Cotidiano

Programa auxilia no aprendizado de alunos do ensino público

Programa da UFRR qualifica professores da disciplina de Artes na Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio e EJA

Desenvolver o aprendizado nos primeiros anos de escola é fundamental na formação da base necessária para o sucesso do restante da vida escolar da criança. Para que o aluno aprenda a desenvolver-se é preciso investir nos primeiros anos de ensino, geralmente direcionado ao Ensino Fundamental, que vai da primeira à quarta série.

Com o objetivo de tornar realidade este desafio, desde 2004 o programa de extensão Arte na Escola, desenvolvido pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), tem realizado atividades que qualificam professores da disciplina de Artes na Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Estado.

De acordo com a coordenadora do programa no Estado, Pétira Santos, o principal objetivo do projeto é incentivar o ensino da arte com a premissa de que a arte, como objetivo do saber, desenvolve, no aluno, habilidade perspectiva, capacidade reflexiva e formação de consciência. “Para isso, nós formamos, continuamente, professores, para levar metodologias que estimulem e desenvolvam o aprendizado”, reforçou.

Para participar, o professor, com qualquer formação, desde que seja pedagógica, deve concorrer ao edital de seleção publicado regulamente no site da UFRR. O curso, com duração de um ano, contém seis módulos e é gratuito.

Pétira Santos afirmou que o projeto atende a professores vindos de todas as esferas de ensino, promovendo visitas em escolas com atividades como grupos de estudos, dança, música, oficinas, entre outras atividades, chegando a atender mais de 2 mil alunos no Estado.

A professora Fátima Riso, da rede estadual de ensino, é formada em química mas diz que sempre quis trabalhar com artes por considerá-la a propulsora do conhecimento.

“Vi no projeto uma oportunidade de qualificar-me na área”, afirmou. “Lembro que eu estava prestes a aposentar-me quando comecei a trabalhar com artes. Passei oito anos desenvolvendo, com os meus próprios métodos, as atividades em sala de aula até iniciar o curso dois meses atrás. Ele tem mudado completamente meu jeito de ensinar, deu-me novos horizontes. É um curso muito rico de possibilidades para se trabalhar na sala de aula”, comentou.

Conforme Fátima Riso, a aplicação dos métodos aprendidos no Polo Arte na Escola na sala de aula não enfrenta limites ou barreiras, mas algumas vezes sofre com imposições econômicas. “Falta material porque ainda não existe a cultura de investir pesado em arte, mas a gente trabalha como pode”, ressaltou.

Como participante do programa, a professora acredita na revolução que o projeto pode causar. “A arte é motivadora. Acredito que qualquer escola, antes de realizar qualquer atividade, deveria ter uma hora de aula de arte todas as manhãs. Isso libertaria o aluno e tornaria a compreensão dele muito mais eficaz, o que mudaria completamente o ensino no mundo inteiro”, disse.

A professora Marilene Silva, também atuante na rede pública de ensino, participa do Polo desde 2005. Em entrevista à Folha, ela afirmou que hoje aplica em sala de aula o que aprendeu durante o curso. “O projeto tem uma grande importância para a gente como educadora porque ele nos ensina a criar metodologias que façam as crianças criar, ir além da imaginação deles e superar limites para criar coisas novas. Isso é muito importante nesta fase da vida, em que as crianças estão se formando para seu desenvolvimento”, ressaltou

Dentre os projetos já trabalhados pela professora, ela destacou a elaboração de livros pelos alunos. “Os alunos são estimulados a produzir livros ilustrados em alto-relevo. As histórias podem ser de autoria própria ou eles podem recontar histórias conhecidas, como a da Chapeuzinho Vermelho, por exemplo”, disse, destacando que o objetivo é despertar a criança para a produção e reflexão sobre os mais diversos temas. “O reflorestamento e o uso de drogas, por exemplo, já foram abordados. As crianças desenvolveram seus livros e cada grupo apresentou o seu trabalho no final”, relembrou.

De acordo com ela, o projeto causa surpresas até para os professores. “Os alunos gostam muito, mas o resultado do trabalho deles nos surpreende sempre de forma muito positiva. O olhar maduro deles para temas que muitas vezes são complicados para os adultos é compensador”, explicou Fátima Riso.

MÚSICA – Outro pronto destacado pela professora de Química foi a musicalização nas salas de aulas. “Eu aprendi no Polo e levei para sala de aula. Por meio da música, os alunos se libertam e aprendem de verdade. É satisfatório vê-los praticar a arte desta maneira”, enfatizou.  

Marilene Silva disse que as atividades vão além da sala de aula. “Por várias vezes, já fizemos atividades fora de sala, em horário oposto ao de aula também. O mais impressionante é que tivemos participação efetiva dos alunos. Uma vez fiz um projeto numa comunidade que estava à margem da criminalização na qual as crianças estavam expostas às drogas. Esse projeto foi incrível porque transformou aquela comunidade, trouxe as crianças para escola e mudou a vida de todas elas com certeza”, reforçou.

HISTÓRIA – O Polo Arte completou 11 anos de existência este ano. Já são mais de mil professores capacitados por meio do programa. Para o ano que vem, promete um novo desafio: a instalação do curso de pós-graduação em Arte na Escola.

De acordo com a coordenadora do projeto, Pétira Santos, a necessidade de transformar o projeto em um curso de pós-graduação surgiu devido à grande procura de professores. “Somente no ano passado, nós atendemos a 600 professores, mostrando o quanto crescemos. Além disso, queríamos dar qualificação aos professores, o que reflete nos alunos”, frisou.

“É importante destacar que o projeto continuará mesmo com a instalação da pós-graduação. A partir do ano que vem, os dois atuarão na formação destes professores, o que é um ganho sem igual”, disse a coordenadora. (J.L)