Cotidiano

Sesp lança programa contra as drogas e inclui o Beiral nas ações

Lançamento será na Praça Germano Augusto Sampaio, no Pintolândia, que é um local dominado pelo tráfico de drogas

Criado em 2011 pelo Ministério da Justiça, o programa “Crack – É possível vencer” é considerado uma das principais ferramentas de combate à criminalidade no país. Agregando uma série de ações integradas com outras instituições, a iniciativa visa principalmente a redução dos riscos sociais propiciados pelo uso de drogas, sendo acessível para todas as unidades federativa.

Em 2013, o Governo do Estado assinou o termo de adesão com o ministério para implantar o serviço em Roraima, mas somente agora, um ano depois, o programa será enfim lançado oficialmente. De acordo com o secretário estadual de Segurança Pública (Sesp), João Batista Campelo, o lançamento oficial será nesta quinta-feira, 02, às 16 horas, na Praça Germano Augusto Sampaio, no bairro Pintolândia, Zona Oeste. Essa praça está dominada pelo tráfico.

“A Sesp tem viabilizado diversos convênios junto à Senasp [Secretaria Nacional de Segurança Pública], e todos eles objetivam trabalhar a repressão do tráfico de drogas, seja dentro da Capital ou nas fronteiras. Todo esse trabalho está inserido dentro do organograma do programa ‘Crack – É Possível Vencer’. O convênio da iniciativa foi firmado 2013, mas só agora é que de fato será implantado”, frisou.

Segundo o secretário, o programa trabalha com dois eixos de atuação, que são trabalhados em conjunto com vários órgãos estaduais. Fazem parte do comitê gestor da ação a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed), Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) e outras, além das instituições de segurança, como Polícia Militar (PMRR), Polícia Civil, Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CBMRR).

“Dentro desse programa existem dois eixos. O primeiro deles é o eixo autoridade, que é justamente o que trabalha com a repressão propriamente dita. Isso tem muito a ver com a integração das polícias. Ou seja, junto com a Polícia Federal e a Polícia Civil, nós vamos fazer um trabalho forte nas fronteiras, dando maior efetividade às ações de fiscalização, no sentido de apreender ilícitos. Atrelado a isso, temos ainda o eixo cuidado, que está relacionado à prevenção e à atenção ao dependente e a seus familiares”, disse.

“Dessa maneira, teremos um conjunto de ações que visam fortalecer a questão do atendimento de saúde e a atenção social, pois é função nossa fazer a reinserção social do dependente químico, e não tratá-lo simplesmente como doente ou alguém ruim. Apesar de sabermos que em um país capitalista, como o nosso, essas pessoas são tratadas como um peso morto, sem capacidade de produzir algo de bom para a sociedade e que só dá trabalho e despesa para as administrações públicas, nós temos que mudar essa visão. Acreditamos que teremos êxito com a implantação desse programa”, destacou.

Vinte câmeras de monitoramento e viaturas darão apoio às equipes

O programa contará com 20 câmeras de monitoramento, além de viaturas que darão suporte às atividades das equipes. Os locais escolhidos são as praças Germano Augusto Sampaio (Pintolândia), Mané Garrincha (Tancredo Neves) e Cambará (bairro Cambará), todas localizadas em bairros da zona Oeste da Capital.

“Esse mês, nós iniciamos o treinamento dos 30 profissionais que vão compor a equipe de monitoramento do programa. Na solenidade de lançamento, nós teremos a apresentação da viatura que fará esse trabalho e essa demonstração contará com a presença da governadora Suely Campos (PP). Nós estamos ainda vendo a possibilidade de conseguir mais uma viatura para dar maior amplitude ao programa”, pontuou.

Sesp anuncia ações para reprimir o tráfico na área conhecida como Beiral

O consumo de drogas sempre foi uma das grandes preocupações não só das autoridades, mas também da própria sociedade. Conforme relatório de 2014 da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 5% da população mundial com idade entre 15 e 64 anos é usuária de algum tipo de ilícito. Isso corresponde a aproximadamente 243 milhões de pessoas. Em Roraima, temos como exemplo negativo a área Caetano Filho, popularmente conhecida como “Beiral”, no Centro da cidade.

Naquela localidade, o comércio da droga pode ser visto a olho nu, onde cada espaço é disputado por usuários. Para onde se vai, a sensação de que algo social está faltando é nítida. “Toda essa sujeira que você está vendo aí foram eles. É um cigarro, é um papelote e a grande maioria desses meninos ai [usuários] possui família. Muitas vezes, a gente presencia um parente a procura de um. Em alguns casos, eles conseguem até levar para casa, mas quatro dias depois, o mesmo dependente acaba voltando. Então falta iniciativa do poder público pra tirar essas pessoas do vício”, comentou a comerciante Sandra Maria Silva, 50 anos, que mora e trabalha no Beiral.

Dona de um restaurante próximo ao mercado de peixe, Sandra Silvia disse à Folha que a peregrinação dos usuários de drogas reflete negativamente no dia a dia dos comerciantes. “Tem muito cliente que diz que deixou de frequentar o meu restaurante por causa deles, pois toda vez que alguém aparece, eles ficam pedindo dinheiro”, disse.

Durante a visita da equipe da Folha, uma viatura do Ronda no Bairro, da Polícia Militar – programa do Governo do Estado – fazia a verificação local. Mesmo com o patrulhamento da equipe, muitos usuários pareciam não se intimidar com a presença das autoridades policiais.

“Na questão de policiamento, aqui não se tem o que reclamar. Tem sempre uma viatura passando por aqui, mas eles já nem se intimidam mais. Graças a Deus, o meu restaurante nunca foi furtado, até porque esses usuários têm medo, mas a gente fica sem faturar devido a essa aglomeração, porque as pessoas se amedrontam até de chegar aqui. Houve uma vez que uma vizinha me falou que tinha dois deles fazendo sexo na frente de todo mundo. Se eu tivesse presenciado, eu teria expulsado na hora ou tinha chamado a polícia. Então, não tem como alguém chegar aqui pra comer alguma coisa, ou até mesmo comprar peixe das barracas perto do porto, fora que aqui no bairro tem muita criança”, disse a moradora.

SESP – Questionado sobre a questão do Beiral, o secretário de Segurança, João Batista Campelo, disse que a secretaria já trabalha em métodos para coibir a venda livre de drogas. Para isso, setores de inteligência deverão ser, em breve, reforçados para iniciar uma série de ações para desarticular a rede que abastece o tráfico no local.

“Em verdade, o consumo naquela localidade se dá por meio de um tráfico ‘formiguinha’, uma venda localizada em pessoas que perambulam por lá como verdadeiros zumbis. Nós já estamos observando como funciona a movimentação desses grupos e agora o próximo passo é reforçar o nosso setor de inteligência. A intenção é saber de onde estão vindo essas drogas, combatendo o mal na origem. Nada de pegar só uma trouxinha ou um papelote. É realmente agir com foco na apreensão de quantidade, desmobilizar o traficante. É tirar das suas mãos o seu poder financeiro”, concluiu. (M.L)