Dez dos 16 acidentes provocados por desgastes no trecho da BR-174 entre Boa Vista e Manaus, registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) entre janeiro de 2020 e novembro de 2021, ocorreram à luz do dia. É o que aponta o levantamento da corporação, solicitado pela FolhaBV.
Os dados revelam, em resumo, que nesse período, a maioria dos acidentes ocorreram no trecho de Roraima: nove contra sete no Amazonas. Além disso, as ocorrências envolveram seis motocicletas, quatro caminhões tratores, três caminhonetes, dois automóveis e uma motoneta.
Considerando apenas 2020, quando ocorreram nove acidentes, cinco foram entre 19h30 e 4h30. No ano passado, nesse intervalo de horário, três motocicletas caíram com ocupantes, um caminhão trator tombou e um carro saiu do leito carroçável (a porção da plataforma da via que compreende a pista e os acostamentos, quando existem).
Em 2020, quatro acidentes causados por falhas na rodovia ocorreram entre 6h e 17h. Nesse intervalo, houve dois tombamentos (um caminhão e uma motocicleta), a saída de um carroçável de um carro e a queda de ocupante de uma moto.
Nos primeiros 11 meses de 2021, a PRF registrou sete acidentes, sendo seis à luz do dia (5h30 a 18h30). Os dados para esse período são mais específicos e incluem, por exemplo, o capotamento de uma caminhonete por causa do afundamento ou ondulação do pavimento, a queda de ocupante de uma moto em um acostamento desnivelado e o tombamento de um caminhão trator por causa da pista esburacada.
Além disso, houve a saída de duas caminhonetes do leito carroçável, sendo uma por causa da pista esburacada e outra por demais falhas na via. A PRF computou, ainda a colisão lateral no mesmo sentido de um caminhão trator, ocorrido no horário de 5h, e a queda de ocupante de uma motoneta por causa da pista esburacada, às 21h55.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Roraima (Crea-RR), o engenheiro civil Neuvânio Lima, explicou que, entre os vilões do desgaste de rodovias como a BR-174, estão a fiscalização ausente ou ineficiente do peso das cargas transportadas por caminhões e carretas na extensão da via, e a chuva.
“O inimigo número 1 do asfalto é a água. Quando começa a criar algum tipo de problema na estrada, o conserto tem que ser feito o quanto antes, porque um buraco tende a aumentar de forma gradativa. Então, essa manutenção, sendo de forma preventiva, ela evita e minimiza os impactos de manutenção em toda a sua extensão”, explicou ao programa Quem é Quem, da Folha FM, na semana passada.
A última pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), de 2019, que avaliou a qualidade das rodovias federais, mostrou que o lado amazonense da BR-174 era o pior, ao considerá-lo “ruim”, o que foi constatado presencialmente pela FolhaBV. O DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) ainda não respondeu os questionamentos da reportagem sobre as atuais condições da BR-174, a fiscalização e os projetos para melhorá-la.
Sobre a fiscalização da pesagem, a Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz) reforçou que não há margem para qualquer tipo de irregularidade no trabalho feito pelo posto da vila Jundiá, em Rorainópolis, e que mantém um sistema de pesagem de veículos que é filmado por câmeras se segurança, inclusive os diálogos entre os fiscais e motoristas.