Cotidiano

Crianças esperam até três meses por consulta no Hospital Santo Antônio

Mães denunciaram que, além da espera, o hospital está há mais de um mês sem ressonância magnética com sedação e anestesia

A espera por consultas com especialistas, como neurologista e psiquiatra, pode durar até três meses no Hospital da Criança Santo Antônio, em Boa Vista. É o que duas mães de filhos autistas disseram à Folha.

“Tem muita gente na lista de espera. Se você vai procurar psiquiatra, não tem. Se você vai procurar um neuro, não está tendo. Tudo tem que ir pra lista de espera e agora que estão atendendo pacientes do mês de abril, vai passar pra maio agora”, relatou a dona de casa F.R.S, mãe da pequena S.V.S.L, de dois anos, que é pessoa com autismo.

A reportagem esteve nesta quinta, na unidade, para checar a situação. Uma funcionária confirmou a existência de pacientes com mais de três meses na fila de espera.

Mas esse não é o único problema relatado pelas mães, que denunciaram a suspensão da ressonância magnética com sedação e anestesia. Segundo elas, há mais de um mês não existem novas marcações desse exame, que em clínicas particulares pode custar de R$ 1.800 a R$ 2.200.

A filha de dona F.R.S. foi diagnosticada com autismo – cientificamente conhecido como Transtorno do Espectro do Autista (TEA) -, mas só a ressonância vai apontar qual o nível da síndrome enfrentada por ela. A mãe, inclusive, precisou deixar o emprego de operadora de caixa para cuidar da bebê, que demonstra sinais agressivos.

“A gente está há mais de um mês tentando marcar uma ressonância no Hospital da Criança. O serviço tá suspenso, o prefeito não renovou o convênio com a clínica (responsável pelo serviço) e aí não tem como marcar, não tem previsão pra marcar, e eles só dizem isso. […] Minha filha é autista, tem um tipo de retardo, é agressiva, se bate, se morde, bate a cabeça na parede, tem essas crises durante o dia”, relatou.

Quem também precisa do exame para fechar um diagnóstico completo é o pequeno Victor Samuel Costa da Silva, de seis anos. A mãe Suelen Costa é outra que deixou o emprego para cuidar do filho, cujo diagnóstico parcial é de nível 2 de autismo.

Sem ter como pagar a ressonância e o tratamento na rede privada, a família vai realizar no Dia das Crianças, nas redes sociais, um sorteio para tentar arrecadar o dinheiro necessário para custear as despesas médicas.

“Só quero realmente que resolvam isso, pro meu filho e outras crianças que também estão na fila de espera. É um exame de custo muito alto e tenho certeza que muitas pessoas não têm esse dinheiro”, relatou Suelen Costa.

Outro lado –

A Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) informa que o procedimento de ressonância magnética é de responsabilidade do Governo do Estado, conforme previsto na Resolução em CIB/RR de 04/2017. A partir desta resolução, o Governo do Estado enviava cotas para realização desse exame das crianças do Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA), no entanto, nos últimos meses o Estado não tem disponibilizado as cotas para a Secretaria Municipal de Saúde.

Está sendo verificado com o Estado a possibilidade para dispor de cotas para pacientes que foram atendidos no ambulatório do HCSA (aqueles em que o exame foi solicitado e a criança está em casa).

Quanto aos agendamentos de consultas no HCSA de especialistas em psiquiatra e neurologia, ressalta que está buscando contratar profissionais. A prefeitura já realizou dois seletivos e não compareceu profissionais suficientes para atender a demanda.