Dando continuidade à série As dores da profissão na pandemia, hoje trazemos o relato de José Raimundo Nascimento de Jesus, dono de uma funerária em Boa Vista.
“As vezes a gente sai do expediente doído pelo sentimento dos nossos irmãos que perderam alguém”
“Quando eu tinha 9 anos minha mãe faleceu. Eu morava no interior do nordeste e a cidade mais próxima ficava há 200 km. A minha mãe foi enterrada em uma rede porque não tinham urnas para vender na minha cidade”
“Naquele dia eu pensei “quando crescer vou trabalhar com funerária”, o primeiro serviço que eu aprendi a fazer foi fabricar caixão, para depois passar a cuidar diretamente do corpo, montar velórios e nunca desempenhei outra profissão”
“Nosso serviço sempre foi muito delicado, pois recebemos pessoas fragilizadas que perderam um ente querido”
“Neste período, a gente está sofrendo muito porque além de ver amigos perdendo familiares, nós estamos perdendo os nossos também”
“Só quem passa por este momento sabe aonde dói. É uma dor que só Deus pode confortar”
“Caixão lacrado é complicado, porque todo quer ver se verdadeiramente é seu ente ali dentro”
“Nunca tinha passado por uma situação dessa, porque agora é o fulano de tal que tinha saúde para dar e vender, aí você fica pensando se será o próximo”
“A gente está aqui mas não sabemos se daqui cinco ou dez dias ainda estaremos”
“A única certeza que nós temos é que vamos morrer, mas não podemos nos conformar. Temos que nos preparar para prolongar nossos dias de vida, respeitar as autoridades, usar máscara, lavar as mãos… Cuidar tanto da gente quanto dos nossos amigos, parceiros e da nossa família”
Produção e Imagens: Néia Dutra / FolhaBV
Apoio na reportagem?: Maria Turco / FolhaBV
Edição de Vídeo: Giover Herrera / FolhaBV