Cotidiano

Servidores da Sesai denunciam falta de condições de trabalho e maus-tratos

Cinco servidores de Roraima prestavam serviços nas comunidades da região de Barcelos, no Amazonas

A falta de condições de trabalho nas comunidades indígenas motivou servidores terceirizados da Secretaria e Distrito Sanitário Especial Indígena de Roraima (Sesai-RR), contratados por meio da Missão Evangélica Caiuá, a denunciarem a realidade vivida por eles longe de casa e da família. Cinco funcionários estavam na região de Barcelos, no Amazonas.

Entre os problemas enfrentados na saúde indígena, está a falta de pista de pouso regularizada para que os servidores possam chegar às comunidades e sair em segurança. Segundo eles, com as pistas tomadas pelo mato, os funcionários são mantidos nos polos sem poder sair devido à falta de infraestrutura.

“A empresa não se nega a nos retirar do local, mas se nega a pousar nas pistas clandestinas, uma vez que elas estão sem condições de tráfego”, relatou um dos trabalhadores. Um deles contou que chegou no dia 7 de outubro na região e deveria ter retornado 30 dias depois, só que teve que ficar mais uma semana por causa da alegação da empresa. 

Os servidores afirmaram que vão protocolar uma denúncia junto ao Ministério Público de Roraima (MPRR).

Falta de alimentação

A demora na retirada ocasionou uma série de prejuízos aos trabalhadores, desde a falta de alimentação, que é um quesito básico para o ser humano, até a saudade da família. Eles foram enviados à comunidade no dia 7 do mês passado e deveriam retornar no dia 7 de novembro.

“Nós sofremos maus-tratos, pois ficamos sem alimentação e não temos local adequado para o trabalho. Os indígenas roubam nosso alimento de dentro do posto, porque o local não tem segurança e nem pessoal suficiente para trabalhar. Quando estamos dando atenção para uns, o restante do posto fica desprotegido e eles aproveitam para pegar nossa comida”, afirmou.

Os trabalhadores contaram que se organizam para passar um mês nas comunidades e quando ocorre imprevistos, a situação que já é precária, piora, principalmente com relação ao armazenamento de alimentos. Eles informaram que não tem energia elétrica e sim placas solares, mas o inversor queimou e não foi mais reposto.

“A gente leva alimentação para 30 dias e como ficamos mais do que o período estipulado, ficamos sem comida e ainda fomos roubados”, criticou um servidor, ao acrescentar que para conservar a proteína, é necessário salgar, pois não tem outra forma de conservar a alimentação.

De acordo com os funcionários, o local onde funciona o posto de saúde é o mesmo utilizado como casa de apoio aos profissionais da Sesai. O espaço está depredado e não tem nenhuma segurança.


Servidores da Saúde são enviados pela Sesai às comunidades para atendimento a indígenas  (Foto: Arquivo pessoal)

Não tem assistência

À redação, os servidores relataram outros problemas enfrentados nas comunidades como a falta de condições de trabalho e de qualidade de vida, além da falta de assistência por parte da Sesai, de comunicação com a família durante o período de trabalho e solicitou que as reivindicações sejam atendidas.

“Para oferecermos um atendimento de saúde de qualidade aos povos indígenas, precisamos de condições de trabalho, desde equipamentos básicos, como também de infraestrutura. Para não passarmos mais dificuldades, levamos materiais com recursos próprios como bombas d’água, inversor de tenção e outros”, assegurou.

Sem comunicação

Quanto à comunicação com a família, os funcionários ressaltaram que a comunidade não dispõe de internet, tendo o rádio como único meio de comunicação. “Muitas vezes ficamos mais de um mês longe da nossa família, sem notícias e sem acesso a nada”, declarou um servidor da Sesai.

Uma das servidoras contou que soube que o filho estava com coronavírus e precisava, inclusive, ser intubado. “Quando soube que meu filho estava com Covid-19, fiquei desesperada e lutei muito para poder vir para casa. Só com muita discussão, eles me deixaram sair”, contou.

Ela destacou que existe um protocolo da empresa para que os servidores sigam, para o bom desenvolvimento do serviço nas comunidades. Segundo a funcionária, chegou o dia da retirada deles de dentro da comunidade, mas a aeronave não foi. Ela já estava com a bagagem preparada e precisou aguardar mais uma semana.

“Nós seguimos as orientações do protocolo, mas não temos retorno. Precisamos que as nossas solicitações sejam atendidas, para podermos oferecer uma assistência de qualidade ao povo indígena e também mantermos a nossa saúde física e mental boa”, completou.


Servidora deveria ter retornado no dia 7 de novembro, mas a viagem de volta para casa só foi possível uma semana depois  (Foto: Arquivo pessoal)

Demissão

Durante a produção da reportagem, uma das servidoras informou que foi chamada na empresa Missão Evangélica Caiuá para ser demitida, possivelmente, por causa das denúncias feitas aos meios de comunicação. Ela foi contratada há 11 meses pela Missão Evangélica Caiuá.

Ela afirmou que a contratação dos funcionários é por meio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), quando é assinada a carteira profissional do trabalhador. “Não me deram nenhuma justificativa, só me disseram para assinar o aviso prévio. Ainda tem a situação de que durante o período que estava na comunidade fui mordida por um morcego. Isso é um acidente de trabalho”, citou.

O que a Sesai diz

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde, responsável pela Secretaria e Distrito Sanitário Especial Indígena de Roraima (Sesai-RR), e aguarda retorno.

Veja vídeo da situação do local de trabalho dos servidores: