Cotidiano

Mais de 100 pacientes ostomizados estão sem receber bolsas do Governo

A entrega das bolsas aos pacientes é mensal, mas desde março que o Hospital Coronel Mota não entrega mais nenhum tipo de material para os ostomizados

Não é de hoje que o Hospital Coronel Mota, localizado no Centro da Capital, é alvo severas críticas por parte de usuários do sistema público de saúde. As reclamações vão desde a demora de atendimento a falta de itens médicos. Cansada dos frequentes problemas na unidade, a policial civil Alessandra Jimenez dos Anjos, 44 anos, procurou à Folha para denunciar que há dois meses enfrenta dificuldades para conseguir bolsa de ostomia.

“Devido a um câncer de reto, eu que me submeti à cirurgia de ostomia definitiva em fevereiro desse ano, na cidade do Rio de Janeiro e quando retornei para Boa Vista, fomos meu marido e eu ao Hospital Coronel Mota, procurar me informar sobre o repasse das bolsas de ostomia, pois sabemos Governo do Estado tem por lei a obrigação de fornecer esse item, e para a nossa surpresa, fomos informados que a unidade não recebe abastecimento desse tipo de material desde o final do ano passado”, contou.

O procedimento de ostomia é realizado quando pacientes possuem algum tipo de problema no intestino, dificultando a saída de fezes e urina do corpo humano. De acordo com dos Anjos, no início de maio, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) teria dito que resolveria o problema dos pacientes, mas até o momento nada foi feito.

“Eu faço parte da Associação Roraimense de Ostomizados, onde pelo menos 110 pacientes passam pelo mesmo drama. Em maio, nós fomos até a Sesau para saber um posicionamento deles. Como o secretário não pôde nos receber, nós conversamos com o adjunto. Ele havia informado que o material estaria sendo reposto em três semanas, mas até o momento não houve mudança alguma”, disse.

Há casos ainda piores. A filha de um paciente que usa bolsas de ileostomia há quatro anos, Clara Reis, contou à reportagem que desde o mês de junho de 2014 que a família está sendo obrigada a desembolsar mensalmente aproximadamente R$ 440,00 para aquisição das bolsas para o paciente. O tipo de bolsa que ele usa, de uma só peça, está em falta desde junho do ano passado.

Segundo ela, desde que o pai fez a cirurgia e passou a usar as bolsas ela não se recorda de ter faltado o material por tanto tempo. “Independente de governo e partido político, me sinto incapaz com essa situação, que não temos apoio nenhum. Durante esses quatro anos que meu pai é ileostomizado, sempre faltou material, mas nunca desde jeito. Piorou em 2014, quando parou de ser fornecido o modelo adequado para ele. Espero que essa situação solucionada o quanto antes,  pois precisamos muito, uma vez que o uso diário e constante”, lamentou.
 
Com a indefinição do problema, a associação formalizou em junho uma denúncia no Ministério Público de Roraima (MPRR) relatando a situação no hospital e aguarda uma providência do órgão para evitar novamente que esse problema se agrave como aconteceu dessa vez.

GOVERNO
O Governo do Estado informou por meio de nota que o prazo de entrega do material médico-hospitalar, que inclui as bolsas de colostomia e foi adquirido por meio de compra emergencial, encerra no final deste mês.

Segundo o Governo, os prazos que encerraram no mês de junho eram referentes ao processo de compra emergencial de medicamentos. “Já as bolsas de colostomia, fazem parte do material médico-hospitalar, cujo prazo de entrega, conforme contrato vigente, só encerrará no próximo dia 31 de julho”, explicou a nota.

“Esclarecemos ainda que para a aquisição das bolsas de colostomia, duas empresas foram vencedoras, um fornecedor para o material adulto e um para o infantil. Embora o prazo de entrega não tenha encerrado, a Sesau recebeu como justificativa das empresas, para a demora na entrega, a greve da Suframa”, que terminou ontem (16).

O Governo explicou ainda em nota que se compromete “em manter o abastecimento de todas as unidades de saúde da Capital e do Interior, com a aquisição por meio de pregão eletrônico, mantendo sempre um acompanhamento das necessidades de cada unidade, mas em alguns casos podem ocorrer licitação deserta ou fracassada, ou mesmo falta de fornecedor, o que acarreta a demora na aquisição dos produtos”.