Política

Espera por consultas chega até a 90 dias

Poucas pessoas estão conseguindo ser atendidas, no Hospital Coronel Mota, em menos de 30 dias depois de marcada a consulta

Usuários da rede pública estadual de Saúde reclamam constantemente da demora no agendamento de consultas e exames laboratoriais no Hospital Coronel Mota (HCM), localizado no Centro de Boa Vista. Eles alegam que é cada vez mais difícil ser atendido em menos de 30 dias.

A estudante Bárbara Camargo explicou que, após ser encaminhada de uma Unidade Básica de Saúde da Prefeitura de Boa Vista, precisou marcar uma consulta no HCM, que trata de casos hospitalares de média complexidade. Ela tem um problema relacionado à ortopedia e o tipo de consulta que solicitou é um dos mais requisitados naquela unidade.

A princípio, ela havia pensado que seu problema fosse algo mais corriqueiro, mas está há quase três meses tentando conseguir uma consulta para solucionar uma dor aguda no pé direito causada por um acidente doméstico. “Na unidade da Prefeitura não deram jeito e me passaram para o Estado. Foi aí que os meus problemas começaram. Na triagem, me pediram para fazer os exames. Demorou uns vinte dias para que ficassem prontos. Depois, eu precisei fazer outro, que demorou outros quinze dias. Agora estou esperando a consulta com o pediatra e nem sei quando vou ser atendida. Isso me preocupa, porque vejo gente com um problema parecido e já espera um retorno de até noventa dias. Eu vou precisar esperar tanto tempo, arriscando piorar a situação do meu pé?”, questionou a estudante.

O agricultor indígena Jader Jean Taulipang, da comunidade Água Fria, no Município de Uiramutã, a Nordeste do Estado, reuniu exames de sangue e urina para saber se possui hepatite. Ele sequer foi atendido por um profissional, pois deu entrada no HCM no dia 08 de maio. Os resultados só saíram esta semana, quase um mês depois. “Hoje eu soube que tenho que fazer uma nova bateria de exames. Desta vez são de infectologia”, afirmou, apontando para o papel onde se lê: “Retornar para avaliação em 90 dias”.

Jader Jean afirmou que, se sua situação fosse mais crítica, ele já teria morrido. “Iniciei tudo no começo do mês passado. E o pior de tudo é que, até que saiam os outros exames, eu não posso tomar nenhum tipo de remédio, pois pode ser muito arriscado”, lamentou.

GOVERNO – Procurado pela Folha, o Governo do Estado argumentou que a direção do HCM tem buscado articular mecanismos para realizar os agendamentos da maneira mais ágil possível. Citou como exemplo que, no primeiro quadrimestre deste ano, foram agendadas consultas para 52.264 mil pacientes, contra pouco mais de 48 mil no mesmo período do ano passado. Isto representaria um acréscimo de 7% no número de agendamentos.

Conforme o governo, o hospital modificou recentemente o fluxo de atendimento com a adoção do Protocolo de Classificação de Risco Ambulatorial. Este novo sistema permitiria uma revolução no acesso ao serviço ambulatorial, pois contribui para a celeridade no agendamento de consultas e torna o processo mais acolhedor, pois reduziu as filas na unidade.

As situações clínicas graves ou que necessitam de um atendimento prioritário são classificadas na cor vermelha e atendidas em até 30 dias. As situações clínicas menos urgentes, que necessitam de agendamento prioritário, classificadas na cor amarela, são atendidas em até 60 dias.

A nota afirma que somente as situações que, conforme regulação médica podem esperar sem maiores prejuízos à saúde dos pacientes, são colocadas na fila de espera para atendimento em até 90 dias, embora na maioria das vezes as consultas sejam atendidas antes deste prazo.

DENÚNCIAS – A população que tiver dificuldades no acesso aos serviços da unidade, pode procurar a Ouvidoria do Sistema Único de Saúde (SUS) e formalizar uma denúncia. Os registros podem ser feitos pelo telefone 2121-0590, pelo 136 (Central Nacional), por e-mail ([email protected]) e ainda por carta, que deve ser endereçada à Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), na Rua Madri, 180, Aeroporto, Boa Vista-RR, CEP 69.310.043.

A Ouvidoria tem o papel de receber demandas, orientar, acompanhar e dar um retorno ao cidadão reclamante, de acordo com os princípios e diretrizes do SUS. (JPP)

COBRANÇA – No dia 19 de maio, a Promotoria de Defesa da Saúde, do Ministério Público de Roraima (MPRR), recomendou que o Governo do Estado e o Município de Boa Vista realizassem mudanças urgentes para a melhoria dos serviços de agendamentos de consultas e atendimento à população nas unidades de saúde.

Na ação, participaram representantes da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), Atenção Básica da Capital, Gerência do Hospital Coronel Mota, entre outros. O promotor de justiça Zedequias de Oliveira destacou, na época, que a discussão teria aberto novos parâmetros para aprimorar o entendimento entre os protagonistas da discussão.

Conforme explicou à Folha, a reunião foi motivada após o crescente número de denúncias protocoladas junto ao Ministério Público em relação à falta de esclarecimentos aos usuários do Sistema Único de Saúde. Foram discutidos planos de melhoramento das atividades realizadas pelo Estado e Município, a fim de diminuir o tempo de resposta à população. (JPP)