Cotidiano

Professora é transferida após denúncia

Por ter denunciado fragilidade das carteiras escolares, que se quebraram com poucos dias de uso, professora recebeu memorando

O diretor da Escola Municipal Darcy Ribeiro, localizada no bairro Equatorial, zona Oeste, afastou a professora Tailândia Duarte da unidade, acusada de denunciar para a Folha a situação em que se encontram as carteiras escolares utilizadas pelos alunos daquela instituição de ensino. Após a publicação da matéria, no dia 17, a profissional teve o seu memorando de lotação devolvido à Secretaria Municipal de Educação, pois a direção da escola a acusou de publicar “fotos e fatos inverídicos sobre a estrutura da escola”.   A professora Tailândia Duarte procurou a Folha para denunciar a situação em que se encontravam as carteiras que os alunos da Escola Municipal Darcy Ribeiro utilizavam nas salas de aula. Na ocasião, ela preferiu não se identificar, pois temia represália por parte da gestão da instituição. Na matéria, ela relatou a situação: “As carteiras estão quebradas não por ato de vandalismo por parte dos alunos, mas pela péssima qualidade do produto, que com apenas algumas semanas de uso começaram a quebrar-se”.
No dia seguinte à publicação da matéria, o gestor da unidade convocou uma reunião com todos os funcionários. O objetivo era de descobrir o denunciante. Ela afirmou que foi para a reunião aguardando a acusação, pois por diversas vezes discordou das decisões tomadas pela gestão. “O último desentendimento foi quando me posicionei contra a cobrança para utilização da máquina fotocopiadora da instituição. Ela faz parte do patrimônio público e o seu uso não pode ser cobrado sem a existência de uma lei que o autorize”, frisou.
Tailândia explicou que possui diversos grupos de bate-papo em redes sociais, onde expõe os principais problemas enfrentados pelos funcionários da instituição. “O gestor sabe que sou bem ativa quando o assunto é reivindicar nossos direitos. Então, ele só convocou a reunião para informar que eu e mais duas colegas, que compactuam com minhas ideias, seríamos advertidas”, disse.
Após a reunião, a professora recebeu o memorando, documento elaborado pelo gestor da escola colocando a profissional à disposição da Secretaria Municipal de Educação. “Sempre exerci minhas funções com dedicação e respeito. Fui expulsa da escola somente pelo fato de buscar melhorias para o melhor desempenho de minhas funções. Ele nem ao menos tinha provas de que eu era a denunciante, pois não me identifiquei na matéria”, declarou.
No documento, o gestor afirmou que a servidora em questão movimentava grupo de servidores, por meio de redes sociais e conversas informais, tanto em seu horário de trabalho quanto em seu período de repouso.
Ele destacou no memorando que no dia 17 de setembro, juntamente com outras servidoras, a professora “publicou em jornal de grande circulação, foto e fatos inverídicos sobre os procedimentos realizados naquele estabelecimento de ensino”. Alegou ainda, no documento, “que tal conduta gerou grandes transtornos e constrangimentos para todos os servidores da unidade de ensino, visto que houve exposição indevida do nome da escola”.
A servidora ainda foi acusada de deixar de cumprir com seus deveres inerentes ao seu cargo por ter ido tratar com seus superiores “possíveis irregularidades existentes no ambiente de trabalho”.
RECLAMAÇÃO – A Folha esteve na Escola Municipal Darcy Ribeiro e conversou com a mãe de uma aluna, a dona de casa Célia Alves da Silva, que relatou que a filha tem reclamado da situação das carteiras quebradas. “As cadeiras são de péssima qualidade, minha filha sempre reclama. Essa professora foi expulsa da escola indevidamente. Agora os alunos estão tendo aula a cada dia com um professor diferente apenas para atender ao capricho de um diretor que não aceita ser contrariado”, explicou. 
JUSTIÇA – Tailândia contratou um advogado e procurou a Comissão de Direitos Sociais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para resolver judicialmente o transtorno que ela alega que passou. “Não vivemos mais em uma ditadura. Fui expulsa da escola apenas por reivindicar melhorias e ainda fui tratada de forma áspera”, disse.
A justiça determinou que a profissional retornasse às suas atividades na Escola Municipal Darcy Ribeiro, pois teve o seu direito de liberdade de expressão violado pela gestão da escola. “Esta situação não poderia ficar impune, tive que ir atrás dos meus direitos, pois me senti humilhada, tentaram me censurar por procurar melhorias para o bom funcionamento da instituição”, disse.
PREFEITURA – A Folha entrou em contato com a Secretaria Municipal de Comunicação da Prefeitura para esclarecimentos em relação à conduta do gestor da instituição, mas não houve retorno até o fechamento desta edição. (I.S)