Ao final de 2019, um vírus até então pouco conhecido pela ciência provocou a morte de dezenas de pessoas na província de Wuhan, na China, por uma doença pulmonar grave – a Covid-19.
O coronavírus (Sars-CoV-2), como foi denominado, rapidamente se espalhou a nível de pandemia e hoje registra um total de mais de 140 milhões de casos e 3 milhões de óbitos em todo o mundo.
Como agravante, em 2020, a comunidade médica e científica notificou novas cepas do coronavírus em vários países, inclusive no Brasil, que podem tornar a infecção mais transmissível e contagiosa.
Mas o que são novas cepas? O professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Alagoas (Ufal), Sérgio Lira, explica que assim como acontece naturalmente com outros vírus, o Sars-CoV-2 passou por um processo de evolução. “Essas mutações no código genético do vírus ocorrem quando ele se replica dentro do organismo humano e as características mais vantajosas para o vírus sofrem seleção natural. Quando várias dessas mutações se acumulam num subgrupo da população viral, dizemos que esta é uma nova cepa.”
O doutor e pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marco Clementino, afirma que até o momento centenas de cepas do coronavírus já foram identificadas, mas nem todas são consideradas relevantes para a saúde pública. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) estabeleceu três classificações para monitorar essas mutações: as “variantes de interesse”; “de preocupação” e “de alta consequência”.
Segundo o doutor Marco Clementino, análises preliminares das “variantes de interesse” indicam que suas mutações podem vir a causar impactos na transmissão e na severidade da doença. As “variantes de preocupação” possuem indicadores de aumento na transmissibilidade e no aumento da severidade da doença. Já as “variantes de alta consequência” possuem evidências claras de que nenhuma medida de prevenção consegue reduzir a circulação do vírus.
O CDC considera as variantes B.1.526 (detectada em Nova York – Estados Unidos); B.1.525 (Nova York – Estados Unidos) e P.2 (Brasil) como “de interesse”; e as variantes B.1.1.7 (Reino Unido), P.1 (Brasil), B.1.351 (África do Sul), B.1.427 (Califórnia – Estados Unidos), B.1.429 (Califórnia – Estados Unidos) como “de preocupação”. Atualmente, nenhuma variante de alta consequência foi detectada para o Sars-Cov-2.
O epidemiologista Luciano Pamplona, professor das faculdades de Medicina da UFC e da UNICHRISTUS, explica que entre as centenas de cepas que existem, predominam-se aquelas que possuem maior capacidade de transmissão.
“Se uma cepa for mortal, a pessoal vai pegar, vai adoecer e vai morrer. Esse vírus não tem chance de se espalhar rapidamente. Tende a se espalhar mais as [cepas] que causam infecção assintomática, doenças mais leves, como a P1, por exemplo”, explica.
Diferença entre as cepas
Segundo o pesquisador Marco Clementino, as diferenças entre as cepas ainda são mutações pontuais no genoma do vírus.
“Atualmente, não há indicativos de que uma variante altere os sintomas da doença ou a letalidade. Contudo, temos evidências de que algumas variantes possuem uma taxa de transmissão maior do que outras”, comenta.
Segundo o CDC, as variantes B.1.1.7 do Reino Unido e a B.1.351 da África do Sul são 50% mais transmissíveis que o vírus ancestral. Já as cepas B.1.427 e B.1.429 da Califórnia são 20% mais transmissíveis.
O epidemiologista e coordenador da Sala de Situação da Universidade de Brasília, Jonas Brant, explica que o mecanismo de ação das novas cepas do coronavírus no organismo humano é basicamente o mesmo do vírus ancestral.
“Por enquanto não mudou nada em relação à forma de infecção e à patogenicidade. Mas o que a gente vê é uma maior eliminação do vírus no sistema respiratório e – ainda é difícil ter certeza das causas disso – um aumento importante do número de jovens sendo internados por Covid-19”, afirma.
Segundo Brant, o aumento de jovens internados por Covid-19 pode ser causado tanto pela vantagem dessas novas cepas em infectar pessoas mais jovens, quanto pelo aumento da exposição desse grupo ao vírus através de aglomerações.
Medidas de prevenção
O professor da Ufal, Sérgio Lira, afirma que as medidas de prevenção para as novas cepas do coronavírus continuam as mesmas: uso de máscaras, manter os ambientes ventilados, evitar aglomerações, higienizar as mãos etc.
O epidemiologista Jonas Brant recomenda reforçar a filtragem das máscaras.
“Nesse momento em que a probabilidade de entrar em contato com pessoas com vírus é cada vez maior, o uso da máscara de pano deve ser substituído pela máscara cirúrgica, por baixo da máscara de pano, ou pela máscara N95 ou PFF2. O uso de filtragens melhores pode garantir maior proteção.”
Fonte: Brasil 61