, existem rotas georreferenciadas, comunicação por internet, participação massiva dos indígenas, melhorias nas estruturas físicas, dentre outros benefícios que facilitam os trabalhos dos técnicos. “Antes, eram 15 equipes, agora são seis. O trabalho era no laço, agora têm bons currais para trabalhar”, destacou Botelho.