Cotidiano

Guias turísticos suspeitam que água barrenta seja resultado de garimpo

Agentes de turismo descartaram que a água tenha ficado turva apenas pela chuva; moradores discordam

Imagens feitas nesta sexta-feira (9) mostram a Cachoeira do Cupim, na serra da Vila Tepequém, em Amajari, bem diferente do que os turistas costumam apreciar: as águas límpidas deram lugar a uma cachoeira barrenta, com água bem turva, semelhante à lama.

Confira o vídeo:

 

A situação entristeceu turistas e agentes de turismo que frequentam o local e são conhecedores da região. Profissionais e um turista, que vão ao local com frequência e preferiram não se identificar, descartaram que a cor das águas seja resultado apenas da chuva, porque, segundo eles, outras cachoeiras da região mantiveram as águas límpidas. 

Eles atribuíram o fenômeno a uma possível atividade mineradora na região, que estaria gerando impactos estéticos e ambientais na região. “Esse tipo de coloração em pleno dias de sol na Serra é a primeira vez nesse local. Porque é totalmente lama, não é água turva. (…) Isso não é de agora, outras situações vêm acontecendo aqui e ninguém faz nada”, disse uma das pessoas ouvidas pela Folha.


Foto da Cachoeira do Cupim tirada por turista. (Foto:Abraão Filho/Pinterest)

O garimpo faz parte da rotina de Tepequém. Referências históricas confirmam que a atividade na região ocorre desde a década de 1930. 

O lugar sofreu profundos impactos negativos com a chegada das máquinas de mineração, que abriram crateras no solo, aceleraram o processo de erosão em diversas partes, e assorearam os igarapés que nascem na serra.

Na década de 1990, foi proibido o uso de máquinas, e a atividade do garimpo diminuiu muito, causando um grande êxodo na região. No entanto, atualmente, conforme fontes ouvidas pela reportagem, a mineração manual é atividade recorrente. 

Moradores negam

Moradores procurados pela Folha negaram que esteja ocorrendo atividade garimpeira na região, e disseram que a cor da água se deve às fortes chuvas nos últimos dias. 

Um deles informou que como a atividade mineradora é artesanal, mesmo que estivesse sendo realizada, não teria o poder de deixar as águas desta cor. 

Fiscalização

O Estado tem uma Lei Estadual que autoriza e regulamenta o garimpo. A Folha questionou do Governo do Estado como funciona esta fiscalização. Confira a resposta: 

A Femarh (Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) faz a fiscalização de atividades mineradoras, mas informa que não recebeu nenhuma denúncia a respeito dessa situação.

Esclarece que vai enviar uma equipe técnica ao Tepequém, com a finalidade de averiguar o que está acontecendo e fazer uma coleta de amostras, para assegurar que não está ocorrendo atividade mineradora que possa provocar impactos ambientais e prejuízos ao turismo na região.

Nos trechos de rios que ficam dentro da área estadual, é feita a coleta para avaliação da qualidade da água, índice de contaminação por mercúrio ou outros materiais pesados e óleo diesel. Este material é enviado para ser analisado em laboratório em São Paulo, por conta da necessidade de análise mais específica.

Ressalta ainda que há um limite de competência de atuação. A fiscalização dentro de rios em áreas indígenas é de responsabilidade do governo federal.

Acrescenta que é realizada a fiscalização por monitoramento de satélite de possíveis áreas de garimpo e, até hoje, não localizou nenhuma atividade garimpeira em área do Estado. Foram identificados em Roraima três locais com atividade garimpeira e desmatamento em reservas federais e terras indígenas, às margens dos rios Mucajaí, Catrimani e do rio Uraricoera.

O Governo do Estado tem uma Lei Estadual que regulamenta o garimpo. Essa regulamentação é apenas o licenciamento ambiental em áreas estaduais, o que é competência do Estado, não estando inseridas áreas federais ou indígenas. São procedimentos administrativos necessários para a fiscalização dessas atividades, para que não causem danos ambientais em áreas estaduais.