Ao menos 18 estados brasileiros e o Distrito Federal vão começar o ano letivo de 2022 com aulas presenciais obrigatórias. O avanço da vacinação dos adultos e o início da imunização das crianças contra a covid-19 colaboraram para que mais governos liberassem a abertura das escolas da rede estadual.
De acordo com o calendário escolar de 2022, o início das aulas na rede estadual em Roraima está previsto para o dia 7 de fevereiro.
Levantamento feito pela reportagem com todos os estados mostra que apenas a Paraíba adotará ensino híbrido —com aulas remotas e presenciais. No Acre, o retorno presencial dependerá de autorização da autoridade sanitária.
Ainda não há definição sobre o modelo de aula (presencial, híbrido ou remoto) no Amapá, que retoma os trabalhos em 7 de março, e no Ceará, com volta prevista para 31 de janeiro.
À reportagem, quatro estados informaram que a decisão de aula presencial pode mudar em caso de agravamento da pandemia: Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. “Para manutenção do ensino 100% presencial, é necessário que a taxa de contaminação pela covid permaneça baixa. Caso haja aumento na ocupação dos leitos de covid-19, retomaremos o ensino híbrido”, disse o governo baiano.
No estado de São Paulo, as escolas reabrem no dia 2 de fevereiro com presença obrigatória. Pernambuco autorizou as aulas presenciais, mas os alunos não são obrigados a comparecer. Pará, Tocantins e Rondônia não responderam.
Protocolos de segurança e incentivo à vacinação
Antônio Lima Silva Neto, professor e pesquisador da Unifor (Universidade de Fortaleza) e coordenador da vigilância epidemiológica da Secretaria de Saúde de Fortaleza, avalia como acertada a decisão dos estados. “A gente estima que em meados de fevereiro a maioria dos estados alcance o pico de casos de covid-19 derivados da disseminação da ômicron”.
Com o retorno às aulas, Neto afirma que os estados devem continuar apoiando e incentivando a vacinação infantil contra covid-19. “Não acho que as escolas sejam o ambiente mais seguro, mas também não acredito que manter apenas as escolas fechadas irá diminuir a contaminação das crianças. Pelo contrário, esses espaços devem seguir protocolos ainda mais rígidos”, disse o pesquisador.
As decisões valem apenas para escolas da rede estadual. Cada prefeitura e escolas particulares têm autonomia para definir as regras adotadas.
Para a estudante Irene Fortini, de 15 anos, 2022 será diferente dos últimos dois anos de pandemia. Com dificuldades no ensino remoto, ela espera ter os últimos anos do ensino médio, na escola estadual Milton Rodrigues, na zona norte de São Paulo, em convívio presencial com professores e colegas.
“Meu maior medo é voltar a fechar tudo de novo. O ensino remoto me atrapalhou nos estudos, não conseguia aprender tudo e deixei de fazer minhas atividades extras, de lazer, porque ficava com medo de ficar atrasada [em relação ao conteúdo]”, disse a jovem.
O infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, afirma que, neste momento, retomar as aulas presenciais traz mais benefícios do que manter as escolas fechadas. “A discussão agora deve focar em medidas como o controle do ar, uso de máscaras eficientes, triagem de quem tem sintomas, testagem”, sugere o médico.
É exatamente nisso que os pais de Irene, segundo a estudante, ficam atentos. Eles só liberaram a filha para participar das aulas presenciais depois que a jovem tomou a primeira dose da vacina contra covid-19, em setembro do ano passado.
“Meu pai está sempre antenado nas notícias da pandemia e se eu não tivesse me imunizado, eles não deixariam eu retornar”, conta.
Reportagem do UOL apontou que seis capitais farão a exigência do comprovante de vacina, mas não vetarão matrícula na rede pública municipal. Em relação aos estados, cinco vão pedir o documento, mas também sem impedir o estudante de frequentar as aulas, segundo reportagem.
Perdas em aprendizagem
Assim como a estudante Irene, os três filhos da Aline Araújo enfrentaram desafios com o ensino remoto. A começar pela disponibilidade de equipamento para estudar. “Não temos computador e eles precisaram se dividir para usar meu celular. Um dos meus filhos é autista e precisava fazer as atividades das terapias também”, conta.
Ao longo de 2020, a dona de casa afirma que os desafios foram ainda maiores. Seus filhos faziam as atividades que a escola publicava no Facebook. No final do ano passado, eles passaram a ir todos os dias para escola em Maceió (AL).
Para este ano, Aline não tem muitas esperanças. “Estava até acreditando que as coisas seriam melhoras, mas aqui na cidade tem muita gente com covid ou com essa gripe”, conta.
Pensado nisso, Lucas Hoogerbrugge, líder de relações de relações governamentais do movimento Todos pela Educação, afirma que esse é o momento dos governos incentivarem a vacinação e do MEC (Ministério da Educação) conduzir a coordenação de um programa de retorno seguro às aulas.
“As famílias devem se sentir seguras com o retorno e acreditar que ele é possível. Elas deveriam ouvir o presidente da República apoiando a vacinação, por exemplo, não o contrário”, aponta o especialista.
Uma estratégia de busca ativa dos alunos e de permanência deveria ser o foco de todos os governos, segundo Hoogerbrugge. “Os alunos mais vulneráveis, pobres e negros, precisaram a abandonar os estudos para ajudar na renda, por exemplo”, explica.
Se a gente tivesse um MEC ideal esse era o momento de reconvocar estados e municípios, fazer um balanço, entender as condições, o que falta pra gente abrir com segurança e estruturar um programa de apoio, que envolva muitas dimensões.” Lucas Hoogerbrugge, líder de relações governamentais do Todos pela Educação.
A reportagem procurou a pasta para saber se o governo tem apoiado as redes estaduais e municipais para um retorno seguro, se pretende avaliar os impactos da pandemia na educação e estruturar algum projeto para mitigar os efeitos desse momento nos alunos, principalmente das escolas. O MEC não respondeu aos questionamentos.
Mesmo sem ações do governo federal, a recomendação entre especialistas da saúde e educação é um consenso. “Até o começo de março, o pior já vai ter passado e teremos um ano inteiro pela frente de crianças estudando nas escolas”, afirma Stanislau.
Fonte: Uol Notícias