Comprar frutas, hortaliças, verduras e legumes nas feiras livres de Boa Vista está mais caro. Conforme o empresário Antônio Pereira, conhecido como Goiano, vendedor dos produtos na Feira do Produtor, devido ao inverno com poucas chuvas, a inflação crescente e o aumento considerável dos preços de custo e produção, os preços destes produtos, geralmente mais baratos nas feiras, subiram de uma maneira desproporcional e têm se equiparado aos dos supermercados.
“O quilo da cebola, por exemplo, que custava, em média, de R$ 4,00 a R$ 5,00, agora está na variável de R$ 8,00 a R$ 9,00, então para que vir à feira nesse calor, se no supermercado ele custa o mesmo preço e ainda tem ar-condicionado?”, indagou Goiano.
De acordo com o feirante, produtos como mamão, abacaxi e tomate estão cada vez mais difíceis de serem comercializados, pois tiveram um aumento de mais de 100% no seu valor. “O mamão, por exemplo, nós conseguíamos revender até por R$ 1,20. Agora, nós estamos vendendo a unidade a R$ 2,30. Algumas unidades chegam a R$ 3,00”, disse.
Goiano explicou ainda que uma das principais dificuldades enfrentadas pelos feirantes é o transporte das mercadorias do interior do Estado para a Capital. “O frete está muito mais caro. Já teve vez que a caixa do abacaxi estava mais barata que o frete”, revelou. Para o feirante falta incentivo do Governo para escoar a produção do interior do Estado e isto influência diretamente no preço. “Antigamente, tinha um caminhão do Governo que ia a todas as comunidades buscar os produtos. Agora, nós temos que fazer isso individualmente, por isso sai bem mais em conta comprar de um grande produtor do que comprar produtos provenientes da agricultura familiar”, destacou.
A feirante Sandra Maria Maduro, que trabalha com a venda de verduras e frutas na Feira do Pintolândia, realizada nas manhãs de sábado, afirmou que além da produção local estar mais cara, os produtores têm sentindo dificuldades por não poderem vender seus produtos fora do Estado. “A gente sai perdendo de todas as maneiras. A maioria da mercadoria que eu vendo é produzida por mim. Ou compro de outros produtores daqui para revender. Mas nossa produção se estraga muito porque não podemos mandar para Manaus. Acaba que a gente tem que vender muito barato para não estragar e, com isso, saímos perdendo bastante”, explicou.
A dona de casa Marlene Socorro Pereira Ferreira afirmou que vai à feira todos os finais de semana. Para ela, o número de consumidores que frequentam as feiras está cada vez menor. “A gente vê, a cada dia, que passam menos pessoas aqui. Mas é fácil de entender. As verduras regionais que são vendidas aqui estão bem mais caras nas feiras e tem muita gente indo para os supermercados comprar o produto que vem dos outros estados em vez de consumir algo mais fresco e local”, ressaltou.
Conforme a consumidora, a situação desanima a todos. “É triste porque a gente, que tem esse costume de ir à feira todo sábado cedinho, já tem uma relação de amizade até com os vendedores. Mas a venda deles tem caído muito. Eu mesma compro só o que está um pouco mais barato ou igual ao do supermercado, porque não tem como arcar com esse prejuízo, mesmo preferindo os produtos mais fresquinhos da feira”, ressaltou.
O servidor público João Carlos disse que os preços estão “salgados”. “São praticamente os mesmos preços cobrados nos supermercados. E na feira deveria ser bem mais barato”, disse.
Para a dona de casa Leonice de Araújo Costa, tem que pesquisar para encontrar os melhores preços. “Tem muita diferença de preço de um abarraca para outra. Às vezes, até coladas uma na outra e preço cai em um ou dois reais no mesmo produto”, disse. “O tomate estava de nove reais num local e encontrei um até melhor por cinco. Tem que andar e pesquisar”, frisou.
Sem apoio para escoar produção, feira está perdendo a referência
“A Feira do Produtor aos poucos está perdendo sua referência, que é comercializar produtos regionais”. Foi com essa frase que o empresário Antônio dos Santos Fernandes iniciou sua entrevista com a Folha sobre as dificuldades que os produtores do interior do Estado encontram para produzir e escoar sua produção até a feira. Entre os produtos regionais que podem ser encontrados na feira, além do tomate, estão a pimenta, a pimenta de cheiro, a macaxeira, o pimentão, o pepino e a bata doce.
Há mais de dez anos em atividade no local, ele conta que ao longo dos tempos o Governo do Estado foi deixando de dar incentivos, entre eles, o transporte, que diariamente trazia os feirantes com seus produtos e a formação de uma cooperativa para fortalecer os produtores. “Sem o transporte, os feirantes têm que pagar o frete e isso aumenta o preço dos produtos”, disse.
Outro ponto destacado foi em relação à produção do tomate regional e de outras hortaliças que precisam de um manejo adequado. “Para plantar tomate, tem que ter incentivos. E sem esse apoio do Governo fica difícil e, por isso, o produto chega à feira do mesmo preço que o que vem de fora ou até mais caro”, disse. “E neste período e chuvas, quem não tem viveiro, que são quase todos os produtores, perde a plantação do tomate. E os que conseguem produzir, muitas vezes não conseguem levar o produto até a feira devido à situação ruim das estradas. O movimento está parando na feira”, frisou.
Ele contou que a falta de produtos regionais o levou a comercializar tomate e cebola comprada em Manaus-AM, mas vindas de outros estados, como Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. “Sai mais barato e vendemos mais. E além de mim, muitos outros feirantes estão fazendo o mesmo”, disse.
Porém, Antônio Ferreira persiste em vender produtos regionais na sua banca há mais de 20 anos. Pimenta de cheiro, batata doce, pimentão, maracujá, jerimum, abóbora e feijão verde são alguns dos produtos que vêm da região do Sumaúma, Município do Amajari. “A dificuldade maior é a falta de boas estradas. Nem sempre conseguimos trazer os produtos até a feira”, disse o produtor, informando que ele mesmo produz e vende. “Por isso vendo mais barato”, disse.