O vereador Sílvio Melo (PDT), do Município de Normandia, região Leste do Estado, denunciou supostas irregularidades nas obras de manutenção e recuperação da BR-433, que interliga as estradas federais BR-401 e BR-174 a várias comunidades indígenas naquela região. Ele explicou que a empresa Construtora Araújo Ltda, responsável pela obra em convênio com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), desmanchou as pontes da estrada com o intuito de refazê-las há cerca de oito meses atrás.
Até o momento, no entanto, as pontes não foram feitas, o que vem causando um grande transtorno aos habitantes das comunidades indígenas que vivem pela região e que necessitam trafegar diariamente pela rodovia. “Algumas pontes são grandes. A que passa pelo igarapé Viruaquim é um exemplo disso. O pessoal começou o serviço e até hoje não terminou, mesmo sabendo que ia começar o período de inverno e viriam as enxurradas”, disse Melo.
Há alguns dias, a barragem feita provisoriamente pela empresa cedeu devido às águas que descem em grande volume das serras. “A barragem com o escoamento não funcionou. Foi tudo levado pela enxurrada”, explicou, acrescentando que, posteriormente, se reuniu com alguns funcionários do DNIT e um engenheiro da empresa. “Eles se comprometeram a solucionar a situação. De fato, fizeram isso no fim do mês de maio. Acontece que eles utilizaram alguns tratores e derrubaram a mata ciliar do igarapé em ambas as margens”, frisou o vereador.
Melo considera o ato como crime ambiental, ressaltando que o igarapé continha algumas árvores centenárias, como copaíbas. “Vieram e jogaram os troncos no leito do igarapé para refazer a barragem, agredindo o meio ambiente. O pior de tudo é que não tiveram êxito, pois a água veio com força e levou tudo, mais uma vez. O pessoal da empresa voltou e derrubaram mais árvores. Por conta do assoreamento, acabaram mudando o leito do rio, que já tem uma curva que não existia antes”, denunciou.
Ele ressaltou que os operários da construtora voltaram a fazer o desmatamento justamente na Semana do Meio Ambiente. “Irresponsabilidade da empresa. Eles foram contratados para fazer as obras, que não têm previsão de serem concluídas. O convênio tem validade de dois anos. Mas, ao invés de recuperar, estão destruindo o trecho”, lamentou o vereador.
O parlamentar citou que várias comunidades indígenas se vêem prejudicadas com a falta da ponte sobre o igarapé Viruaquim. “Essas pessoas estão prejudicadas, correndo o risco de ficarem isoladas. Só para mencionar algumas: as comunidades da Raposa I, II e III, Pardásio, Napoleão, São Pedro, Escondido, Canavial, Camará, Araçá da Serra, Congresso, Constantino, Curapá, Gavião, Olho D’água e Copaíba, que têm sofrido com essa questão. Os carros da Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] não conseguem dar a atenção adequada para os indígenas. Fica difícil fazer uma remoção de emergência para o hospital em Boa Vista ou até mesmo comprar os proventos para as comunidades”, disse.
O vereador frisou ainda que, atualmente, trafegar pela BR-433 é uma verdadeira situação de risco. “O trecho é perigoso. Nós precisamos nos aventurar diariamente numa estrada irregular de piçarra, cheia de buracos e falhas. Eu pensei que a manutenção e recuperação estavam nos planos do convênio, mas não é isso que a gente percebe quando transita por ali”, observou.
OUTRO LADO – A Folha tentou entrar em contato com o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Roraima, Pedro Christ, mas não obteve resposta.
O engenheiro da Construtora Araújo, responsável pela recuperação da BR-433, não respondeu aos telefonemas da equipe de reportagem e não foi localizado para esclarecer as denúncias realizadas sobre a derrubada de árvores e a demora das obras. (JPP)